Oganpazan entrevista Ordep Lemos sobre seu novo álbum

Entrevistamos o multi-instrumentista baiano Ordep Lemos que recentemente lançou seu segundo álbum solo “Vida Que Vai, Vida Que Vem” . 

Breves palavras sobre Ordep Lemos

Ordep Lemos tá na estrada há bastante tempo. Desde os anos oitenta faz partes de bandas, acompanha artistas, compõe, toca e produz e desde 2014 trilha uma carreira solo que já consta com dois álbuns.

Se você viveu em Salvador durante o final dos anos noventa e primeira metade dos anos dois mil, certamente ouviu falar dos Lampirônicos. Ordep é um dos membros fundadores da banda que ocupou lugar na memória afetiva de quem frequentou a cena musical soteropolitana no período acima citado.

Após essa experiência com os Lampirônicos fez o caminho de muitos artistas nordestinos, seguiu rumo a São Paulo. Está por lá desde 2006. Nesta entrevista resgatamos um pouco da trajetória artística e pessoal de Ordep para conhecer melhor as referências que podem nos permitir ter uma percepção mais viva de Vida que Vai, Vida que Vem, lançado em 2023, no dia consagrado à Iemanjá. 

Carlim (Oganpazan): Antes de mais nada quero agradecer pela entrevista, nós do Oganpazan ficamos felizes em conversar com um conterrâneo sobre seu trabalho. O seu interesse por fundir elementos da música eletrônica, com elementos do rock e dos diferentes estilos musicais oriundos do caldo cultural baiano vem desde sua trajetória como compositor iniciada como integrante de importantes bandas da cena baiana dos anos 90 e 2000?

OrdepOrdep Lemos: Olá, Carlim, eu que agradeço o convite. Faço parte da cena musical baiana desde o final dos anos oitenta, e todas as bandas que fiz parte como instrumentista, cantor e compositor, já misturavam diferentes estilos musicais.

Fazendo isso sempre dentro dessa mistura tinha música regional nordestina e música de matriz africana. Os sintetizadores chegaram de forma muito natural, usávamos ainda de forma muito tímida, mas, quando teve  a explosão das raves eletrônicas, fiquei cada vez mais curioso e ansioso por mais experimentações.

Carlim (Oganpazan): De que forma a participação em bandas como Utopia, Treblinka, Saci Tric, Orelha de Van Gogh e Lampirônicos ajudou na sua formação musical, em especial como compositor?

Ordep Lemos: De todas as formas possíveis, sou multi-instrumentista e compositor desde sempre, então, eu assimilava informação rítmica, melódica, harmônica, um pouco de tudo a cada ensaio, shows e processos criativos solo e em grupo, sem contar os estilos diferentes de cada banda que me ajudaram muito a entender onde me encaixar como artista.

Carlim (Oganpazan): Você é um instrumentista, que além de experiente, tem o reconhecimento da qualidade técnica e artística atestada pela participação em registros de nomes de peso da nossa música, entre os quais Davi Moraes, Kiko Zambianchi, Lucas Santana, Baby do Brasil, Elza Soares e Luiz Melodia. O que me deixou curioso é o fato de você ter demorado tanto pra lançar seu primeiro álbum solo, que só ocorreu em 2014. Fiquei curioso de saber o motivo dessa demora porque seus dois álbuns solo também evidenciam sua qualidade como compositor. Quais os motivos da demora em lançar o primeiro trabalho?

Ordep LemosOrdep Lemos: Vou tentar ser breve…rs. Cheguei em São Paulo em 2006, pouco tempo depois da minha saída dos Lampirônicos. Na verdade, nunca pensei em ser artista solo. Montei uma banda assim que cheguei em São Paulo e já tinha uma boa quantidade de músicas que eu vinha lapidando. Como sempre vivi de música e ainda não tinha aparecido um trabalho pra pagar as contas, surgiu a oportunidade de tocar com o Kiko Zambianchi.

Ao longo dos 7 anos que toquei com o Kiko, continuei tocando com a minha banda e produzi algumas músicas que eu iria lançar solo nas plataformas da época, Myspace,Palcomp3, etc…De repente, fui chamado pra concorrer a um edital da secretaria e cultura de São Paulo, e, só podia artista solo. Concorri e passei.

No mesmo ano que passei no edital e comecei a correria da produção, entrei como produtor musical na Comando S Áudio, e foi bem tenso o processo por conta da minha falta de experiência com o meu novo trabalho e ao mesmo tempo dando conta do álbum com prazo pra entregar.

Carlim (Oganpazan): Aproveitando que toquei no assunto dos álbuns, quais os fatores pesaram pra que você só lançasse esse segundo registro após 8 anos? Desconfio que sejam motivos de falta de recursos, pois duvido muito que você pudesse ser abatido por uma crise criativa ao longo de quase uma década! (rs) Se eu estiver certo, gostaria que comentasse a respeito dessa dificuldade dos artistas independentes em construir  uma carreira sólida e lançar seu material nessas condições. 

Ordep Lemos:   Após o lançamento, resolvi retomar a banda e me dedicar à produção musical, mas, sempre produzindo minhas músicas solo. Ser artista solo é difícil, por mais que tenham pessoas que toquem com você e acreditem no trabalho, o processo de shows, produção e lançamento é muito puxado. Sem verba, a banda, todo mundo é dono e rala junto. Nesse tempo de luta, conheci um produtor por acaso e ele me incentivou a inscrever um novo projeto no mesmo edital. O projeto foi contemplado de novo e estamos aí, mas, é muito difícil realizar sem apoio, agradeço muito a secretaria de cultura de São Paulo por mais uma vez ter apoiado o meu trabalho.

Carlim (Oganpazan): No release que recebi sobre seu mais recente álbum, o Vida que Vai Vida que Vem, está dito que o álbum foi possível devido ao Proac edital 16/2021. Ao longo dos 4 anos de governo Bolsonaro os recursos para fomento da produção artística no país foram estrangulados, assim como tudo relacionado à produção no campo da arte. Como foram esses quatro anos no que toca esse ponto para você em particular e o quais suas expectativas nesse campo para o Governo LULA?

OrdepOrdep Lemos: Bom, como falei no tópico anterior, os meus 2 álbuns foram contemplados pelo Proac. Realmente foi um período muito tenebroso, a verba disponível para a secretaria de cultura aqui em SP veio através de uma manobra política do governador da época que ajudou muitos artistas e produtores culturais no quesito cultura. Infelizmente não foi assim no resto do país, acredito que o  governo Lula vai ter uma atenção decente para com a cultura, que foi tão maltratada no governo Bolsonaro.

 Espero um período melhor com o novo governo em todos os sentidos.

Carlim (Oganpazan): No Vida Que Vai Vida Que Vem você teve duas participações especialíssimas: Robertinho Barreto (BaianaSystem), seu parceiro musical de longa data, do guitarrista da lendária banda Black Rio, Isaac Negrene e do guitarrista das Velhas Virgens, o Roy Carlini. Quais as contribuições em termos de sonoridade para o álbum e como foi contar com essas participações pesadas neste novo trabalho?

Ordep Lemos: Com certeza foi muito gratificante, são guitarristas de diferentes estilos que além de grandes músicos são grandes amigos. O isac Negrenne (Black Rio), também é parceiro na faixa Vida que Vai Vida que Vem, e veio com a sonoridade e arranjo certeiro para o que a música pedia. 

Robertinho (Baiana System), além de parceiro de banda é amigo de infância. Temos um gosto musical parecido, participou lindamente com a guitarra baiana em Sossego traz, com timbre e arranjos que praticamente já sabíamos como iriam soar. Roy Carlini, que dispensa apresentações, também um talentosíssimo músico e amigo, veio abrilhantar a música Casca, sou fã do estilo do Roy e a música cresceu com a participação dele.

Carlim (Oganpazan): Quais as diferenças, na sua concepção, em termos de sonoridade e conceito entre o Ordep (2014) e o Vida Que Vem Vida Que Vai?

Ordep
Capa do álbum Vida que Vai, Vida que Vem.

Ordep Lemos: São produções bem diferentes no sentido de concepção.

O Ordep (2014) Foi produzido por Tony Alves e foi um processo com bastante participação da banda. Foram muitos ensaios pra definição de arranjos, usamos bastante referência pra sonoridade, e conceitualmente falando, foi um álbum com todas as minhas referências musicais colocadas de forma mais tímida dentro do contexto geral, ou seja: Foi um álbum mais rock.

 Já o Vida que Vai Vida que Vem, teve uma produção feita por mim e pelo Serginho Rezende. Teve pouca participação da banda, e fora as participações especiais, eu gravei tudo. Foi um trabalho mais solitário, acho um trabalho mais maduro no sentido de achar que essa é a personalidade musical que quero ter como artista, tocando e cantando o que gosto, sempre com o pezinho no bom e velho rock.  

Carlim (Oganpazan): Existe uma presença marcante  tanto nas letras quanto na sua música de modo geral, de temas e elementos musicais próprios dos ritos do candomblé. Essa relação se dá apenas no campo artístico ou ela também tem caráter religioso? E como isso influencia em termos de composição?

Ordep Lemos: Sou iniciado no Candomblé e tenho uma grande admiração pela cultura de matriz africana, me oriento e admiro o candomblé há muitos anos. A relação com a minha música vem naturalmente.

Carlim (Oganpazan): Você fará shows para divulgar o álbum? Caso a resposta seja ‘sim’, por onde os shows vão passar?

Ordep Lemos: Fiz um show de lançamento aqui em São Paulo, e quero fazer um em Salvador também. Pretendo tocar mais aqui em São Paulo no decorrer do ano. Não é fácil sair fazendo shows sem ter uma quantidade de público que conheça o trabalho.

 Vamos tentar mais um edital de circulação para que a gente possa divulgar o álbum com qualidade em outras cidades do país.

Carlim (Oganpazan): Ordep, agradecemos mais uma vez pela entrevista e desejamos a você sucesso na divulgação do álbum e que haja condições para que você possa começar, assim que estiver em seus planos, a compor o próximo trabalho. Pra finalizar, quero aproveitar o gancho, e perguntar quais os planos para o futuro.

Ordep Lemos: Pretendo não demorar tanto para lançar outro álbum, pois, tenho material pra dar início a uma nova produção, torço pra que meu álbum atual me abra bons caminhos.

Abraço forte.

Abaixo segue o mais recente lançamento de Ordep Lemos, mete dedo no play e aproveite essa viagem sonora. 

Articles You Might Like

Share This Article