5 discos para escutar com seu gatuno

Para mostrar a importância dos felinos no mundo do groove, selecionamos 5 discos que ilustram gatunos na capa.

Minha avó tinha um gato preto. O codinome do respectivo quadrúpede era Tampinha, uma simpática gatuna de olhos verde-metálicos.

A senhora Tampinha morava numa vila com meus avós, mas era difícil encontrá-la dentro do perímetro da residência.

A dona gatinha vivia de rolê, sempre desafiando a gravidade no parapeito que dividia a casa da Vovó Jeanete, com a propriedade do vizinho.

Eu – do alto dos meus 5 anos – confesso que tentei de tudo para ser amigo dessa arisca vira lata, mas ela não estava muito interessada. Era só eu aparecer que ela corria.

Extremamente evasiva e com um ar de superioridade quase magnético, confesso que o fato de ter sido rejeitado me deixou mais fascinado com o universo do whiskas sachê.

Gostava de observá-la. Ficava vidrado na movimentação, principalmente quando ela resolvia escalar as coisas. Sua postura ereta, imponente e elegante estava alerta 24 horas por dia, durante 7 dias por semana.

Posso ver seus olhos verdes me observando cuidadosamente. Vez ou outra me pego pensando na tampinha… A essa altura ela já se foi, mas volta e meia lembro dela zanzando por ai com a mesma rapidez de uma sombra.

Com essa lembrança na memória, imaginei uma seleção de discos com gatunos estampando a capa. Para homenagear a classe dos animais que tratam os seres humanos com o desprezo que eles merecem, selecionei 5 gravações de estúdio que fazem frente à toda finesse desse miau fosco que fazia tão pouco deste que vos escreve.

Solta o som, separa o catnip do felino e bote o dedão no play. MIAU.

 

1 – Quincy Jones: “Quincy Plays For Pussycats” (1965)

Esse disco é poderoso. Com gravações que compreendem o período entre 1959 e 1965, “Quincy Plays For Pussycats” é um trabalho que capta os primeiros anos de Quincy como arranjador. Com um repertório mais comercial, que inclui versões para temas como (“I Can’t Get  No) Satisfaction“, dos Stones, além de 2 temas do brasileiríssimo Luiz Bonfá (“The Gentle Rain” e “Non Stop To Brazil“), o disco também conta com releiras de Cannonball Adderly e Burt Bacharach.

Com uma sonoridade influenciada pelas Big Bands de Jazz, o disco se destaca – não só pelo belo gato que está na capa – mas também por apresentar um repertório acessível, explorando o swing em cada uma das passagens, com os arranjos emoldurando cada tema e trazendo um movimento vibrante e repleto de surpresas para as proposas que formam o repertório do LP. O Quincy Jones não erra.

 

2 – Gil Scott Heron and Brian Jackson: Secrets (1878)

Uma das diversas colaborações entre Gil Scott-Heron e Brian Jackson, “Secrets” é mais um disco obceno da dupla, tamanha a perícia do poeta e do tecladista na hora de compor esse tear de grooves.

Com clara influência da Disco Music, esse projeto de estúdio foi o quinto lançamento da dupla via Arista Records e até hoje é um título difícil de achar, muito em função de ter sido um fiasco comercial.

No entanto, o disco é relevante não só esteticamente – com uma verdadeira aula de sintetizadores – como musicalmente, com mais uma leva de inspiradas composições autorais. O single “Angel Dust” vai se transforar num standard no seu fone de ouvido. Esse é mais um exemplo categórico de um groove digno de se escutar no repeat durante horas.

 

3 – Carole King: “Tapestry” (1971)

O “Tapestry” é um disco e tanto. Apenas uma das preciosidades que compõe a discografia da cantora e compositora Carole King. 

Na capa, seu gatuno Telemachus, um dos gatos mais sortudos de todos os tempos. Já pararam pra pensar que ele teve a chance de ouvir esses clássicos sendo criados enquanto tirava uma soneca? É o nível de sorte que equivale a 7 vidas. 

Vale lembrar que a Carole King é uma grande compositora. Só para exemplificar, artitas como Aretha Franklin já emplacaram suas letras nas paradas de sucesso. Nesse disco, ainda se descobrindo como artista, ela canta e toca teclados, fazendo baladas e hits instantâneos com uma delicadeza poucas vezes vista na música Pop.

 

4 – Fausto Rey: “El Cuarto Album” (1973)

Prepare o gogó e o dicionário de espanhol para aprender as letras. Fausto Ramón Sepúlveda, mais conhecido na quebrada de La Altagracia, como Fausto Rey, é um cantor da República Dominicana.

Descoberto pelo também cantor, outro Dominicano, Johnny Ventura – célebre expoente do Merengue – o malandro foi contratado por um dos maiores selos da história do groove latino, a Fania Records, fundada por Johnny Pacheco.

Vale ressaltar que o selo foi inaugurado durante o apogeu da Salsa nos Estados Unidos, durante os anos 60 e 70, num movimento que saiu de celereiros primordiais para a música no período, como o Harlem, por exemplo.

El Cuarto Album“, é um play lançado em 1973 e que mostra os talentos do arrojado cantor, além de sua paixão por gatunos, explícita já na capa do LP.

O resultado é um disco classudo, com grooves que caminham pela Salsa, Bolero e Merengue, sempre com destreza e arranjos que engrandecem os climas, contextualizando cada nuance estética da música dançante.

 

5 – Jerry Garcia Band: “Cats Under The Stars” (1978)

único disco de estúdio da JGB, “Cats Under The Stars“, lançado em 1978, é praticamente um lançamento do Grateful Dead. Uma banda criada especificamente para shows ao vivo, esse disco foi o único gravado pelo grupo, apesar dos 20 anos de estrada, que compreenderam a história da Jam Band entre 1975 e 1995 (ano da morte do fundador e guitarrista Jerry Garcia).

O interessante é que apesar de ter só 1 disco de estúdio, o grupo possui mais de 30 gravações ao vivo, com shows que saem até hoje, paralelamente aos lançamentos contínuos do Grateful Dead.

Essa edição é interessante, pois marca o retorno da vocalista Donna Jean Godchaux aos vocais, junto de seu marido Keith (teclados), John Khan (baixo, guitarra e orquestração), Ron Tutt (bateria e percussão), Maria Muldaur (backing vocal), além de participações adicionais do chapa de longa data do Jerry Garcia, o organista Merl Saunders, Stephen Schuster (flauta, clarinete e saxofone), e a dupla Candy e Brian Godchaux no violino.

Se você gosta de Grateful Dead, não tem como errar.

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