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Ivan Conti Mamão – Poison Fruit (2019) Uma adicção

Ivan Conti Mamão – Poison Fruit (2019) Uma adicção pelo ritmo que nos é transmitida pelo novo disco desse grande mestre da bateria brasileira!

 

Não deveria ser uma novidade e felizmente para alguns brasileiros não é, pois são décadas de serviços prestados por Ivan Conti Mamão ao ritmo, à música do Brasil. Junto ao Azymuth, um dos maiores nomes da música instrumental brasileira, Ivan é o responsável pelas baquetas, segurando, marcando e planando-as pelo seu kit de bateria com uma genialidade reconhecida mundialmente. O Azymuth é um dos grandes arquitetos do groove brasileiro, levando nosso balanço inventivo pro mundo, e nesse espaço arquitetônico musical, as vigas de sustentação estão nas duas mãos do Ivan.

No entanto, sabemos também, o quanto os músicos brasileiros, mesmo os músicos artistas, são desvalorizados. Possuímos em geral uma fixação por grandes astros, pela figura do star, e como sociedade não sabemos admirar o papel essencial dos músicos. Na bateria brasileira, Ivan Conti faz parte de uma linhagem importantíssima que conta com nomes que o precederam, como: Edson Machado, Dom Um Romão e Wilson das Neves para ficar em apenas três dos nossos vários gigantes. 

O lançamento de Poison Fruit (2019) seu novo disco, é uma excelente notícia assim como representa um suspiro de vida desse nosso gênio. Ivan Conti superou um grave problema de saúde recente, e passou a dedicar daí por diante o seu foco na feitura desse disco. Ouvir Poison Fruit é um exercício maravilhoso, onde o swingue dialoga com diversos estilos, mas também não perde o bom humor de vista. 

Contando com as participações de Kiko Continentino, do seu filho Thiago Maranhão,  e de Alex Malheiros, o disco foi lançado pelo selo gringo Far Out Recordings. E é um belo elo entre diversos recursos e texturas, de beats, ao conhecido “samba doido”, passeando pela grooveria no balanço funky pelo qual é conhecido ao redor do mundo, flertes muito bacanas com a eletrônica, techno e house music.

As feras que o acompanham, Continentino nas teclas e o baixão de Malheiros fecham um trio instrumental elegante e super groovado – afinal são seus companheiros de Azymuth. As programações inseridas, os beats, dão um toque de modernidade incrível ao disco, com as ajudas de Maranhão e do produtor londrino Daniel Maunick (Dokta Venom). 

Ao dar play nessa bolacha, se você chegasse desinformado não acreditaria que está diante de um disco, feito por um jovem senhor de mais 70 anos. Mas o lance é que Ivan Conti “Mamão” está em seu auge, assim como os velhos mestres que conseguem chegar a uma idade avançada sem se render ao estático. Conduzindo ritmos e seguindo-os, Ivan Conti vive o agora com uma intensidade rara, como um verdadeiro adicto dos novos e dos “velhos” ritmos, o que faz dessa fruta venenosa um convite irresistivel é exatamente a juventude criativa que o disco transborda. 

A vida se mantem por um bater, por uma pulsação, e na faixa 8 do disco, a música que dá título ao disco, é uma aula maravilhosa sobre essa relação entre vida e ritmo. A marcação inicial da música vai aos poucos sendo acrescentada e ganhando camadas cada vez mais elaboradas dos outros instrumentos, com acréscimos de texturas, tudo trabalhando entre o orgânico e o digital. Essa Poison Fruit, nos parece no final das contas uma excelente interpretação do movimento mesmo da vida, que acima mencionamos. O desenvolvimento da vida através dos ritmos que vamos coordenando, das melodias que vão nos conduzindo e da busca pela mais plena harmonia. E pelo que conseguimos entender, é desse veneno que vive o Ivan, é daí que ele retira sua velha juventude.

É dessa fruta que ele retira o bom humor para indignado nos contar as sacanagens promovidas pelo “Bacurau”, ou pra comemorar o ritmo em “Que Legal”. O ritmo como fonte de tudo, é um vício nosso, bem brasileiro, algo que muitas vezes esquecemos, essa que é uma das nossas maiores virtudes e defeitos, o ritmo e o esquecimento. E Ivan Conti Mamão com seu novo trabalho, vem nos lembrar. 

Poison Fruit é um disco grandioso, em suas 16 faixas apresenta músicas sensacionais, mas também nos apresenta o respeito que esse produtor e artista adorador do ritmo possui. Apresentado ao final do disco podemos escutar alguns remixes feitos por Dokta Venom, Tenderlonious, Max Graef, Reginald Omas Mamode.

Esse contraste de remixes feitos apartir de um álbum instrumental, álbum esse composto por um dos bateristas mais respeitados do mundo, nos mostra ainda mais a modernidade da música de Ivan Conti Mamão. E é um prato cheio pra todos os que são escravos do ritmo, porque esse mamão bate muita onda e vai lhe viciar!

 

 

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