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Galf AC e uma geologia política no Hip-Hop nacional! – Artigo

Galf AC

Com lançamentos combativos e uma lírica pesada e crítica, Galf AC tem entrado em agenciamentos coletivos no Hip-Hop Nacional!

A construção de um território próprio e singular no rap nacional

Neste ano de 2023, o artista baiano Galf AC tem dado prosseguimento a um movimento muito prolífico em sua obra – talvez um dos mais prolíficos da história do rap nacional – ao agenciar diferentes aliados na produção de sua arte. Fazendo um corre de produção “Do It Yourself”, sem capital de investimento e mesmo assim soltando diversos trabalhos ao longo do ano. Até o presente momento são exatamente 4 discos, 3 singles e 4 audiovisuais. 

As coordenadas que Galf AC vem traçando em sua caminhada recente pelo rap nacional, o levou a São Paulo no mês de Julho para tocar na capital paulista, e o mano levou dois manos para lhe acompanhar. O DJ Traumatopia  com quem vem colaborando desde o lançamento do disco coletivo  AntiLock (2022)  e o MC Relvi com quem lançou este ano o disco A Guerra Que os Heróis Não Sabem (2023), que conta com produções e riscos do Traumatopia. Lá em São Paulo Galf AC gravou alguns audiovisuais, e colaborações.

Dali, a trupe foi para Curitiba para mais algumas apresentações e como um bom tuareg, nesse trajeto Galf AC foi ao sabor dos encontros produzindo uma série de trabalhos que já começaram a ganhar as ruas. O primeiro deles foi o clipe da faixa “A Guerra Que os Heróis Não Sabem”.  

Outra parceria importante que foi lançada foi o compacto (2 singles) e que ganhou um audivisual muito bem produzido das músicas: “Caminho Sem Volta / No Ventre da Besta”. Junto ao Galo de Luta e ao produtor Noturno84, esse trabalho marca uma aproximação de um ativista MC com um MC ativista. 

O paulista Galo de Luta ficou conhecido nacionalmente por sua luta em defesa dos motoboys de aplicativo contra a precarização do seu trabalho, e na busca por organização para a conquista de direitos. Adepto também da ação direta, o paulista ganhou os noticiários nacionais por ter participado da legítima tentativa de “higienização” da capital paulista colocando fogo na estátua do genocida Borba Gato.

Para além dos feats comprados, dos encontros programados em planilhas de excell, o que pudemos ver a distância foi o Galo de Luta presente nas apresentações de Galf AC pela cidade de São Paulo, filmando e postando nos stories. É muito interessante observar como mesmo com um cena cada vez mais plastificada, os bons encontros, aqueles que potencializam a nossa vida ainda se fazem longe dos holofotes de uma mídia totalmente rendida ao mercado. 

É também bastante interessante e potencializador ver uma figura como Galo de Luta começando sua trajetória dentro do Rap – pelo menos de modo público – fazendo conexões com nomes menos hypados e ou consagrados. Nomes estes no caso de Galf AC que comungam de uma mesma perspectiva estética e política. É deste modo que chamamos todas essas conexões partindo do trabalho de Galf AC de Geologia Política, pois estamos tratando da possibilidade de formação de um território diferente do que já existe em termos de estética e de mercado. 

Sem espetáculo, os audiovisuais são eminentemente políticos!  

O trio Relvi, Galf AC e Traumatopia lançaram um disco que resgata e atualiza uma estética dentro do rap nacional onde os beats, a lírica e o flow nos impulsionam a reconhecer a tradição e ao mesmo tempo construir um outro futuro possível. O título do disco “A Guerra Que os Heróis Não Sabem” joga com a noção dos ídolos teen – dos adolescentes – do rap, mostrando em senso estrito, que o buraco em sempre mais embaixo, para além dos personagens com pés de barro que a indústria e a mídia viciada em views e likes erigem. 

Resenhamos amplamente esse trabalho e sempre que re-escutamos percebemos o quanto os defensores do RAP REAL, essa entidade fantasmagórica, cultivam a ignorância. Traumatopia é um produtor e DJ – que como outros DJ’s que valorizam a cultura Hip-Hop – tem reintroduzido a técnica dos scratchs no rap nacional, algo que muitos ficam gritando nas redes sociais que morreu, mas passa bem. Relvi lançou além deste trabalho um disco pesado junto ao produtor e DJ que também resenhamos: “Cinza com Azul Mesclado” este ano, que por sua vez é um dos excelentes álbuns do ano. 

Com a direção do próprio Relvi, o videoclipe de “A Guerra Que Os Heróis Não Sabem” é simples e certeiro, pois focaliza os MC’s no “topo”. Este cume onde estão os artistas, é sintomático pois brinca com a noção de estrelato, e mesmo de superioridade estética que a indústria adora exaltar. Em uma cultura onde o coletivo é o alvo, é o terreno, é aquilo que precisa ser afetado, Relvi e Galf AC nos apresentam uma visão sobre a cidade e seus problemas. 

Assista: 

A parceria entre Galf AC, Galo de Luta com a produção de Noturno 84 é desde já um marco importante, pois o audiovisual nos mostra onde estão os heróis que sabem onde de fato a guerra está sendo travada. O audiovisual que conta com a produção da Marreta Produções, afotografia belíssima da Maira Dietrich e a montagem do próprio Galo de Luta, nos apresenta uma velha visão que nunca foi de fato incorporada, pois como disse o grande poeta do rap GOG: “Periferia é periferia em qualquer lugar, só basta observar”. 

Isso está amplificado nos versos do Galo: “Terrorista, juíza disse terrorista, mema fita, meus manos disse nois é mema fita”, o que nos mostra a beleza e a força de um encontro empático e ao mesmo tempo político. Esteticamente por outro lado, o audiovisual nos coloca em uma espécie de “não lugar”, esse clipe foi gravado no Capão? Em São Caetano? Em uma favela do Rio Grande do Sul? Poderia né, ser em qualquer lugar…

Neste sentido, uma brincadeira com a noção de geologia do rap underground – que está sendo artisticamente construído por Galf AC em seu trabalho e nas alianças que tem feito – se mostra fundamental para o Rap nessa segunda década do século XXI.

Ouça e pegue sua visão:

-Galf AC e uma geologia política no Hip-Hop nacional! – Artigo

Por Danilo Cruz 

 

 

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