Earthless Black Heaven (2018) Começando a cantar, continuando a espancar!

O power trio Earthless com Black Heaven (2018), traz agora não apenas o instrumental, compondo jams loucas, mas também com canções cantadas.

Band

 

O Earthless, power trio de San Diego, Califórnia, lançou no dia 16 de março seu sétimo disco de carreira, contando com os ao vivos. Formado pelo guitarrista Isaiah Mitchell (Nebula, Golden Void), pelo baixista Mike Eginton e pelo baterista Mario Rubalcaba (Hot Snake), os caras trazem uma novidade inesperada em Black Heaven (2018). A adição dos vocais e a formatação de parte do disco para formatos mais enxutos de canção.

Primeiro disco dos caras pela casa de outros excelentes expoentes do rock mundial, a Nuclear Blast, apresenta-nos uma nova cara dessa banda que estreou maravilhosamente, com o alucinadamente setentista Sonic Prayer (2005). O trio que moldou seu som ao longo de mais de dez anos em longas jams psicodélicas, sem esquecer o power, vem agora com algumas canções onde Isaiah Mitchell assume os vocais.

Se você já estava acostumado a ouvir os Earthless e se abandonar nas suas “orações sônicas” terá agora pelo menos quatro das seis músicas que compõem o excelente Black Heaven (2018) para gravar as letras e cantar junto. Lemos em algum lugar uma possível inferência de que a adição de letras nessa estreia pelo Nuclear Blast, tivesse haver com uma imposição da mesma. Mas, o fato que fica evidente é que de qualquer sorte, o som dos caras permanece com o power de sempre.

EARTHLESS_22Desde o começo desse século na estrada cósmica das bandas que querem levar a chama do rock instrumental e hardpsicodélico, sem perder o pique das intrincadas construções melódicas e harmônicas ouvidas em atenção constante ao cosmos, os caras resolveram aplicar algumas palavras a essas viagens. Se essa estrategia visa angariar mais tripulantes em sua nave, não nos parece nem um pouco um impulso de vulgarização. Pois definitivamente, a qualidade da viagem permanece ao longo de toda a trajetória desse paraíso negro, intocada.

Basta que os primeiros acordes da guitarra de Isaiah comecem a swingar o wah wah em “Gifted By the Wind”, para percebermos na entrada power do baixo de Eginton, e na espancação de Rubalcaba, que a força desses sem terra permanece intacta. Mesmo resumindo em pequenas pílulas sua potência de delírios sonoros, os caras não trabalham com menos intensidade, sem se importar com extensão temporal. Pois forças musicais  se devidamente apreciadas não poderão ser cronometradas, porque as viagens intensas não contamos no relógio, prova disso é a “Volt Rush”, quase uma vinheta para estraçalhar corações.

EarthlessÉ rock’n roll baby e da melhor qualidade, deixemos os apegos identitários para os fundamentalistas e xiitas de qualquer espécie. Aqui a potência criativa é quem dita o caminho, “End to End” é uma outra deliciosa prova de que subverter formatos ou fazê-los se dobrar ao seu próprio processo criativo é marca desse power trio. Sua longa e viajada introdução que emula um climão space rock, só encontra as porradas rítmicas e a rifferama lá na frente da jornada e os vocais só entram pra acrescentar à força da música, na metade da “canção”.

Uma das melhores do disco, “Eletric Flame” com sua construção progressivamente hardista, troca de andamentos, riff certeiro e deliciosamente eivada de reminiscências Sabbathianas, inclusive no vocal, é outro excelente exemplo de que os caras se reinventaram nesse disco. Um dos grandes atrativos que nos levou a amar os Earthless é mais do que a extensão de suas músicas. É o power impresso em suas composições até aqui instrumentais, e que não deixa ninguém que entre em contrato com sua música passar pela experiência e permanecer o mesmo.

E se em Black Heaven (2018) ao longo de todo o disco não perdemos o power nas músicas onde as letras entraram, eles trazem com a música título, um excelente exemplar dessa atmosfera sônica de velocidade, rifferamas, solos alucinados, e bateria e baixo compondo uma cozinha dos infernos, nosso paraíso negro. De repente o fim, “Sudden End” fecha o disco deixando-nos com gostinho de quero mais, numa atmosfera apoteótica com seu andamento mais calmo e hipnótico, a faixa encerra o disco.

Uma excelente pedida para os que já conheciam a banda e principalmente para quem nunca os ouviu, um disco que abre outros caminhos criativos para a banda e ao mesmo tempo é construído sobre o terreno por eles longamente arado com sua música. A coesão técnica de cunho setentista permanece intacta e sua viagem agora apenas possui algumas narrações não menos impactantes, furtivas dos clichês no que tange ao formato e que certamente acrescenta a experiência musical.

Divirtam-se:

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Por Danilo Cruz 

 

 

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