Nebula está irretocável em Holy Shit (2019), sexto album dos californianos chega após 10 anos de hiato, e mantém o estilo: porrada e lisergia
O disco novo de uma das bandas mais importantes da história do Stoner Rock, a caligorniana Nebula não decepciona em nada. Depois de um longo hiato de mais ou menos 10 anos, o caras chegam agora com o sexto disco de carreira Holy Shit (2019), mantendo aquele mix de gêneros que lhes consagrou entre os adoradores do rock pesadamente chapado. Uma mistura que nos trazem sempre lembraças de Blue Cheer, Stooges, Mudhoney com material de influência, mas que dada a dosagem sempre criativa usada pelos caras, carrega sua própria assinatura.
Banda pouco conhecida no Brasil, o Nebula é para muitos uma representate dos primeiros momentos do Desert Rock ou como ficou mundialmente conhecido depois Stoner Rock. Contando com o powertrio inicial, formado por Eddie Glass (guitarra), Rubem Romano (bateria) ex-Fu Manchu e o baixista Mark Abshire, recrutado pelos primeiros, a banda lançou alguns EP’s antes de lançar To The Center (1999), seu primeiro album solo, do que se seguiu o estupendo Charged (2001) A formação inicial durou até mais ou menos o terceiro disco dos caras: Atomic Ritual (2003).
Com a saída de Rubem Romano, Eddie Glass assume o comando das operações e lança Apollo (2006) e aquele que parecia marcar o fim da banda o Heavy Psych (2008), onde já contava com o Tom Davies assumindo o baixo nos créditos. O Stoner rock é um sub gênero do rock que se notabilizou por misturar influências diversas entre o peso e a lisergia, indo do Doom metal até a psicodelia e abarcando todo um leque que passa por space, psych, heavy, hard rocks. Dentro dessa linha de entendimento, vemos o Nebula como uma das bandas mais interessantes, ao conseguir unir velocidade e chapação em seus riffs, impressões que veem do grunge no andamento de algumas canções, violões sixties em outras e ainda beber ao longo de sua trajetória no blues rock em certos momentos.
Para a felicidade daqueles que acompanham a banda desde seus inicios, ver os caras voltarem a ativa já é uma noticia excelente, vermos voltarem a ativa com Holy Shit (2019), é para a igreja louvar batendo cabeça. Eddie Glass segue nas guitarras, com Tom Davies no baixo e recrutaram o excelente baterista Mike Amster para essa nova empreitada. O disco saiu em junho deste ano, mas infelizmente somente na última semana tomamos conhecimento disso e obviamente a corrida para o soulseek foi imediata. Os caras soltaram também o videoclipe da faixa título, uma ode pesada ao gosto e em homenagem a papai (Lúcifer): “Man’s Best Friend” é um daqueles petardos que fazem o Nebula ser inconfundível.
No videoclipe que une apresentações ao vivo dos caras com imagens de filmes e de uma liderança satanista americana dos anos 60, poderíamos ver algo chinfrin e ultrapassado. No entanto, nada mais atual vindo do Nebula e do país que teve recentemente a fundação do Templo Santânico, uma organização que usa da provocação e da imagem que o senso comum possui do satanismo, para promover diversas ações contra o crescimento de um espírito Teocrático nas administrações americanas.
Se você se interessou pelo assunto, recomendamos a que vejam o documentário Heil Satan! (2019) dirigido pela cineasta Penny Lane, e premiado no último festival de Sundance. Voltando ao disco, Holy Shit (2019) possui nove faixas e ao longo do disco, somos levados para o mundo Nebuoso, onde o contato com a cosmicidade musical produzida pelos caras, varia em acelerações, quebras de ritmo, lentidões viajantes e toda a mística musical que os caras vem desenvolvendo ao longo desses anos.
A faixa seguinte “Messiah” segue aquele cadenciamento chapado no inicio, com o riff em primeiro plano, para na sequência ganhar um balanço onde o Amster começa a mostrar suas garras nas viradas, e na condução do kit de bateria, enquanto Davies segura um linha de baixo semi grooventa de primeira. “Its All Over” com seu andamento todo quebrado e sua construção progressiva para atingir um certo ápice no refrão e ao final não empolga como é costume, sua construção é um tanto confusa, mas ok.
A hora da bruxaria (“Witching Hour”) retoma o pique que nós nos acostumamos a curtir, aqui não é dificil perceber uma banda azeitada e consciente de qual é o seu papel inventivo. Os riff variando, a cozinha entrosada, marcação marcial, seguida de viagens psicodélicas e sim, ecce Nebula. Eddie Glass sola no final com bastante qualidade. E na sequência os caras conseguiram meter uma faixa surfmusci – uma excelente surpresa – na curtinha “Fistful Of Pills”.
A longa e sabbathiana “Tomorow Never Comes”, é aula de punch, variação de climas, com inserção de um violãozinho faceiro, heavy lisergic dreams, como sempre foram os discos da banda. A influência grunge aparece na mudhoneyana “Gates Of Eden”, seguida de “Let’s Get Lost” e finalizando os trabalhos com a melancólica “The Cry Of A Tortured World”.
Curioso que o disco começa com a exaltação do demônio, aqui entendido como daemon, aquele que como dizia o bom e velho Raul Seixas, é o pai do rock por sempre nos instigar na trilha da liberdade, da subversão de ordem opressoras, e certamente o Nebula sente isso na pele, num país como os EUA. O termino com uma canção de forte acento melancólico expressão o choro de um mundo torturado, é o fechamento perfeito pois realista.
A visão que o mundo nos transmite hoje não é nada consoladora, as perspectivas de futuro são catastroficas e não há saída a vista. O rock é uma potência capaz de se opor a esse estado de coisas, mesmo que não seja engajado a primeira vista. O Nebula nos honra com um disco digno, de uma carreira também bastante digna e nos resta apenas desejar que os caras sigam conseguindo levar a tocha do bom e velho rock’n roll a frente.