O Indie Hip Hop (que possuiu diversos nomes ao longo dos anos) foi um evento fundamental para a primeira geração underground do rap nacional
Esse período e esses artistas que fizeram parte dessa geração foram tão importantes e representativos em suas ações, que acabaram por criar seu próprio nicho dentro do Hip Hop brasileiro e escreveram páginas que ficaram eternizadas na história, como veremos.
Por se tratar do que muitos chamam de “O Lado B do Hip Hop”, não temos como precisar e nem afirmar com certeza qual foi o marco zero dessa guinada, pois, aspectos geográficos, culturais e outras singularidades foram decisivas para que cada nicho se desenvolvesse ao seu modo e tempo, e manifestações sobre essa nova estética Hip Hop já ocorria por todo o país.
Mas até para nos nortear e nos amarrar aos fatos de maneira cronológica, partiremos do ano de 1999, período em que o Rap Nacional já tinha revolucionado a música brasileira, o Racionais já havia lançado o disco mais emblemático do Hip Hop nacional, (Sobrevivendo no Inferno/ 1997), e um dos mais importantes da nossa música do final dos anos 90, trazendo consigo uma nova forma da indústria encarar a música Rap dentro do competitivo mercado fonográfico.
Parte dessa geração de desbravadores do que podemos chamar de primeira geração do underground do Rap Nacional, teve a benção e o apadrinhamento de um dos pilares do nosso Hip Hop, vanguardista do movimento desde a década anterior, mas nunca obsoleto e sempre antenado com a música mundial, o grande Thaíde, da lendária dupla Thaíde & DJ Hum.
Nomes hoje consagrados de nossa cena como Kamau, Max BO, SP Funk, Paulo Napoli, Mamelo Sound System e outros tantos tiveram no mestre Thaíde “carta preta” e o respaldo necessário para desbravarem no subsolo de nossa Cultura, chegando a criar um coletivo de rimadores underground, a lendária Academia Brasileira de Rimas, fundada um dia após o falecimento do famoso dramaturgo Dias Gomes, que era membro da Academia Brasileira de Letras – e desde então o mundo de possibilidades se ampliou e o nosso Hip Hop nunca mais foi o mesmo.
O Indie Hip Hop e a consolidação da cena alternativa
O *Indie Hip Hop, como foi batizada a primeira das 11 edições desse festival do underground nacional (*o evento sempre mudava de nome de acordo com seus organizadores, mas teve o “Indie Hip Hop” como nome oficial em 6 de suas 11 edições), além de ter sido um divisor de águas no Hip Hop nacional, serviu de referência e parâmetro qualitativo na realização de eventos desse porte, sim, era possível e o Hip Hop não merecia menos do que aquilo.
Com a necessidade de uma representatividade maior, também de serem vistos e escutados é que o Indie Hip Hop surgiu, dando vez e voz a essa talentosa safra de rappers que surgia em diversas partes do país.
Ainda que tenhamos no mês de novembro a celebração máxima de reivindicações e legitimação do orgulho e da negritude brasileira, historicamente falando, o mês de agosto também é, e sempre foi bastante representativo para comunidade negra no mundo e com o Hip Hop não poderia ser diferente.
Muitas manifestações da cultura em nosso país são celebradas nesse mês, e não por coincidência a edição inaugural dessa era do Hip Hop underground brasileiro (batizada de Dulôco 99), teve seu pontapé inicial exatamente nesse mês, voltemos para agosto de 1999.
O Indie Hip Hop e o Hutuz
Se por um lado e por 10 anos o Hutuz premiava os maiores nomes do Hip Hop nacional em quase todas as suas categorias, o que incluía também artistas revelação do rap de cada ano, porém, dificilmente artistas ou grupos alternativos figurava entre os indicados na glamourosa premiação do Hip Hop nacional.
E é nesse momento que surge o preenchimento dessa lacuna, o Indie Hip Hop, em que vimos desfilar importantes nomes nacionais como Thaíde e DJ Hum, Black Alien & Speed, Záfrica Brasil, Espião, Pentágono e monstros gringos do naipe de The Pharcyde, Pharone Monch, Mos Def, De La Soul, os pioneiríssimos na fusão Rap com Jazz, Jungle Brothers, Grand Master Flash, Bambaataa…
Passado 10 anos da realização do que ficou marcado como o último evento desse importante ciclo no Hip Hop, é certo afirmar que ele marcou definitivamente a história do Hip Hop nacional.
Do alternativo ao clássico, o Dulôco, Indie Hip Hop, Brasillintime, Boomshot (você pode dar qualquer um desses nomes ou até todos eles, se quiser), se configurou como o mais importante evento da América Latina na celebração da Cultura Hip Hop.
Bota fé, não…!? Pergunte a Quem Conhece…