Chet Faker e os sobretons de Built On Glass

Primeiro disco de inéditas do Chet Faker, “Built On Glass”, lançado em 2014, é o mea culpa do compositor australiano Nicky Murphy.

A frequência chill out de beats bem distribuídos numa melodia cadência de neo-Soul-R&B, confeccionam teias homogêneas que – mesmo leves e interligadas por intersecções chapadas no ritmo de um flow inspirador – adentram os riffs do teclado, encontram asilo na bateria eletrônica e mandam sua mente para bem longe, sem aviso prévio de sinapses.

É isso que o Chet Faker faz com o imaginário humano de quem escuta ”Built On Glass”, lançado em 2014 – via Future Classic. É abstrato, livre, delicioso, relaxante… É música. Um workshop de sinestesias, tudo de repente, por isso a letargia, o feeling ”atrasado” e o sentimento de puro desleixo com o tempo, pinceladas complexas de um cidadão que parece mal se esforçar para criar o resultado de suas incursões criativas.

Liberdade sonora, musical e mental, um som que não é entendido por muitos, mas os que sacam os indícios de linearidade de seu ortodoxo fraseado, tiram os fones com novas palavras no vocabulário: Chet Faker, a cozinha do Nicky Murphy. O primeiro heterônimo fã de Chet Baker.

built on glass

Track List:
”Release Your Problems”
”Talk Is Cheap”
”No Advice”
”Melt”
”Gold”
”To Me”
”/”
”Blush”
”1998”
”Cigarettes & Loneliness”
”A Lesson In Patience”
”Dead Body”

Ficar perdido em um som nunca fez tanto sentido (eletronicamente) para este que vos escreve. Fazia tempo que não ouvia um músico tentar harmonizar seus próprios backing vocals, colando sua própria voz diversas vezes, ao mesmo tempo que os atrasa e os une novamente conforme o surpreendente caminhar das melodias/harmonias.

Depois de explodir, quando o cover de “No Diggity” apareceu no Superbowl, Nicky Murphy capitalizou com o lançamento do EP “Thinking In Textures”, liberado em 2012. Esse EP mostra sua abordagem peculiar para unir música eletrônica e groove – principalmente em termos de texturas – e na maneira como ele articula as duas expressões (música eletrônica e o swing) sem perder o approach orgânico.

Dai pra frente, foi só sucesso, em 2013 ele liberou outro EP, dessa vez ao lado do Flume. “Lockjaw” é interessante, pois o ouvinte consegue entender como o Chet Faker é completo em termos musicais, quando ele colabora ao lado de artistas da seara eletrônica.

Outro exemplo disso é o EP que ele soltou em 2015 ao lado do do DJ britânico Marcus Marr. “Work” Foi seu último trabalho como Chet Faker e impressiona, justamente pela fusão de beats com apelo Pop. A produção do cidadão é de altíssimo nível e esse ponto em específico é amplamente explorada nas voláteis ambiência que moldam “Built On Glass”.

Depois do play, Chet psicografa as bases, com os dedos nos pads, loops e groove com taxa de bits. Tudo isso acontece em prol de frequências, que sobre um tear sonoro, cumprem a premissa de planarem perfeitas, usando seu teclado como mestre de cerimônia na costura composicional. O timbre que ele tira do Rhodes é brincadeira.

Sempre interferindo na sintaxe do balanço e sentindo o Groove como poucos.

O que faz desse disco um registro interessante, é como o australiano mexe na sintaxe do balanço. Ele sente o Funk como poucos e trabalha com isso como poucos, abusando de contratempos.

Suas ideias são capazes de climatizando estruturas cintilantes com ”Release Your Problems”, relaxando metais fúnebres com ”Talk Is Cheap”, fazendo transições como na vinheta (”No Advice”), enquanto oxigena mentes, em dupla, com a única participação do disco, o swing de uma tonelada de ”Melt” e a elementar participação Soul da ótima Kilo Kish.

Porque de resto Chet faz tudo, produz, canta, toca, comprime, expande, alegra, entristece. Sempre repleto de nuances, acariciando o Trip Hop. O rei do Lazy sound, flows rápidos, beats contraditórios… Dançante com ”1998”, ambiente com os quase oito minutos de ”Cigarettes & Loneliness”, pluricelular, “plurimusical” e, apesar da complexidade das camadas, privilegia uma escuta leve e deliciosa de se saborear.

”Dead Body” é uma das melhores faixas do disco, uma composição que explora o clima mais down que o instrumental – entre as variáveis orgânicas – entrega. A guitarra, que dá o tempero especial e encerra o registro.

Essa é a teia criativa, o brainstorming de relaxamento chill out do Chet Faker.

Keep Funkin’ Nicholas Murphy.

O disco saiu em 2014, mas carrega o frescor das gravações atemporais.

-Chet Faker e os sobretons de Built On Glass

Por Guilherme Espir 

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