Oganpazan
Mescalines, Mescalines Duo, Tigre Dente de Sabre

O clima instrumentown no Mundo Pensante – 14/11/2015

A música instrumental estabelece outro nível de conexão com o ouvinte. As notas substituem as palavras concretas e elencam o abstrato, tentando cumprir a dificíl tarefa de nos prover notas com moléculas de significado.

Isso realmente não se explica, e as pessoas evitam entrar nesse mundo, pois é mais complicado falar com o lado direito do cérebro. É raro, desconcertante e muito pessoal, observar quando um músico tenta passar sua visão de mundo sem falar ao menos uma palavra, é um senhor paradoxo. 

E é exatamente esse temperamento volátil que consegue decodificar nossos ouvidos quando o sentimento controla o ímpeto ousado das notas. É justamente no momento em que as palavras se fazem poucas para explanar uma ideia, que nós sentimos a importância da música instrumental em noites especiais.

Celebrações sonoras como o festival (instrumental only), que o Mundo Pensante transformou em sinônimo para o rico vocabulário instrumentown do Mescalines, Bombay Groovy, Tigre Dente de Sabre e Bmind. A cena paulista estava em peso!

Flyer: Vanessa Deborah

As 4 bandas envolvidas no line up eram bastante diferentes entre si. Creio que apenas o Bmind e o Tigre Dente de Sabre possuiam influências convergentes em virtude da música eletrônica presente nos 2 sons, mas a riqueza estética definitivamente foi um dos destaques dessa noite sem verbos.

E a primeira conjugação instrumental surgiu quando o Mescalines foi para o palco. O primeiro duo da noite se posicionou e logo de cara o clima de instrospecção sinérgica da dupla tomou o ambiente. Mariô e Jack Rubens pouco se falam quando estão tocando, mas aí é que está o lance, se o som é instrumental, a química também precisa ser livre de palavras, por isso que o Blues xamânico dos caras usa e abusa da telepatia em riff’s.

É como se fosse uma moeda de troca. O elo que sustenta o Jazz e Blues, que com esse ato, é apenas um corpo de ideias para invocar o ritual dos nômades do Sahara, enquanto o Blues justifica a espiritualidade que mostrar o caminho que nos tira do nada, e serve de guia para chegar ao lugar nenhum, libertando nossas mentes.

O set foi seco, na lata, sem frescuras. Um momento que foi a síntese dessa união, evidenciou uma banda no topo de seu jogo e mostrou que a música não possui limites quando existe a fusão de gêneros. Creio que foi um momento de ruptura bastante intenso e que antecedeu mais um belo show da Bombay Groovy.

Foi com um arsenal de peso que o trio fez um de seus shows mais completos. Bourganos mostrou que o sitar vai bem, obrigado, mas de fato, existem coisas que apenas uma guitarra fazem por você. Leonardo Nascimento administrou a jam com o costumeiro peso e elegância, enquanto Jimmy seguia alimentando as teclas com a fidalguia que apenas um Hammond  consegue instaurar.

O repertório foi bastante interessante também. Passamos pela emocionante ”Chakal”, a evolutiva ”Aurora” e contamos também com a participação de Erico Jônis no baixo, hippie cósmico que tratou de acrescentar um belo conjunto de notas graves na jam, além é claro, de evidenciar um fato: o Bombay funciona em qualquer formato.

Foi uma grande noite. O som começou relembrando as raízes do Blues/Jazz, chegou à fusão do oriente/ocidente com os termos psicodélicos da Bombay e sua música multiétnica, mas ainda faltava algo. Precisávamos  do conceito artístico do Tigre Dente de Sabre e sua imersão de músico erudita, experimentações eletrônicas e potentes sintetizadores.

A riqueza foi estonteante, a segunda dupla da noite foi responsável por seguir mostrando a evolução da música. Apresentando um show milimétricamente calculado. repleto de insights advindos da música clássica e com um sincronia fina entre o bass/sinth de Marcos Leite e a precisão da bateria de Gui Calzavara, acredito que as presas do tigre ficaram bem visíveis.

Foi um dos picos da madrugada. A platéia respondeu muito bem e foi interessante ver como a cozinha dos caras faz o público pulsar com essa estética única de ”Trance clássico”. Foi uma experiência e tanto, mas ainda faltava algo, a música instrumental só estaria completa e encerraria seu ciclo, depois que o Bmind mostrasse com quantas desconstruções é possível remontar a sua realidade.

Com a cozinha mais eletrônica da noite, o Bmind mostra como a música, seja ela qual for, consegue absorver resquícios de modernidade. A fusão de beats eletrônicos, passagens ambientes e takes analógicos, conseguiram deixar a live session de Jaime Bmind e do trompetista Roger Brito, bastante orgânica.

A participação de Brito foi bastante significativa. Seus insights nos metais blindavam as músicas com muita classe e feeling, trabalhando com camadas longas e cristalinas de uma maneira bastante peculiar. Inclusive, essa foi a conexão que conseguiu mensurar a profundidade de uma inventiva cozinha, concluindo uma viagem que cumpre a difícil tarefa de unir o Techno, seu comparsa Minimal e a linha Spiritual no mesmo shot de realidade.

Boogie on Reggae woman:

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