Glenn Hughes – First Underground Nuclear Kitchen

Nos últimos 5 anos o reverendo Glenn Hughes voltou ao centro das atenções. O ex Deep Purple, Trapeze, Black Sabbath (fora outros projetos paralelos), uniu forças com várias feras para restabelecer seu nome no ramo.

Primeiro fez um conference call com Joe Bonamassa, Jason Bonham e Derek Sherenian para criar o Black Country Communion. Foram três discos ótimos e um live excepcional, mas a batalha de egos entre os já desgastados Bonamassa-Hughes, acabou decretando o fim do Blues-Rock excelente que o quarteto criava quando se encontrava.

Mas com o fim do BBC a primeira coisa que Hughes anunciou na imprensa foi que a banda não tinha acabado, Joe levou o nome, mas o baixista iria reformular tudo e ele de fato o fez. Substituição no time: saiu Black Country Communion número nove, para a entrada do número dez California Breed. O único remanescente dos tempos de BBC foi Bonham. Nas guitarras, alguém novo, o prodígio Andrew Watt, o elo que surpreendentemente consolidou a nova cozinha da dupla Bonham-Hughes, afastou o som do costumeiro Blues e voltou com o Funk que o britânico tanto faz questão de colocar em tudo que já fez.
O único problema é que com tantos lançamentos paralelos (o mais recente sendo o debut do California Breed), sua carreira solo ficou estática. Mesmo que os sons sejam bons (até mesmo com pitadas de Funk), já faz quase 7 anos que o velhaco não faz nada por sua conta e, o pior, ele parou justamente quando a criatividade tinha voltado a fluir. ”First Underground Nuclear Kitchen”, foi um inspirado registro em um tempo que as coisas pareciam ter embalado, mas isso lá atrás, no já embolorado 2008.

Line Up:
Glenn Hughes (vocal/violão/baixo)
Chad Smith (bateria)
Luís Carlos Maldonado (guitarra/violão)
JJ Marsh (guitarra)
George Nastos (guitarra)
Anders Olinder (teclado)
Ed Roth (teclado)
Ana Lenchantin (violoncelo)

Track List:
”Crave”
”First Underground Nuclear Kitchen”
”Satellite”
”Love Communion”
”We Shall Be Free”
”Imperfection”
”Never Say Never”
”We Got 2 War”
”Oil And Water”
”Too Late To Save The World”
”Where There’s A Will”

Esse trabalho deve ter sido a mola propulsora para Hughes voltar aos bons tempos. Não acredito que as coisas aconteçam por acaso, percebam que depois desse disco todos os projetos paralelos e eventuais bandas que surgiram com o nome do baixista foram posteriores a esta gravação. Mais do que um trabalho coeso, vejo ”First Underground Nuclear Kitchen” como um dos CD’s mais importantes da carreira do britânico, afinal de contas esse Funk foi o grande responsável pela confiança renovada com que seu groove abraçou novos caminhos na música.
Fora que o balanço do Funk agrega muita coisa ao leque de influências de Glenn. Esse disco, por exemplo, mostra essa faceta de forma absolutamente inspirada, puxando para o Soul, misturando com Blues e dosando com o peso que lhe é peculiar, claro. Abrindo a cozinha nuclear com ”Crave”, mostrando seus dotes undergrounds com a faixa título e despejando criatividade com ”Satellite”, uma das grandes baladas que ilustram esse trabalho.
Mas é válido salientar que todo essa patamar de qualidade não é 100% oriundo do idealizador do projeto, creio que se não fosse o grande trabalho de Chad Smith e do guitarrista Luís Carlos Maldonado, a criatividade dessa registro não seria tão elevada. Em temas como ”Love Communion”
por exemplo a banda arrebenta, a faixa começa como uma balada mas ai o peso se apresenta fortemente armado e explode o som em flocos de Funk.

Glenn tem espaço para solar, toma conta dos vocais e o violão surge com outro toque na jam, as linhas se entrelaçam e o sentimento fica tão claro quanto os riffs de guitarra. A trocação do groove segue ardente, Chad tomou conta da bateria e diferentemente da herança do disco anterior (”Music For The Divine” de 2006), aqui ele toca em todas as faixas e o faz de forma arrebatadora. A coisa fica com uma energia bem Red Hot Chili Peppers mesmo, ”We Shall Be Free” mostra isso, mas o DNA do Hughes surge em temas como ”Imperfection”, ”Never Say Never” e ”We Got 2 War”.

Rola um teclado, algo mais smooth Jazz e com isso quem ganha é o ouvinte, pois a música se desenrola de forma tranquila e muito apaixonante. Um sentimento que permeia tudo que esse cara gravou na vida, fora que ele conquistou seu próprio espaço na música de uma forma muito diferente, afinal de contas são poucos os nomes dentro da indústria do som pesado que levam nomes como Stevie Wonder e Marvin Gaye como claras influências.

Espero sinceramente que a sequência desse trabalho apareça logo, creio que o swing agridoce deste balanço não pode esfriar. A sequência de ”Oil And Water”, a elevação dos lamentos da maior e mais bem construída faixa do disco, ”Too Late To Save The World” ou da saideira ”Where There’s A Will”, definitivamente precisam de mais combustível. O Funk desse cara pesa e isso é raro, esta fagulha não pode se perder.

Articles You Might Like

Share This Article