Primeiro single do seu disco solo com lançamento previsto para o próximo mês de julho, Devil Gremory lança o clipe da faixa Yuri Sheik!
O lançamento do videoclipe da faixa “Yuri Sheik”, faixa que está presente na mixtape Rocksport Tape Vol.1, lançada no ano passado, se configura agora como o primeiro passo rumo a chegada do primeiro disco de Devil Gremory. O MC baiano que é um dos muitos talentos que sempre surgem do bairro de Cajazeiras, um dos polós mais representativos da cultura hip-hop baiana, já possui uma caminhada pelo cenário do rap underground local.
Com vários trabalhos já lançados e percorrendo uma caminhada real de desenvolvimento artístico, Devil Gremory já soltou na pista os trabalhos Uzi (2017), O Subordinado das Trevas (2019), Lil Devil aka The Last OG Mixtape (2019), e os trampos coletivos Do Lado Norte da Cidade (2022) e a mixtape Rocksport Tape, Vol. 1 (2022). São EP’s e mixtapes que para o leitor/ouvinte mais curioso valem muito a pena de serem conferidas, de serem degustadas para o melhor entendimento de sua trajetória musical.
Neste ano de 2003, o cenário local tem visto Devil Gremory participando junto ao MC Vandal dos shows da banda de música instrumental BAGUM, e desta forma já têm saboreado um gostinho de algumas músicas que estarão presentes no seu disco de estreia. Esse reconhecimento e amplidão que está acontecendo é fruto das novidades em termos de lírica e de som que Devil preparou nesse novo trabalho, ao mesmo tempo, que reafirmam o bom trabalho que vinha realizando.
“Você não tem gueto, você não tem rua, mas falso que o sósia do Guina” Vandal
Fruto de um cenário que não cessa de apresentar reais renovações estéticas para o rap nacional, Devil Gremory está plenamente alicerçado em seu bairro, com o seu povo, com os seus, e muito orgulhoso disto, como repete incessantemente na suas ad-libs “Eu tô na 10” ou “Gang da 10”. Algo de fundamental importância para reais MC’s que entendem o seu trabalho como extensão revolucionária do e para o seu território.
Esteticamente simples, o clipe da faixa Yuri Sheik foi gravado em SP enquanto o artista terminava de produzir seu disco de estreia. A simplicidade porém apresenta uma estética muito adequada à urgência e a violência produzidas pela música de Devil Gremory. A música que conta com a produção da dupla Caue Gas & Geeli, um beat pesado de trap, apresenta uma sequência destruidora de imagens violentas e toma como título o nome modificado de um influencer que atualmente responde por um homicídio banal.
“Eu não tenho amor, porra eu nasci no tráfico” Devil Gremory
No entanto, é preciso ter em mente, que essa violência gratuita presente no nosso cotidiano e transposta poeticamente para o beat por Devil Gremory, não se trata de uma apologia vazia. É significativo que ela seja a última música da mixtape coletiva Rocksport Tape Vol. 1 (2022) que reúne em sua maioria jovens artistas negros de Salvador dentro de uma iniciativa de um outro jovem negro. É significativa pois se presentifica e encerra um trabalho que contraria as estátisticas e por retratar o ínicio de um trabalho que é uma forte reflexão poética sobre a violência contra jovens negros no Brasil.
Com produção executiva de Isa Talamini, direção de fotografia do Hick Duarte, essa extensão BA-SP se conjuga ao esforço coletivo da plataforma criativa que dirige o clipe que é a Rocksport Club. Dito isso, a escolha do cenário não poderia ter sido melhor, o terraço de um alto edifício em São Paulo nos passa a ideia de um jovem artista em busca de visibilidade e realça a representatividade que o mesmo busca para o seu bairro. É uma linha de fuga criativa à própria violência descrita nas rimas.
A um dialogo interno entre música, clipe e artista que encontrará no disco uma ampliação, uma reflexão e subversão do tema da violência racial contra jovens negros que em Yuri Sheik ainda está cifrada como obra. O single do disco, anuncia violentamente a “maldição” fabricada que recaí sobre jovens pretos, o tráfico, a imposição de facções dentro do seio de uma raça que é ensinada a se pensar como inimigos, para a melhor dominação, encarceramento e genocidio da juventude negra. Assim como, a ideia hoje quase hegemônica no rap nacional mainstream de que há VENCEDORES e PERDEDORES, com a medida da conta bancária como juiz do game.
A falta de lógica, de racionalidade desses comportamentos ideologicamente e racialmente fabricados pela supremacismo branco brasileiro tem aqui o seu nome e uma lírica violentamente pacífica: Yuri Sheik!
Assista o clipe:
-Devil Gremory em uma reflexão sobre a violência através do Trap!
Por Danilo Cruz