Jeff Beck – Live +

Ano passado criou-se um burburinho bastante acentuado envolvendo o nome do Jeff Beck. Primeiro o assunto foi o próximo trabalho de estúdio do gênio britânico, afinal o mecânico está sem lançar um pack de inéditas desde 2010, ano que marcou pelo premiadíssimo ”Emotion & Commotion”. Só que depois disso o barco virou, e como encerramos o ano de 2014 sem nada de novo, notamos que esse projeto segue em processo.

Para distrair a crítica o ZZ Top anunciou um bocado de tours com o guitarrista, mais uma daquelas uniões que faz o público brasileiro delirar, afinal de contas a chance disso desembarcar em congonhas é bem pequena, mas enfim.
A tour parecia estar correndo dentro da mais perfeita ordem. Beck aparentemente segurou a peruca e não deixou suas ego trips espanarem a química de Billy Gibbons & Dusty Hill, dupla que muito provavelmente não daria espaço para chilique nenhum, afinal de contas é necessário respeitar os papais noéis mais legais do planeta.
Mesmo com o cancelamento da tour, em virtude de uma pancada no quadril do vovô baixista, Beck comprovou que a chance de algo colaborativo rolar era grande, pois só isso explica o disco ao vivo que o músico acabou de lançar. ” Live +”, para variar, é excelente, mantém a escrita de que nada que sai com o nome deste cara é ruim e solta umas faixas de estúdio pra tirar os fãs do marasmo e preparar um petardo para um futuro próximo. O cara é completamente imprevisível!

Line Up:
Jeff Beck (guitarra)
Jimmy Hall (vocal)
Rhonda Smith (baixo)
Jonathan Joseph (bateria)
Nicholas Meier (guitarra)

Track List:
”Loaded”
”Morning Dew”
”You Know You Know”
”Why Give It Away”
”A Change Is Gonna Come”
”A Day In The Life”
”Superstition”
”Hammerhead”
”Little Wing”
”Big Block”
”Where Were You”
”Danny Boy”
”Rollin’ And Tumblin”’
”Going Down”
”Tribal” – Studio
”My Tired White Floor” – Studio

Para quem não captou o motivo desse ”+” no nome do disco, fiquem sabendo que o sinal matemático que deve ter tirado meio mundo do sério na época estudantil é justificável. O lance é o seguinte: os dois últimos takes deste excelente disco são de estúdio, gravações que devem ter esquentando demais para o guitarrista perder a jam em chamas, por isso o aperitivo já foi servido junto com os improvisos desta estonteante coleta de sinergia.
A maior surpresa desse vem da banda de apoio. Notem que o chefe mudou tudo e rapaz, o efeito foi absurdo, saiu Tal Wilkenfeld para a entrada de Rhonda Smith e o groove sentiu a embutida. A cozinha rítimica é algo muito complicado de trocar assim do nada e já gravar um live. É necessário um grau de entrosamento que Jeff já tinha com a bela Tal, mas quem é que falou que a Rhonda não chegou com um timbre ainda mais presente que o da australiana?

O estrago na parte ”A” de ”Superstition”, jam que Wonder fabricou com a levada mítica de Beck na batera, é um absurdo. Mas vamos por partes, o tema que abre os trabalhos é quente, só que começa mais trabalhado no banho maria. ”Loaded” é o nome de guerra para os primeiros minutos de som na caixa.

Mas é com ”Morning Dew” que Beck entra na jugular com a Fender e ateia fogo na platéia. Jimmy Hall, vocalista que coloca os verbos por cima das melodias bipolares do guitarrista, foi bastante criticado. De fato, sua voz não é nada de outro planeta, isso fica claro para quem conhece seu trabalho, mas falar que o cara teve uma performance ruim é demonstrar um belo nível de surdez, pois além de entoar os sons com bastante feeling e sentimento (em temas como ”You Know You Know” e na clássica ”A Change Is Gonna Come”), Jimmy é o vocal de confiança de Beck e é a opinião do virtuose que importa no fim das contas.

A bateria de Jonathan Joseph é outro ponto a ser destacado, a naturalidade das baquetas lembra até o trabalho de Vinnie Colaiuta, mestre dos Kit’s que trabalhou com Jeff em live’s também, como no mítico Live At Ronnie Scott’s” lançado em 2008. O cara segura o swing em ”Why Give It Away”, mata os clássicos com ”A Day In The Life” e relembra o maior hit the ”Emotion And Commotion” com um estouro em ”Hammerhead” e sua feroz linha de grooves.

Só que no final das contas todos fazem sala pra Jeff, até Nicolas Meier, responsável pela guitarra base, consegue se destacar com belos licks, mas fica no chinelo quando o reverendo resolve mostrar seu feeling com a Hendrixiana ”Little Wing” e decide apimentar a jam com uma fritada de leve ao som de ”Big Block”. O guitarrista está ótimo, toca fácil, toca muito, manda Stones, vai pra galera com ”Going Down” e finaliza a sessão com dois aguardadíssimos temas inéditos. ”Tribal” e ”My Tired White Floor” são duas belas torcidas no cérebro.

Pra variar o resultado é excelente, chame quem você quiser, mande qualquer repertório. Na chuva, fritando no sol ou na oficina debaixo de um carro, esse cara está sempre preparado. Coisa fina.

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