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Laiaboy ou Quando a poesia invade o Trap made in Suburbana! Entrevista

Um jovem nome do rap baiano, Laiaboy aka Jovem Shooter já tem dois bons EP’s lançados e vem construído o terceiro, conheça:

“Flecha de Oxossi, não corra de mim. Meu caminho é livre, mano eu fiz ebó.”

O verso acima poderia ter sido escrito pelos manos do Opanijé ou talvez pelo Fúria Consciente, porém é fruto do MC de Periperi: Laiaboy aka Jovem Shooter. Apesar de Salvador possuir grandes grupos – como os citados acima – responsáveis por abordagens sonoras e líricas pioneiras, há uma renovação em andamento que muitas vezes é ignorada. 

Com músicas lançadas no youtube desde 2018, Laiaboy é um MC versátil, tendo começado com um boombap under sujão Não é uma Metafóra (prod. Fat Cat Beats), seguiu nos anos seguintes lançando mais alguns singles, até que em 2021 soltou o primeiro volume do EP Tanto Faz o Flow Vol. 1. Neste primeiro trampo cheio, já é possível ver uma diferença não apenas sonora, mas na sua própria construção musical, a faixa de abertura deste trampo, “Caramujo” é uma faixa na qual nos viciamos e de onde retiramos a citação que abre esse texto. 

É deste primeiro EP também, de onde Laiaboy tirou o seu primeiro audiovisual com a faixa “Na Pussy”, com a produção da Red Eyes Vision e a direção de Gabriel Andrade junto com a artista. A faixa é um trap onde apesar de rimar dentro de uma linha digamos mais convencional utilizando bragaddocios, possui boas punchlines e uma visão racial bem construída.

Já na faixa “Não se empolgue com o começo” que traz um feat com o Sergio Estranho, há um bom exemplo de como o MC da Suburbana vem lapidando seu estilo. Em um trap melancólico onde o artista rima sobre as dificuldade, utilizando figuras de linguagem e construções muito singulares ele encerra com o seguinte verso: 

“Nessa árvore de bons frutos  

Eu to um fruto que apodrece contamina 

Dessa vez eu não  vou estar com vocês  

Em árvore de bons frutos que habita fruto podre me revolto  e me solto, caiu deves”

A analise dessa música daria uma matéria inteira abordando as dificuldades enfrentadas por jovens negros em nossa capital, e na diaspora de modo geral. Ainda um artista em desenvolvimento, é interessante notar como nesse primeiro EP, Laiaboy faz homenagens ao rap noventista e deixa claro sua admiração por Black Alien, “correr e voar”! Já no volume 2 do Tanto Faz o Flow podemos ver um trabalho mais consistente, tanto em termos gerais quanto de produção. 

Tendo poucas informações sobre a caminhada deste artista, se fez necessário conversamos com ele para sabermos mais de sua trajetória, então pega abaixo nossa troca de ideias!

Oganpazan – Mano, prazer trocar essa ideia contigo, e gostaria de começar te perguntando como você conheceu o Devil Gremory? Vocês já se encontraram pessoalmente? Pergunto isso porque foi ele quem me indicou seu trampo…

Laiaboy – Eu que agradeço o convite, eu conheci o Devil pelo soundcloud, escutava as faixas dele por lá, acabei indo na dm dele dar um salve ,tinha curtido a forma de rima dele. Também mostrei meus trampos, e ele curtiu. Isso foi durante a pandemia (2020),desde lá fomos trocando ideias e planejando um projeto junto, nos encontramos pessoalmente no fim do ano passado (2022). Gravamos uma faixa do nosso projeto maligno, que em breve estará na pixta.

Oganpazan – Porque “Tanto faz o Flow”? Qual o sentido dessa frase dentro de seu trabalho? 

Laiaboy – Em ambos volumes apresento uma variedade de flows em diversos beats,isso pq nunca consegui só me aprofundar em uma única estética, sempre tô exercitando a mente com diversos estilos de beats,o primeiro volume mostra o início da procura de uma identidade, cada letra foi pensadas para falar desse amadurecimento e busca de uma identidade artística, independente da wave do som e independente do flow.

Oganpazan – Como começou a sua vivência com a cultura Hip-Hop? Com que idade você começou a escrever e quando você sentiu que estava pronto para começar a soltar suas faixas?

Laiaboy – Minha vivência com o Rap começou quando eu saí do Colinas e fui morar em Periperi em 2015, comecei a escrever por conta do freestyle que fazia com amigos no colégio e da rua, comecei a ir nas batalhas de rima em 2016 com 15/16, só em 2017 comecei a lançar músicas, na qual me prendeu muito mais do que rimar em batalhas,nunca senti que estava pronto pra soltar minha primeira música, mas sabia que nunca ia saber o quão bom eu poderia me tornar se eu não lançasse.

Oganpazan –  Quais são suas principais influências líricas? Eu vejo que você constrói linhas com muito apuro, um uso de metáforas e de construções poéticas que não são muito comuns no Trap, que é a sonoridade que você utilizou nos seus dois primeiros EP ‘s.

Laiaboy – Sempre gostei de poesia, músicas que precisavam de mais atenção para entender, me criei com base disso, rimar com metáforas e afins, quando o trap começou a se popularizar pelas minhas area, comecei a fazer mantendo o mesmo conceito de lírica, fiz músicas longe de ser de “protesto”, mas também distante de algo raso , me encontrei ao fazer músicas com sonoridades comerciais, mas com as minhas reflexões, teorias, medos e tudo que eu pudesse transformar em observações através das rimas.

Oganpazan – O que você almeja com a sua arte? De que modo você pretende se inserir na cena do rap/hip-hop baiano e nacional? 

Laiaboy – Eu tenho pensamentos conflitantes sobre o que quero almejar com minha arte, às vezes dinheiro, às vezes momentos e experiências. Sinto que quero viver disso, mas não ligo se não conseguir, vou continuar fazendo música mesmo que eu seja meu único ouvinte.

Pretendo entrar na cena do jeito que atuo no under, apenas focado no que acredito, focado em construir e evoluir toda essa estrutura artística que rodeia a mim e a todos os artistas que fazem isso de maneira real.

Oganpazan – Quais mudanças você percebe do lançamento de Tanto Faz o Flow, Vol. 1 para o Vol. 2? 

Laiaboy – Musicalmente tive um amadurecimento bastante notório do Vol 1 ao 2, tive que reinventar minha lírica também, tirando a segunda faixa, as letras do vol 1 flertavam muito mais para algo sobre meus medos, inseguranças, revoltas e autoestima. No vol 2 eu usei uma lírica mais suja para abordar pensamentos, experiências e reflexões da vida de um jovem preto.

Oganpazan – Onde você grava? Quais são suas principais dificuldades para produzir hoje? 

Laiaboy – Atualmente estou sendo produzido pela Bando Lab, gravadora criada por Pedro Lima no final de 2021, localizada no Colinas de Periperi vulgo Complexo do CL, atualmente nossa maior dificuldade para produzir é a questão monetária para investir em uma infraestrutura melhor. 

Oganpazan – Você é um jovem artista da suburbana, você conhece a história do rap e do hip hop da sua região? Quem são os mais velhos “a quem você dá a bênção mesmo não sendo parente” nas suas áreas? 

Laiaboy – Fui educado no início da minha “entrada na  cena” indiretamente e diretamente por grupos e mc’s de batalha como, Contenção 33, Rap Nova Era, Independente MC’s, NEREX, Igão, AZAMOA, Kong, Archzera, Evandalismo, LDS, Hunter, entre outros artistas que me passaram alguma visão, me tocaram com uma música/Freestyle ou que eu tive alguma vivência que virou um chave na minha cabeça para perceber algo a+ sobre o ambiente belo e violento  em que vivemos, Suburbana.

Oganpazan – E da nova geração, quem são os outros (as) MC’s com quem você tem relação e ou afinidade criativa, sejam da suburbana ou não? 

Laiaboy – Azamoa, Tio Jai, DDD, Ks Cria, Devil Gremory, Mc Piaget, Tchucolost, Diggs Driller, Liberto de Si, Tr4goh, DN, Tap, Má Hina.

Oganpazan – Quais são os próximos passos para esse ano de 2023? O que você tem preparado de novo, já pode revelar para gente? 

Laiaboy – 2023 promete muito, não estou exagerando. Fora meu projeto Músicas Para Namorar Pelado Mixtape que já estou lançando aos poucos desde o final do ano passado, tenho 2 projetos de Detroit 1 solo e outro colaborativo com o Devil, e mais uma mixtape da gravadora Bando Lab, sem contar com singles com clipes que estão sendo  planejados tbm desde o ano passado.

-Laiaboy ou Quando a poesia invade o Trap made in Suburbana!

Por Danilo Cruz 

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