Entrevista: o som do Earthless nunca parece alto o suficiente

Se tem uma banda que está criando uma legião de seguidores em função de suas performances ao vivo, essa banda é o Earthless. Desde o começo dos anos 2000 que o trio de San Diego dissemina a arte da improvisação psicodélica pelos Estados Unidos e pelo mundo.

Com o mesmo DNA de grupos como o Grateful Dead, por exemplo, o projeto formado por Mike Eginton (baixo), Isaiah Mitchell (guitarra) e Mario Rubalcaba (bateria) é uma das maiores referências do cenário Heavy-Psych quando o assunto é um bom e velho disco ao vivo, com fonte em jams intermináveis.

Quem acompanha a banda está sempre de olho nos novos lançamentos de inéditas também, como foi o caso de “Black Heaven” que saiu em 2018, mas a experiência de ouvir os improvisos da banda com uma abordagem ainda mais orgânica e crua do que em estúdio, é justamente o que faz os fãs acompanharem os californianos como verdadeiros deadheads (seguidores do Grateful Dead).

“East Of The West”, trata-se de mais um registro ao vivo que alimenta a mística das performances do trio. O play qye saiu via Silver Current Records, mostra como a química telepática dos 3 meliantes continua levando a música instrumental para outro nível… Revelando uma performance do mesmo padrão de outros épicos ao vivo do Earthless, como o Live At Roadburn (2008) e o “In a Dutch Haze“, a banda segue evoluindo enquanto os ouvintes continuam perplexos.

Line Up:
Mike Eginton (baixo)
Isaiah Mitchell (Bateria)
Mario Rubalcaba (bateria)

Track List:
“Black Heaven”
“Electric Flame”
“Gifted By The Wind”
“Uluru Rock”
“Volt Rush”
“Communication Breakdown”
“Violence Of The Red Sea”
“Acid Crusher”

A receita desse lançamento é simples. O Earthless pegou o repertório do “Black Heaven“, juntou com o “From The Ages“, pitadas de Led Zeppelin e toques advindos do Split com o Harsh Toke, lançado em 2016 e bateu tudo isso no liquidificador.

Gravado no Great American Music Hall em São Francisco, no dia primeiro de março de 2018, esse trampo não só contempla o repertório do “Black Heaven”, como também resgata um pouco do split com o Hars Toke que acabou passando meio batido em 2016. Esse lançamento contém a única versão de “Acid Crusher” que a banda já fez ao vivo.

Além de fazer esse resgate, os músicos emulam as maiores suítes do “From The Ages” com perfeição, enquanto intercalam com faixas do “Black Heaven”, como a fulminante “Volt Rush”, faixa que no disco tem menos de 2 minutos e que ao vivo não virou um improviso delirante (para a surpresa dos fãs).

Com destaque para a performance vocal de Isaiah em temas como “Gifted By The Wind” e por um competente cover de “Communication Breakdown” (já famoso nos shows da banda). Parece difícil, mas é possível definir não só esse trabalho, mas também toda a discografia do Earthless com apenas uma palavra: necessária.

O que eles criam juntos é algo especial. Em estúdio é um deleite, mas ao vivo a atmosfera ganha contornos que nem mesmo o resenhista consegue definir com precisão. Uma hora e 15 minutos de muito groove e psicodelia supersônica. Ainda bem que nós conseguimos trocar uma ideia com o Isaiah Mitchell só pra ver se tudo que está sendo descrito acima faz sentido. No bate-papo o guitarrista falou sobre influências, o processo de gravação do último disco (“Black Heaven”) e sobre a potência do groove. Se liga!

1) Numa banda com influências tão diversas, algo incomum hoje em dia, que tipo de referências encaixam ou não quando você está compondo para a banda?

Quando estamos compondo novo material acredito que o groove seja a coisa mais importante. Caso nós não consigamos algo bem estruturado fica difícil levar a ideia adiante. Ritmo e groove são elementos primordiais dentro da nossa música.

2) Morar longe dos outros integrantes foi um obstáculo na hora de escrever e fazer uma jam?

Foi sim por que a distância impossibilitou nossos encontros semanais pra escrever. Mas caso eu tenha uma ideia eu costumo gravar tudo em casa com todos os instrumentos que imaginei no som e aí eu mando para o Mario e o Mike.

Esse esquema funcionou bem para algumas músicas que pensei para o “Black Heaven”. É claro que não é o meu jeito preferido de trabalhar com o Earthless, mas eu fiquei bem feliz com o resultado e com a forma que as coisas foram acontecendo, pois no final das contas foi bastante produtivo.

3) Esse disco conta com mais presença vocal. Isaiah, como que funciona esse esquema, você escreveu as letras para alguns dos sons cantados do “Black Heaven”, mas isso foi natural ou foi como uma resposta às composições que a banda já tinha?

Todos os meus vocais são uma resposta para o material que temos finalizado nas mãos. É algo bem natural, assim como o trabalho que faço com guitarra e voz na Golden Void, outro projeto de Psicodelia da California no qual faço parte.

A questão dos vocais surge depois que uma música já está escrita. Quando estamos com uma composição que precisa desse preenchimento vocal, a primeira coisa que eu faço é pensar na melodia que a faixa precisa. Normalmente nós já vemos isso na hora, se vai ter espaço pra voz ou se vai ser mais um tema instrumental.

4) As referências do Earthless partem de vários nortes diferentes. Vai desde ícones do underground, como a Flower Travelling Band, até titãs do mainstream, como o Cream. Você acha que existem diferenças tangíveis entre o som do undergroud e o mainstream, pensando no approach do Rock? Por que você acha que está rolando uma nova onda “revival saudosista” na última década?

As pessoas sabem reconhecer o valor de algo uma vez que seja honesto e genuíno. É por isso que quando uma banda de Rock surge e carrega energia consigo é difícil não sentir atraído. O Rock é uma música que reflete a rebeldia. Ele não tem frescura, é direto ao ponto e não foi criado para ser seguro.

Acho que no final das contas o que acontece é que as pessoas estão cansadas dessas fórmulas calculadas que não levam ninguém a lugar nenhum. Elas só querem algo que seja honesto, por isso que a nossa cena está vivendo um grande momento e isso é muito divertido.

5) O que devemos esperar dos shows do trio no Brasil?

Acho que vocês com certeza irão se divertir e eu espero que esse show leve a plateia para outro lugar, bem diferente do que vocês estão agora. Espero que com a ajuda do nosso show o público consiga esquecer todos os problemas do país e apenas aprecie o som durante o nosso set, sem toda essa tensão.

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