Lay Luz chega em sua estreia com sua Caminhada de Luz sem Sol(2018)

Lay Luz rapper paraibana de Campina Grande apresenta seu Ep de estreia Caminhada de Luz sem Sol (2018) num processo de iluminação coletiva!!

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Já na faixa de abertura do seu ep de estreia, “Abalo Sísmico”, Lay Luz critica aquilo que todos não queremos num disco de rap: “Beat sem alma/rima sem vida/ moi de desgraça”. Sendo assim, nos cabe aqui a mesma questão que ela coloca, o que a estreante paraibana nos entrega?

Caminhada de Luz Sem Sol (2018) é o seu ep de estreia que nos chegou por indicação da também Mc e super talentosa Camila Rocha (Sinta a Liga Crew), conterrânea da rapper. Já na primeira audição é fácil perceber que estamos diante de um estreia bem pensada e executada. 

Apresentando rimas e beats singulares, o disquinho que contém 7 faixas apresenta-nos um resultado musical variado e nem por isso menos coeso. Mais surpreendente ainda, se levarmos em conta que Lay Luz escreve suas letras há apenas um ano. No entanto, essa rapidez e força nos parece fruto desse momento onde a representatividade feminina no rap vem a custa de muita luta alcançando postos maiores. Dessa forma, temos como resultado a emergência de diversas meninas/mulheres que diante de exemplos muito fortes na cena do rap se reconhecem e querem trazer a luz seus talentos.

Já tendo soltado alguns singles pelo canal da gravadora campinense 189 Records ela também milita na cena hip hop, organizando em fevereiro de 2017 a Batalha da Compostela. Militância que contribuiu para o surgimento de novos e novas mc’s em sua cidade e o consequente fortalecimento da cena. Toda essa correria, junto aos treinos anteriores com as poesias escritas antes de entrar na cena, é o responsável pela vida nas suas rimas. É uma caminhada, curta até aqui, mas é uma caminhada, um processo do qual recebemos um resultado palpável agora.

A vida de suas rimas vem também da força do seu discurso muito bem alinhado ao seu lugar de fala e às lutas femininas por igualdade de direitos, respeito e independência. Exemplo disso é a gangsta de flow certeiro “Máfia Feminina”, quinta faixa do ep que fecha com um sampler da saudosa Dina Di. Na sequência podemos ouvir outro exemplo em “Mente Blindada” (part. Deb Black), onde as rappers versam sobre a busca por uma conduta sagaz nas ruas. A meta das minas que são fortes para vencer os desafios que não cessam de lhes ser impostos.

Ao longo das sete faixas que compõem o Ep, Lay Luz demonstra versatilidade e equilíbrio no flow, para cuspir suas rimas em velocidades variadas e boa dicção em beats que vão do trap ao boombap. Em “Restos”, faixa que fecha o disquinho e que é um dos destaques, ela declama num flow seguro numa introdução do instrumental muito bonita, antes do bumbo e da caixa entrar. A música trata dos aprendizados deixados pelo fim de um relacionamento e o consequente crescimento após o fechar das feridas nos relega. 

A musicalidade do disco ficou na responsa do produtor Dj Joh da 189 Records, com a participação de Lucc Beatz e é um destaque a parte, as produções de beats e os samplers muito bem colocados, trazem aquela alma para as batidas criticada pela rapper em “Abalo Sísmico”. 

A faixa título do Ep é a prova dessa musicalidade redonda e demonstra com maestria como pesquisa e criatividade nunca são demais. “Caminhada de Luz Sem Sol”, começa com um sampler do clássico de Gianfrancesco Guarnieri & Carlos Lyra: Missa Agrária. Na música de batida mais acelerada, a rapper tece suas criticas sobre o nosso cotidiano social e político caótico e às posturas confusas e ou falsas, propondo uma atualização muito interessante da música que fecha a faixa: “Canção da Terra” de Ruy Guerra e Edu Lobo, famosa na voz de Nara Leão.  

A Trapzeira bate certo em Através da Cidade (Through The city) com participação do rapper americano Eidrian, fruto da parceria já efetuada com a rapa da 189 Records. E em “Enigmas” vemos o casamento perfeito entre rimas vivas e beat com muito alma, digna da força dessa estreia.

Mas um bom nome a surgir no rap nordestino, Lay Luz se apresenta com um bom Ep que não cansa e entrega aquilo que promete: musicalidade pesquisada e singular, rimas e flow seguros e responsáveis. Um mina em busca de luz, mesmo longe dos holofotes mais fortes e demonstrando força interna suficiente para seguir aos poucos iluminando e galgando seu próprio caminho.

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