Entrevista com Jah Leo do Selo Rockerstime e o novo lançamento do Buguinha Dub.

Jah Leo é o CEO da Rockerstime e recentemente lançou o novo disco do mestre Buguinha Dub, além de vários outros trampos!

Jah Leo
Jah Leo – Rockerstime – Leão Conquistador (por Wendel Luan)

Conheci o Jah Leo por conta da lojinha física massa que ele mantinha no centro do Recife, na Boa Vista. O papo fluiu e ele até apoiou um evento enorme do hominis na Torre Malakoff dentro do dia da música em 2016 (tem vários vídeos no canal do Hominis Canidae no Youtube). Na época, ele me falou sobre os planos de montar um sound system e fazer festas em Recife e até comentamos sobre a criação de um selo, já que a Subcultura era uma loja que vendia vinis (e outras coisas).

Agora, ele manda uma ideia pra mim falando do RockersTime, selo que ele criou e vem lançando alguns trabalhos interessantes com nomes do reggae brasileiro, nordestino e até do além mar. Ele acaba de lançar pelo selo o novo álbum do renomado produtor pernambucano Buguinha Dub. Das Olindas pro mundo, Buguinha e o selo RockersTime apresentam “Aduba Duba Dub”, quarto álbum da carreira do produtor, que foi pensado e produzido junto com Jah Leo.

O álbum tem 10 faixas, várias participações de peso do reggae/dub brasileiro, mundial e nordestino. Já tá em todos os streamings, então resolvi bater um papo com Leo sobre o selo, sobre os projetos, sobre como ele está vendo o momento do reggae e sobre esse baita novo álbum que ele lançou do Buguinha.


Acompanhe os lançamentos da Rockers Time pelo Bandcamp e aproveita pra ler o papo aqui no Oganpazan:

Qual o objetivo do Selo Rockers Time?

Jah Leo – Para falar do objetivo do selo eu preciso antes lembrar como começou meu amor pela música. Sou cria do Manguebeat. Nos anos 90, enquanto criança, eu costumava revezar entre desenhos animados e a coleção de CD’s do meu pai, que eventualmente foi sendo nossa. Além disso, mesmo com a pouca idade, meu pai sempre me levava nos shows que rolavam no Abril pro Rock, Rock na Praça em Olinda.

Eu cresci com a música daqui e Chico Science & Nação Zumbi era a grande referência. Então, conectando os pontos hoje, acho que o selo RockersTime nasce entre um mix de “Cidadão do Mundo” com “Pernambuco embaixo dos pés e a mente na imensidão”.

O objetivo do selo é lançar música reggae a partir de Recife, com uma conexão sempre mundial, seja de qual parte for. A internet nos faz chegar em todos os cantos do mundo sem precisar se deslocar e sempre me utilizei dessa vantagem para atuar nos projetos musicais.

Nos três primeiros lançamentos, tive o prazer de colocar no mercado a estreia de três cantores fenomenais: Joydan (Lisboa, Portugal), Natto (Porto, Portugal) e Frank Luz, (Fortaleza, CE). Os três eu conheci pela internet, cheguei pra trocar uma ideia e o business fluiu. A ideia de estar conectado a partir de Recife e mostrar que é possível vem daí.

A partir disso, com a conexão com Buguinha e os músicos fenomenais que temos aqui pela região, comecei a sentir a necessidade de mostrar pro mundo que conseguimos também produzir e gravar por aqui, conectando esses riddims com cantores nacionais e internacionais.

Como você enxerga o cenário do Reggae na música nordestina e nacional no momento?

Jah Leo – O fortalecimento da Cultura Sound System tem fomentado o reggae no Brasil inteiro. Cada cidade no seu ritmo. São Paulo é a referência dos acontecimentos e isso reverbera por todo o Brasil.

Temos cada vez mais sistemas de som, produtores, cantores, bandas e artistas. Isso aumenta a demanda por produções autorais, mas ainda é um mercado muito independente e isso dificulta um pouco passos maiores.

Contudo, os projetos têm subido de nível. Acho que o lançamento do “Aduba Duba Dub” é um marco nessa questão de produção de sons, por exemplo. O pessoal no Ceará também tem um circuito de eventos muito forte. Nem se fala de São Paulo, com seus eventos semanais. O desafio é ficar cada vez mais profissional, mas tudo isso é um processo.

Como eu digo, está se fortalecendo mas tudo no seu tempo. Não podemos deixar de trabalhar. Então, a forma de fazer o reggae é como vem sendo feito sempre, na persistência por amor à arte.

Ainda hoje em dia, artistas lendários do reggae têm que ter um sidejob para dar conta das demandas da vida. Mas a música sempre ao lado. Então, é assim que devemos fazer também.

Você ainda se dedica a cultura de sound system e como anda esse nicho das festas reggaes por Recife e região?

Jah Leo – A dedicação é constante. A cultura é bem mais ampla que os sistemas de som em si, apesar de este ser o seu fim. Com o mundo digital, um sound system pode se manter ativo enquanto não encontra espaço para fazer sua residência de bailes.

Essa é a minha maior dificuldade. Encontrar espaços para fazer os bailes. Antes da pandemia conseguimos um espaço legal que se chamava Marcolino, ali no Espinheiro. Mas, infelizmente esse local fechou.

Depois da pandemia fizemos eventos esporádicos, mas o trabalho não parou. Estamos produzindo, continuo comprando e vendendo discos na Subcultura. 

Na melhor hora surgirá uma outra chance para fazer uma sessão.

Quem é mais Jamaica: Candeias ou Olinda (ou empate técnico) e por que?

Jah Leo – Empate técnico, literalmente. Esse disco foi pensado no estúdio de Thiago Brandão (Quarto Astral), foi lá que gravamos as demos. Depois, gravamos ele todo em Olinda, no Mundo Novo, estúdio de Buguinha. 

Na real, eu diria que Pernambuco é Jamaica.

Jah Leo
Buguinha Dub, Jah Leo e o Yorujah (Por Wendel Luan)

Como foi o processo de escolha e formação da Yorujah?!

Jah Leo – Com essas loucuras pelo reggae, tive a oportunidade de conhecer a música local em algumas cidades. Isso me fez acreditar que temos artistas fenomenais espalhados pelo Brasil, mas Recife, Olinda e região não fica pra trás.

Então, senti que eu poderia produzir em alto nível a partir daqui. A conexão com Buguinha Dub ajudou a tornar o sonho real. Daí, com essa possibilidade, eu já tinha em mente os músicos que eu gostaria de contar num projeto como esse.


Todos eles contribuíram muito com o reggae local e tiveram projetos muito bem reconhecidos por aqui. Ewerson Selector é fundador do Vietcong Promotion e foi ele que me introduziu na cultura dos sistemas de som. Pra mim, um dos melhores bateristas que eu vi na vida.

Erick Amorim, eu conheço desde os tempos de The Reggae Band e Caravana do Reggae. Quem conhece, sabe o quanto Erick manda bem nas teclas. A Caravana do Reggae foi uma banda recifense que teve uma das maiores bases de fãs dos últimos tempos.

Dudu Lemos, o guitarrista, é amigo de longa data. Ele fazia composições para Caranava do Reggae e Mikahreggae. Dudu é um dos músicos mais criativos que conheci. Eu não poderia deixar de fora.

João Falcão é um excelente baixista e chegou para a Bantus Reggae num momento crucial. Nos conhecemos no ensaio da banda, as ideias sempre fluíram muito bem entre nós dois. Como João é também um compositor bem experiente, eu não tinha dúvidas que ele seria de extrema importância pro nosso trabalho em estúdio.

Por fim, Samuel Negão é um excelente percussionista e bastante ativo por aqui. Então, como ele também curte muito reggae e sua disponibilidade foi imediata, para nós foi um prazer enorme integrá-lo ao projeto.

Isso foi uma seleção de anos. Antes de conseguir executar, sempre emanei essas ideias e ao longo do tempo essas 5 pessoas sempre se mostraram dispostas a encarar o desafio.

Como foi todo o processo de produção do novo álbum do Buguinha? Seja na parte musical como na parte burocrática do rolê?

Jah Leo – Na parte musical, marquei um primeiro encontro com a banda formada por bateria, baixo, teclado e guitarra. Ewerson, Dudu, Erick e João se entenderam tão bem que criaram 10 riddims em uma tarde/noite.

Esses riddims foram a base para o single do Thorpido. o EP com Nabby Clifford e Guux e o álbum “Aduba Duba Dub”. Se você somar esses projetos, vai ver que tem 10 riddims ali. Os músicos criaram os riddims, e como gravamos com Buguinha, ele já deu aquela influência monstra nos timbres e, por consequência, a mix do projeto. Obviamente, Buguinha também masterizou.

As vozes foram gravadas assincronamente. Então, todos os agentes musicais desses projetos tiveram muita liberdade na sua contribuição. O trabalho fluiu muito bem. Tivemos pouquíssimos recalls porque o trabalho foi sendo construído e sempre agradou a todo mundo envolvido.

Na parte burocrática, fui eu quem cuidou de tudo. Organizei as datas, me conectei com os vocais, exceto para a faixa “Olhem o Mar” que é uma criação de Buguinha, e centralizei as informações. Também fiz todos os registros, cuidei da distribuição e corri atrás de assessoria.

Contribui na criação com o título do álbum, briefing de capa, ordem das músicas. A galera confiou em mim e eu que montei este produto “Aduba Duba Dub”.

Os convites são nomes que já tem trabalhos e parcerias com você e com o selo. Outros, são contatos do Buguinha ou tá tudo misturado?

Jah Leo – Isso fluiu bem naturalmente. Eu acionei diversos parceiros que sempre mostraram interesse em trabalhar conosco. Mas as correrias da vida é quem dita os caminhos. Alguns já sentem ali na hora que escuta um bounce.

Por exemplo, eu me lembro que assim que gravamos umas demos com meu gravador Tascam, eu compartilhei com o Natto e em alguns minutos ele respondeu cantando em um áudio onde ele captou uma caixinha e sua voz, enviando uma mensagem de voz pelo facebook. A vibe rolou ali na hora e foi tão boa que já sabíamos que iríamos gravar o som. Bastava apenas sair o bounce inicial da sessão com o Buguinha.

Então, nesse processo, fomos conversando com bastante gente e foi acontecendo. O Luiz de Assis é um grande amigo que pude fazer e quando ele soube que Buguinha estava envolvido também, logo viu que era family things, coisa de família, não tinha como não ser.

O Red Lion aconteceu na oportunidade que ele ia passar pelo Recife. Ele deu sorte de estar aqui no final de semana que tivemos um baile do Leão Conquistador e no dia seguinte a gravina em Buguinha. Dai, assim que acordamos no dia a gravina, eu mostrei pra ele os bounces que tinha do meu Tascam.

Pensamos também na Marina Peralta que é uma grande referência e Buguinha disse que tinha curtido muito o disco dela que se chama “Agradece” e ele masterizou. Então, acionei a Marina com a benção de Buguinha e tudo fluiu bem. Foi um prazer trabalhar com ela.

Daí tem a ilustração do Daniel Juca, que é um amigo que eu fiz quando ele passou aqui pelo Recife. Na época ele fez uma sessão com a gente no Vietcong Promotion Sound System. Desde então, o contato sempre existiu e ele sempre se mostrou muito aberto a estar no projeto.

O que define nossas conexões é sempre a boa vontade. Acionamos as pessoas e deixamos fluir naturalmente. Como eu disse antes, às vezes tem muita correria da vida que impede você de contribuir naquele determinado momento, mas o que prevalece será sempre a boa vontade, respeito e consideração. Pois tudo é apenas um momento. No meio do percurso, os planos às vezes mudam e está tudo bem.

Sobre a Yorujah, a ideia é a banda existir em estúdio construindo riddims para lançamentos do selo?

Jah Leo – No início do projeto a banda foi batizada de RockersTime All Stars. Lançamos o single com o jamaicano Thorpido e o EP com Nabby Clifford e Guux. Daí, estávamos achando tão bom, que, certo dia, Buguinha disse: “essa banda tem que ser fixa. Tá muito boa e temos que dar um nome pra ela”.


Então, decidimos firmar a banda para produzir e tocar cada vez mais. Claro que sempre teremos os amigos parceiros, pois aqui no Recife e região tem muito músico bom. Mas esta formação do primeiro disco será a base sempre que possível.

Já estamos produzindo mais músicas. Temos dois novos riddims e em breve vem mais, pois temos umas 30 demos que foram gravadas no meu Tascam. 

Como você tem percebido os movimentos e a inovação, seja de público, quanto de banda/ artistas no reggae nacional pós pandemia?

Jah Leo – Eu tenho percebido com muitos bons olhos. O que falta é o reggae furar a bolha. Me pego pensando o que precisamos fazer para ser observado como música brasileira, mesmo com uma referência mundial.

Porque temos trabalhos fenomenais no Brasil. Artistas magníficos, produzindo música com conteúdo de altíssima qualidade. Seja som consciente ou para a pista, temos muito talento.

Então, de inovação, estamos muito bem. Bandas como GrooVI, cantores como Monkey Jhayam, a própria Marina Peralta, as clássicas Mato Seco e Ponto de Equilíbrio.

A pandemia deu uma quebra, mas as coisas estão voltando a acontecer. Contudo, como em grande maioria é um movimento extremamente independente, acabando dependendo muito de como vai a economia no Brasil.

Existe um projeto de vinil dos trabalhos da Rockers e desse álbum do Buguinha?

Jah Leo – Sim. Na realidade, antes da pandemia iríamos lançar um disco especial 10 polegadas do single “Soldier” com o Thorpido. O disco está pronto e em breve vamos anunciar. Como estava muito focado neste lançamento, vamos aguardar para fazer esse lançamento.

Agora, com o lançamento do “Aduba Duba Dub” e esse período de divulgação do trabalho, estamos vendo possibilidades para prensar o álbum em LP. Não sabemos em quanto tempo vamos conseguir lançar este disco, mas é um objetivo que vamos trabalhar para conseguir o mais rápido possível.


Vamos tentar editais, parcerias ou até mesmo investimento integral nosso. Espero que cedo ou tarde aconteça.

Fala sobre a dinâmica para shows ao vivo e festas da banda, do buguinha e do selo.

Jah Leo – Então, após esse lançamento, estamos pra jogo. Buguinha Dub & Yorujah está totalmente preparada para fazer shows de live dub e com artistas convidados também para showcase.

Outra possibilidade é o baile com o Leão Conquistador onde buguinha traz o live dub sem a banda. Mas, daremos sempre prioridade para estar em banda.

Nosso objetivo é conseguir prensar os discos e conseguir shows. Interessados, é só entrar em contato com rockerstimenow@gmail.com.

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-Entrevista com Jah Leo do Selo RockersTime e o novo lançamento do Buguinha Dub.

Por Diego Pessoa (Hominis Canidae)

 

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