Free Jazz Festival: Mais um festival sabor metástase, a coluna Bolodoido Musical envereda agora pela história desse grandioso festival
Mais um festival patrocinado pela indústria tabagista, o Free Jazz Festival sempre teve line up’s invejáveis. Com início na segunda metade da década de 80, o festival seguiu quase que interruptamente até 2001, tendo apenas no ano de 1990 uma pausa, retornando em 91.
Seguindo a linha do Rock In Rio e do Hollywood Rock, que não apenas tocavam rock, o Free Jazz apesar de ser responsável por trazer grandes jazzistas para o Brasil, não se limitava apenas ao Jazz, como veremos a longo dessa matéria.
1985
Já na sua primeira edição, ocorrida em 85, o festival mostrava sua potência. Nomes como: Orquestra Tabajara, Sérgio Dias, Sivuca, entre outros fizeram as vezes de iniciar esse tão importante Festival.
Outro nome de peso, que demonstrava a qualidade da curadoria do evento foi a vinda de um dos maiores cantores e trompetistas da história do jazz: Chet Baker. Contudo, vou deixar um vídeo da apresentação do grupo de Jazz norteamericano Pat Metheny Group, fundado em 1977:
1986
O Free Jazz tinha muito disso, por vezes intimista, cult e focado em um nicho musical e por outras abertos a novos sons e experiências musicais diversas. Esse era o charme do festival.
Em 1986, ano que eu botava a cara nesse mundão, não foi diferente. Ao mesmo tempo que se tinha nomes como The Manhattan Transfer, Ray Charles e Stanley Jordan, havia Dominguinhos e o César Camargo Mariano.
Um grupo maravilhoso que se apresentou nessa edição, e que amo de paixão, foi o Dirty Dozen Brass Brand. Infelizmente, esse caráter mais “underground” do Free Jazz Festival fode com esse colunista, pois achar bons registos de audiovisual é bem complicado.
Porém, eu não poderia deixar de mostrar essa delícia de banda pra vocês. Então pega uma apresentação deles do Tiny Desk Concert, já falamos sobre esse programa aqui na coluna.
1987
Em 87 o alto nível se manteve. Hermeto Pascoal se apresenta pela primeira vez no Festival, não será a única, ao lado de nomes como Nivaldo Ornelas, Gil Evans Orquestra, Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco. Já o nordestino Dominguinhos parece ter caído nas graças da curadoria, se apresentando pela segunda vez consecutiva no Free Jazz.
Essa junção da sanfona com o Jazz ficou sensacional!
1988
Na quarta edição do Festival, dois grande nomes da música brasileira passaram pelos palcos do Free Jazz: Pixinguinha e Almir Sater.
Todavia essa edição do festival ficou realmente marcada por um nome, talvez um dos nomes mais pesados que passou por todas as edições do Free Jazz, Nina Simone.
Mais uma vez, não localizamos vídeos dessa apresentação, o que é lamentável, mas deixamos vocês com um dos legados dessa passagem da cantora pelo Brasil, um dueto com a baiana Maria Bethânia.
1989
A década de 80 está acabando e o Free Jazz não toma conhecimento disso, metendo outro line up pesado.
Sebastião Tapajós, John Scofield, Robertinho Silva e Aquarela Carioca são apenas alguns dos grandes artistas a se apresentarem esse ano.
Novamente outra mulher se destaca em meio aos demais artistas, dessa vez a brasileira Nana Caymmi, que nesse ano bombava com a música “Vem Morena”, trilha sonora de Tieta.
1990
Virou a década e a Souza Cruz iniciou 90 peidando na farofa. Não teve edição de 1990 do Free Jazz Festival. Mas em 91 eles voltaram com a corda toda.
Arthur Maia, Take Six e Edson Cordeiro, sim aquele cara mesmo que vivia no Faustão, foram alguns dos nomes que figuraram na cena do Free Jazz naquele ano.
Teve espaço ainda para o Zawinul Sydicate, Grover Washington e Albert Collins & Icebreakers. Paguem pau pro tiozão:
1992
92 é marcado pela vinda do Kenny G e por grandes encontros no palco do Festival. Aqui cabe falar que uma das coisas mais maravilhosas do Jazz é esse sentimento de coletividade, de chegar ali e somar no som, de deixar a música fluir.
E assim foi no Tributo ao Miles Davis, que contou com Herbir Hancock, Wayne Shorter, Ron Carter, Tony Williams e Wallace Roney, o computador até travou com essa lista. Também teve outro bonde pesado nessa edição, Toots Thielemans convidou Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Oscar Castro-Neves, Ivan Lins e Eliane Dias, mermão é they por cima de they nessa porra.
Desde 90 Cassia Eller e Victor Biglione estavam com um show juntos na pista, como vocês podem ver no vídeo abaixo. O Free Jazz teve o prazer em acolhe-los na edição de 92.
1993
Com o sucesso dos encontros no Festival de 92, em 93 tivemos outro grande encontro no Tributo ao Tom Jobim.
Participaram do Tributo, o próprio Tom Jobim, Gal Costa, Shirley Horn, Joe Henderson, Jon Hendricks, Herbie Hancock, Ron Cater, Gonzalo Rubalcaba, Harvey Manson, Alex Acuña e Paulo Jobim.
Merece destaque também a volta de Hermeto Pascoal ao festival, dessa vez ao lado do Duofel; Clarence Brown with Gate’s Exprees; o dueto entre Carlinhos Brown e Leo Gandelman; Ron Carter, que também se apresentou no Tributo ao Tom Jobim; Little Richard; Ed Motta e o saudoso Chuck Berry.
https://www.youtube.com/watch?v=KVqrwPKtFkE
1994
Não teve pra ninguém, 94 o Free Jazz foi puro swing com James Brown!
Em que pese ter rolado nessa mesma edição Etta James & The Roots Band, BB King, um dueto de Lenine com Suzano e um encontro de Marcus Miller com Al Jarreau, Djavan e Joe Sample, tinha James Brown na cena, e o negão é foda pra caralho.
Isso aqui é metedeira de dança porra!
1995
Com certeza com o corpo ainda dançando involuntariamente, efeitos do James Brown, a curadoria preparou o Festival de 1995.
Nesse ano rolou o Al Green, Cella Cruz, Tito Puente & His Latin Orchestra, Stevie Wonder e muitos outros artistas.
Aqui cês podem ver Stevie Wonder mandando bronca no Festival.
1996
Na moral, 96 os caras se superaram. Porra, além de me meter James Carter, George Clinton e Isac Hayes, os caras trouxeram a maravilhosa Björk para terras brazucas.
1997
Em 1997 surgia em Salvador a Torcida que iria revolucionar as bancadas do estado, também rolava lá no Brasil mais uma edição do Free Jazz Festival. Uma coisa não tem qualquer relação com a outra, mas foram coisas boas naquele ano de 97.
Com uma grade mais extensa, o Festival trazia pro Brasil nomes como Diana Krall, Elvis Costello e Jamiroquai. Mas a cereja do bolo ficou por conta da apresentação de Erikah Badu.
1998
Em 1998 Hermeto Pascoal se apresenta mais uma vez, tem os revolucionários Kraftwerk, lembro bem de várias matérias com eles nessa época e “Music non Stop” não parava de tocar, rolou ainda Farofa Carioca, Dave Matthews Band, Massive Attack e muito mais.
Contudo, Macy Gray veio para mostrar que o domínio dos palcos do Free Jazz é delas. As mulheres definitivamente se destacaram em muitas das edições do festival. Detalhe, nessa edição do festival ela ainda era uma novata na cena.
Fiquem com esse clipe, que foi a primeira música que ouvi dessa mulher com o timbre de voz que me agrada demais.
1999
A MTV Brasil sempre soube fazer excelentes coberturas de eventos musicais, por sorte em 1999 eram eles a transmitir o festival que contou com artistas de diversos estilos.
Os holofotes estavam nos gringos Cake e Eagle-Eye, no programa AMP, da MTV, fazia-se um burburinho sobre a apresentação do Orbital e até mesmo os brasileiros do Pedro Luís e a Parede foram destacados nos dias que antecederam o Festival.
Porém foi o negão da CDD que tomou de assalto o Festival. Chegou inovador e polêmico, com muita ideia pra dar, deixando em choque a playboyzada jazzista.
MV Bill bolou uma apresentação fodástica, com uma banda impecável, muita percussão e tudo muito bem ensaiado. Também criou uma grande polêmica, ao entrar no palco portando uma peça, deu policia, deu comentários e deu muita visibilidade para o rapper. O resto é história.
Tive o prazer de estar sentado no meu sofá, vibrando, quando ele escalou a peça chocando a society.
É pai, bagulho virou.
2000
O bagulho virou tanto que em 2000 o Free Jazz Festival se destacou não muito pelos artistas jazzista, mas pelas apresentações do Mano Chao e a barulheira ensurdecedora do Sonic Youth, que putaquepariuuuuu…apresentação das melhores que já pude ver da banda, um set lindo, com várias faixas nervosas.
2001
Em 2001, infelizmente, o Festival chegou ao fim. Isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde, tendo em vista a Lei Anti-Tabagista, mas a organização antecipou esse enterro.
E na marcha fúnebre tocaram Belle & Sebastian, Aphex Twin, Cordel do Fogo Encantado, Funk Como Le Gusta, Fatboy Slim e mais.
Macy Gray marca presença no velório, agora como uma já consagrada cantora, tendo espaço também para os cubanos do Orishas e os Temptations. Essa edição foi tão diversa que mais parecia o carnaval de Recife.
Mas já que era o fim, um verdadeiro velório, nada melhor que ter o Sigur Rós de trilha.
https://www.youtube.com/watch?v=k673xU5wEzc
-Free Jazz Festival: Mais um festival sabor metástase
Por Dudu