Murilo Sá & Grande Elenco – Sentido Centro

A música não começa necessariamente por algum fragmento tocado. Um dos grandes baratos sobre essa sonora paixão é que ela começa bem antes de alguém emitir qualquer nota, ela tem início inconscientemente, dentro das influências de cada um de nós. 
Nunca peguei um violão ou uma guitarra, aliás se fosse escolher um instrumento este seria o baixo, mas continuando. Supondo que pegue um quatro cordas, mesmo não sabendo nem como afinar o grave, tenho noção de que tipo de som gostaria de buscar e, isso se deve, aos belos sons que formaram minhas faculdades auditivas.
É um negócio muito louco e para quem gosta de música o mais bacana é apertar play e ficar dissecando o que existe por trás… E o melhor é quando temos diversas influências, no fim das contas uma coisa é sempre notada: um disco possui uma determinada sonoridade, mas o todo foi feito muitos antes das notas serem gravadas. E essa ideia fica melhor ilustrada se o Murilo Sá & Grande Elenco toma conta do play – ”Sentido Centro”, o debut do menino da terra do ”Toca Raul” (lançado dia 21 de outubro de 2014), é um debutante caprichado.

Line Up:

Murilo Sá (guitarra/violão/vocal/baixo/bateria/piano/percussão/órgão)

Gabriel Guedes (guitarra)
Pedro Falcão (bateria)
Felipe Faraco (baixo)
Rodrigo Bourganos (sitar)
Pedro Pastoriz (guitarra)
André Meneguetti (flauta/violino)
Tomas Oliveira (piano/órgão)
Rodrigo Fonseca (violão/guitarra)
Rob Ashtoffen (saxofone)
Reinaldo Destemido (trompete)

Track List:
”Dois Mundos”
”Sentido Centro”
”Elevador Panorâmico”
”Nenhum Grande Herói”
”Está Tudo Bem (It’s Okay)”
”Dias e Noites”
”Eis Que Eu Tento Me Entreter”
”Chalé 25”
”Melhor Viver”
”Muros”
”Rio Vermelho”
”Nem é Sempre Que É assim”
”Aquela Estrada É Meu Lugar”

Este trabalho começou a ser concebido quando o R&B dos anos 50 começou a ficar eletrificado e dançante, depois, algumas décadas futurísticas, com o nascimento do Murilo Sá, este som foi maturado com essas influências, temperado com invasão britânica, um quê de Rock nacional, talvez algumas hardeiras com pedigree swingado e doses de Folk… Isso foi o que eu pesquei, não é um sistema à prova de falhas, mas creio que o essencial foi citado, mais que isso só em uma entrevista com o compositor.
O quesito influências já passou, porém quando a música começou a de fato ser gravada, sua data é bem atual, chega de máquina do tempo para os primórdios do Rock, uma das grandes qualidades deste Grande Elenco é a prudência em ter DNA clássico e remeter isso para um futuro, que ao ser escutado faz o que a música atual deve fazer: atualizar o hardware dos sons para novos públicos, e ele não só faz isso, como ainda mantém conexão bluetooth com quem gosta de old school.
”Sentido Centro” é um irmão de outra mãe, do ”Promo Ep”, a entrada-aperitivo que antecedeu ente trabalho. Na realidade o ”Promo EP” é uma aglutinação deste disco, já que tudo que está presente no mesmo, se repete no debut, só que com efeitos muito mais duradouros.
No EP foram 4 faixas, no disco são 14 e no todo o entendimento musical é muito mais prazeroso. Gostei muito do conteúdo das letras e da mixagem do trabalho, é realmente singular pegar a ficha técnica de algum disco e ver que tudo que está listado na mesma entrou pelo seus ouvidos sem ter que realmente ”procurar” pelo instrumento.

O trabalho ala multi instrumentista do Murilo é outro fator diferenciado, temos uma amostra de sua destreza multifacetada e de sua criatividade. As letras levam o ouvinte a uma identificação imediata, até o lance da capa acabou me impactando, lembrei da parede das estações de metrô, e as palavras de Murilo começam o disco apoiando essa loucura diárias que nós vivemos nas grandes capitais.

A primeira metade do disco se mostra enquadrada nisso, a outra larga a mão e fala da vida, da beleza de fatos que passam rápido e você não presta a devida atenção, ”Dois Mundos” destaca como estou sempre atrasado para tudo nessa vida, ”Sentido Centro” apoia as distâncias que percorremos diariamente para concretizar os atrasos, ”Elevador Panorâmico” pode ser visto como o background disso tudo e ”Nenhum Grande Herói” lhe faz questionar o motivo de nos mantermos neste estado, fora ”Está Tudo Bem (It’s Okay)” que além de mesclar a língua mãe com tecos de English tenta acalmar o sentimentalismo em frangalhos e ”Dias e Noites”, jam que apoia essa confusão 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Daí pra frente os assuntos variam e é falando do abstrato, exaltando a liberdade que temos outros grandes momentos, sendo que o mais interessante é que a abordagem sonora não muda, a cozinha segue bem presente e segura o ”caldeirão”, incrementado até com naipe de metais. 
Perceba que o próprio Murilo quer sair dessa e ”Eis Que Eu Tento Me Entreter”, foge para o ”Chalé 25”, aproveita a vida com ”Melhor Viver”, pula ”Muros” e surfa no ”Rio Vermelho”, mas ”Nem é Sempre Que É assim”, porém no fim a moral da história é contundente, a loucura faz parte do ser humano, a pressa é o gás de nossa existência e ”Aquela Estrada É Meu Lugar”.

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