Ginger Baker’s Air Force

Se tem uma coisa na vida que não tem como ser ignorada é o ciclo do seu destino. É algo bem mais profundo do que aquele par de meias que você ganha da sua tia, e acaba sempre passando de primo em primo até retornar para sua gaveta no natal seguinte, aceite, o par vai voltar, e você sabe disso. É parte não só do seu destino, mas como seu papel respeitá-lo e tentar jogar com os números que seus dados seguem sorteando, e se der errado, pelo menos se divirta, mas nunca cuspa no prato onde comeu.

Faça igual o Ginger Baker, na essência um músico de Jazz, mas que após o fim de dois (rockeiros) supergrupos, (logo na sequência!) soube ignorar o desgaste do fim do Cream, e o abrupto fim de genialidade do Blind Faith, para fazer um som e se divertir. Sim, muitos se matariam, (creio eu) mas o explosivo ferrugem baterista respeitou seu destino, recebeu a meia novamente, e soube que era hora de voltar para o Jazz, fez um supergrupo meio que ”sem querer”, e de quebra acabou com um disco formidável nas mãos. Ginger Baker’s Air Force I e a certeira cantiga do ”Bom filho à casa torna” lançado em 1970 com pinta de Big Band.

Line Up:
Ginger Baker (bateria/percussão/vocal)
Denny Laine (guitarra/vocal)
Rich Grech (baixo/violino)
Steve Winwood (órgão/baixo/vocal)
Graham Bond (órgão/saxofone/vocal)
Chris Wood (saxofone/flauta)
Remi Kabaka (bateria/percussão)
Harold McNair (saxofone/flauta)
Bud Beadle (saxofone)
Jeanette Jacobs (vocal)
Phil Seamen (bateria/percussão)

Track List:
”Da Da Man”
”Early In The Morning”
”Don’t Care”
”Toad”
”Aiko Biaye”
”Man Of Constant Sorrow”
”Do What You Like”
”Doin’ It”

Com o fim do Blind Faith Clapton foi tocar com a dupla Delaney & Bonnie, algo que não era aprovado pelo próprio Baker, por que além de Clapton ser um músico de outro patamar, o lero lero Pop da dupla não combinava com o que o guitarrista estava habituado a fazer, e a duração do projeto diz tudo por sí só, mas enfim. Sabendo disso, Baker foi ver o que o Stevie Winwood tinha no calendário, e mesmo que o multi instrumentista tivesse argumentado que ia voltar com o Traffic, o baterista convenceu o natural de Handsworth a embarcar no ”Baker’s Airforce” só para alguns gigs, nada muito sério (just for fun com retoques de sotaque Britânico), fora que a musicalidade desse projeto era grande demais para ficar restrita a jams sem atenção, foi só falar de Big Band que Winwood e Chris Wood (sax) aceitaram na hora.
E confirmando o efeito bomba atômica que todo projeto de Baker tinha nesse período, o Air Force também estorou rapidamente. Tão logo os caras inauguraram a quebradeira África-Jazz no Birmingham Town Jazz no dia 12 de Janeiro de 1900 e setenta, cerca de 72 horas depois a cozinha já era transferida para o Royal Albert Hall, que lotado, foi o palco deste categóricamente chapante LP.

Que explorando os tempos de Graham Bond Organization, chegou com um som que unia tudo que Ginger Baker tinha feito em sua vida, resultando num Jazz-Rock que explorava os limites do balanço do som, e que era bem diferente do que era feito na época, sem um Baker (ainda) tão imerso nos sons Africanos, mas já mostrando muita influência dessa nova aresta cultural que aos poucos começara a incorporar para sí.
Que se apoiando no belo sax de Graham Bond em ”Da Da Man”, e na calmaria bipolar dos mais de onze minutos de ”Early In The Morning” exploram todo e qualquer corner da Jam, com Baker como principal foco do som, arrepiando o prato da bateria e rompendo a faixa dos 10 minutos como se não fosse nada demais. Temos os vocais de Winwood com ”Don’t Care”, o seu clássico solo dos tempos de Cream com uma versão turbinada de ”Toad” para os padrões de Big band, (com um solo de seis minutos que conta até com Phil Seamen na batera), fora os 13 minutos de fritação ”Aiko Biaye”, e mais um clássico sofrendo releitura, dessa vez ao som de ”Do What You Like” do Blind Faith… 

De fato, o Air Force merecia mais, Baker dá um gosto de todo seu talento e capacidade musical, um cara excelente de ouvido, ótimo em arranjos e absurdamente criativo que nunca perdia o tempo na bateria, a não ser se fosse para dar um sarrafo no Jack Bruce. Um brinde ao Fusion Psicodélico.

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