Vandal, Moa Vênus, KBÇÃO, Sangue Real e mais, numa saraivada de lançamentos no Rap Baiano 

Vandal, Moa Vênus, KBÇÃO, Sangue Real e mais, numa saraivada de lançamentos no Rap Baiano em vários formatos e sonoridades!

Rap Baiano, cultura hip hop na Bahia é sinônimo de resistência. 2020 ano do Covid-19, ano da peste, suspensão das atividades, cancelamento de shows e festivais, foi apenas mais um dos golpes que esses artistas enfrentam no dia a dia. Há uma impossibilidade de se manter parado, de se manter isolado, de conseguir estar a salvo, que talvez transcenda esse estado pandêmico.

Para quem precisa ganhar a vida e não apenas com a arte, a rua se impõe e nesse sentido os lançamentos seguem sendo feitos em diversos registros. O rap baiano, cenário de artistas que estão entre os mais criativos e combativos do país, segue entrincheirados na pista e não baixa a cabeça. Lançamentos por todo o estado começam a chegar até nós do Oganpazan e como sempre fazemos, aqui vai uma selecta em alto nível.

Vale referenciar aqui a diversidade de sonoridades apresentadas ao longo dos lançamentos, que vão do Trap ao boombap, com flertes no sambaduro e no funk carioca, que passeiam por temas mais combativos mas também abarcam outros aspectos da existência. Isso é a força do rap baiano, não se render às modas, “não buscar o som do momento, mas fazer dos momentos, sons”.

Sem mais delongas, confiram abaixo a saraivada de lançamentos do rap baiano. 

Vandal (Salvador)

Hoje Vandal pode ser considerado o ponta de lança da cena, por sua originalidade, por sua caminhada, pela força de seus posicionamentos. Isso não significa que estamos elencando o artista como o melhor rapper da cena local, isso é bobagem e ele sabe muito bem disso. São lançamentos como esse último: MIMIMIH Remix, que o fazem despontar sempre como alguém que eleva o nível da cena, fortalecendo-a.

A faixa em questão lançada há dois anos, fazendo parte de um pack junto a HEADSHOTH e TIRASUAPAZH, foi retrabalhada com muito primor por outros dois artistas que remixaram a música e a capa: Lord Breu e Vulgo Junior, respectivamente. Importante registrar que a parceria entre Lord Breu e o Vandal além de já ter sido cantada em letra e música: “Tipo um Lord no Breu”, também marcou um importante capítulo da música baiana, leia aqui.

Com beat e capa orginalmente concebidos por Portugal e Phodismo, o processo completo de remix, agora nos apresenta um Vandal que pode tranquilamente participar do próximo samba junino, conquistando corações em mente, cortesia do grande DJ e Produtor Lord Breu. Escute sem restrições.

Moa Vênus (Ilhéus)

Rapper do sul da Bahia, Moa Vênus vem se estabelencendo com um trabalho bastante sólido no rap baiano, soltando uma série de EP’s  pesados: Parto (2019) e Aborto (2020), onde através de uma visão política sobre o corpo e a existência feminina, ela aborda os diversos problemas sociais, que todos nós encaramos, ou dos quais somos vitimas. Além de feats e de singles, a MC agora começa a soltar singles de seu próximo EP que vem para fechar a trilogia: Criação (2020).

A faixa “Irracionais” (prod.Lukashorus) foi a primeira a sair em formato de single e logo após ganhou uma versão em vídeoperformance pela Trópica Produtora. Agora foi a vez da faixa “Conto do Vigário” receber um vídeo na mesma pegada e descortinar a ideia de que o fascista é um mito, e que todas as nossas mazelas estariam sendo curadas por essa deidade. A lírica pesada da Moa Vênus deixa escuro tudo aquilo que está sendo executado com os maiores requintes de crueldade, pela vigarice que muitos dos nossos abraçaram. Pega a visão…    

KBÇÃO (Salvador)

A renovação de quem nunca cai, nem na qualidade, nem no compromisso, KBÇÃO é um das referências do rap baiano, com mais de 14 anos de carreira, tendo feito parte de importantes grupos como Cotidiano Suicída e DaRua. Com o consistente disco Várias Queixas (2016), que tivemos a honra de escrever sobre, o rapper e MC baiano segue agora, com uma saraivada de single, sua carreira sem parar no tempo.

O lançamento de “Fiz Ezze Rep” apresenta um MC versátil que não engravidou pelo ouvido com a falsa ideia que muitos antigos tem do que seja o verdadeiro Rap, antes disso KBÇÃO entendeu que só existe o verdadeiro MC. Sendo assim, Drão em sua participação cola como aliado da nova escola baiana, e as participações dos dançarina Gleyce Manu e do Daniel abrilhantando o clipe dirigido por MaicoMax, mostra-nos o quanto a juventude tem muito a oferecer.

No entanto, o videoclipe editado e finalizado pela FS Filmes mostra que o cenário é o mesmo de décadas atrás, quando KBÇÃO começou no rap. O Calabetão é o cenário e a experiência do MC nos apresenta uma faixa muito interessante e que atrai nossa atenção sobre os próximos lançamentos. NUNKA KAI!  

Sangue Real (Alagoinhas)

A importância em comunicar do melhor modo sua arte deveria ser a preocupação principal de qualquer artista. A preocupação em absorver e incorporar em sua arte as técnicas mais avançadas muitas vezes é desprezada por muitos “militantes do hiphop”, fazendo com que idéias quentes se transformem em uma música que nas ruas poderiamos chamar de: bufas frias. Não pelo conteúdo, mas pela forma em que se escolhe comunicar esse mesmo conteúdo.

O grupo de Alagoinhas: Sangue Real, segue numa caminhada onde a busca por se tornar artistas relevantes e não viver de “história” já conta mais de 10 anos. Mantendo a postura, aprimorando as ideias e ao mesmo tempo correndo para apresentar trabalhos com muita qualidade, o Sangue Real soltou o excelente clipe: Favela não Morre (2020). Os caras já tem dois discos lançados, Ataque Terrorista (2012) e Pela Paz Que Narramos a Guerra (2018), e seguem firmes, se aprimorando cada vez mais.

Com direção e excelente roteiro de Antônio Kamani, Adriel Bicho Solto e MC Mamah, mostram que não se rendem a falsas divisões e que o rap é a útima palavra. A mensagem e o resgate estão aqui – e deveriam estar sempre – de acordo com uma forma que transmitam a potência desse Sangue Real que compõem com bastante qualidade a história do rap baiano. Veja repetidamente, e aprenda!

B.I.G Carter (Salvador)

Salvador é resistência, originalidade e também avanço. O jovem trapper B.I.G. Carter faz parte de uma nova geração que capitaneia os lançamentos dentro da estética do Trap com muita originalidade e qualidade. Dominando os meios de expressão desse subgenêro do rap hoje tão em voga, esse jovem valor da cena precisa ser melhor observado, porquem realmente gosta de música, pois isso ele faz bem demais.

O clipe de Sr. e Sra. Smith é um show visual, tudo é muito bonito e bem pensado, as linhas de B.I.G. Carter trabalham dentro do imaginário comum da rapaziada do Trap. Ele não se propõe como um mero reprodutor de clichês ou pastiche do subgênero, imprimindo nos singles que tem lançado qualidades que são só suas. Participante da Phantom Mob, esse mano tem conseguido excelentes resultados numéricos e estéticos.

Crime e Amor, busca por dignidade… O beat é do monstrinho Baratapai com quem tenho me batido em produções do Trap ao rap mais underground, o clipe é cortesia da direção do Jovem Blvck e com o roteiro do próprio B.I.G. Carter, com mix, master e captação do mano King Daka! Assista e não irá se arrepender…  

-Vandal, Moa Vênus, KBÇÃO, Sangue Real e mais, numa saraivada de lançamentos no Rap Baiano

Por Danilo Cruz