Manger Cadavre? lançou seu terceiro álbum, Imperialismo

Manger Cadavre? lançou, no primeiro semestre de 2023, Imperialismo, seu terceiro álbum, mantendo a intensidade e a potência na sonoridade e no discurso político.

Antes do álbum, falemos do show

Pouco depois do lançamento de Imperialismo, a Manger Cadavre? veio de role pro Nordeste. Isso já faz um tempo, mas eu baseio minha vida sob duas máximas fundamentais, a primeira dita pelo grande pensador anticapitalista Ramon Valdés: “Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar!”. A outra uma revelação espiritual: “Não se mede um homem pelo esforço que ele desprende para realizar uma tarefa, mas pela sagacidade que ele emprega para deixar de fazê-la” do guru do ócio e da procrastinação produtiva de longo prazo, Rala Ricota.

Por isso estou aqui meses depois da turnê nordestina da Manger Cadavre? para promover o seu álbum mais recente, Imperialismo, lançado no longínquo abril de 2023. Ainda vou tatuar a palavra procrastinação rodeada de estrelas coloridas no meu ombro. 

Antes que eu resolva procrastinar por mais alguns meses, vamos ao que interessa. O giro nordestino da banda teve início aqui em Salvador no dia 19 de junho, em show que rolou no Blá, Blá, Blá sediado no boêmio bairro do Rio Vermelho.

A Manger Cadavre? é uma das bandas que eu tava a fim de curtir ao vivo pra ver se a onda gerada in loco seria a mesma daquela que bate forte na audição dos álbuns. A brisa foi mais pesada e muito se deve pela energia gerada pela banda no palco.

O elemento catalizador principal é a postura no palco da vocalista Nata Nachthexen. Sua movimentação no palco e o estilo vocal intenso, vibrante e volumoso se destaca da camada sonora gerada pelos demais instrumentos atingindo com tudo os tímpanos do público.

Estimula os instintos mais primitivos, gerando energia suficiente pra botar todos em transe  e em contato com nossa ancestralidade tribal. Quando a revolução brasileira rolar a playlist revolucionária no Spotfy vai ter Manger Cadavre? pra garantir a concentração de chacras transbordando ódio pra garantir a explosão de adrenalina necessária pra galera se jogar pra cima dos inimigos.  

Imperialismo 

O colonialismo, projeto maior das potências imperialistas do lado de lá da Linha do Equador, para as nações do chamado Sul Global constitui o mote das letras para o último álbum da Manger Cadavre? 

Manger Cadavre?
Arte de capa de Imperialismo.

Afinal de contas, todo desdobramento histórico colonial dos países colonizados pelas potências econômico militares europeias, mais os EUA, foi cessado apenas em países nos quais ocorreu a revolução socialista, casos de Cuba, China, Vietnam e República Democrática da Coreia. Os demais, como o Brasil, tiveram suas relações sociais configuradas sobre a lógica colonial.

Lógica essa em vigor até hoje.  Nesse sentido, usar meios culturais e artísticos para desconstruir, mesmo que timidamente, essa lógica, são necessários, para despertar as parcelas mais frágeis socialmente da sociedade para a realidade elaborada para melhor lhes oprimir e explorar.

Algumas faixas presentes em Imperialismo já eram conhecidas do público da Manger. Isso porque foram executadas em alguns shows da banda, preparando e instigando a galeara para a nova empreitada.

Em termos de sonoridade, particularmente, não fui capaz de identificar grandes mudanças. A banda mantém a pujança característica, qualidade na execução das músicas, bem como em todas as etapas, do processo da gravação ao lançamento. A banda entregou mais um álbum primoroso.

E não tem som melhor do que uma das vertentes extremas do metal pra denunciar os efeitos devastadores do imperialismo sobre os países do assim chamado sul global. Os temas abordados pelas letras refletem uma realidade bastante conhecida por nós latino americanos.

As garras imperialistas continuam rasgando a carne dos povos do lado de cá da Linha do Equador. Desse modo o grito de revolta e ira direcionado aos nossos algozes europeus e norte americanos atacam essa mentalidade predatória consolidada na personalidade das próprias vítimas do imperialismo.

Os impérios corporativos se mantém parasitando nosso sangue, tal qual nos diz os versos da letra da música Inconoclastas: “Nós não vivemos / Somos vividos / Não escolhemos / Somos induzidos / Não vivemos / Somos vividos”.

Consequência de sermos hospedeiros destes parasitas é perdermos nossa autonomia, termos sempre fios invisíveis comandando nossas ações. Embora haja sempre uma ideologia muito bem fabricada e aplicada em nossas mentes para nos manter incapazes de ver a manipulação à qual somos submetidos.

A faixa que encerra o setlist do álbum, Tormenta, a versão apresentada como faixa bônus, conta com a participação de Suyanne Gabrielle, do duo de stoner/doom BUZZARD. Assim como Nata, Suyanne possui uma voz forte, que explode em toda sua potência quando canta nesta música.

Manger Cadavre
Manchete do G1, traduzida do periódico alemão Deutsche Welle sobre a morte de mais de 400 pessoas tentando atravessar o Mediterrâneo rumo à Europa.

Temos aí a oportunidade de ouvir duas versões distintas para Tormenta. A música traz uma imagem forte sobre a condição sob a qual existimos em decorrência do colonialismo e do imperialismo.

Diante do êxodo em massa de pessoas fugindo das mazelas gerada em África e Ásia, decorrentes da atuação predatória ininterrupta da dobradinha imperialista formada por União Europeia e Estados Unidos naqueles continentes, não pude deixar de lembrar das várias mortes de refugiados no Mediterrâneo, morrendo em alto mar, ironicamente, fugindo em direção às terras daqueles que levaram a destruição a seus lares.

Seguimos neste caldeirão fervente chamado Terra, com seu caldo mais quente a cada dia, graças à atuação predatória do imperialismo sobre os recursos naturais. Nos resta continuar vivendo e lutando com as armas que dispomos contra o inevitável desfecho, o transbordamento desse caldo fervilhante sobre nossos corpos e mentes colonizados.

Porém, dispondo dos sons dissidentes de de artistas e bandas como a Manger Cadavre? pra despertar cada vez mais mentes para a aridez cruel da realidade na qual nos encontramos. Nosso desejo é que o contato com obras dessa natureza radicalize cada vez mais pessoas para o lado da luta pelas causas dos trabalhadores, trabalhadoras, marginalizados, marginalizadas, explorados e exploradas da Terra. 

Formação:

Nata Nachthexen: vocal
Paulo Alexandre: guitarra
Marcelo Kruszynski: bateria
Bruno Henrique: baixo

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