Denunciar e combater constantemente o racismo são, com toda certeza um dever e meta de todos aqueles que buscam uma sociedade igualitária em todos os seus aspectos. Essa luta se definiu historicamente como o impulso primevo e objetivo principal dentro da cultura hip-hop. Cosca 071 se alia a luta – que também sempre foi sua – fazendo dela a substância principal que preencherá seu primeiro trabalho solo a MixTracks: “Excesso da Escassez” com uma parceria da BOOM CLAP REC. com o selo Back To Back Music.
O primeiro single a vir à luz é “Podemos” e este se configura como uma excelente porta de entrada para o novo trabalho e a sua concepção. Exalando autoafirmação por todos os poros, o poder negro é conclamado a se efetuar. A música se constitui num poderoso convite para que o Rap busque a união para além da curtição e consiga transformar as palavras de ordem – emanadas hoje pelos quatro cantos – em verdadeiros agenciamentos de enunciação. É preciso transformar, ou realmente implementar o “Tamo Junto”, e outros jargões que muitas vezes correm o risco de ser apenas frase de efeito.
A estratégia de Lynch, que criou uma imbricada forma de separar e colocar o povo negro contra si mesmo, nas fazendas da América do Norte, aqui não encontra eco. O rapper através de sua poesia convoca o povo negro a dissolver as diferenças que não acrescentam a luta, antes a esvaziando, para esquecer as disputas menores e se concentrar nos ideias mais necessários. Utilizando uma imagem cara a nossa cidade: “Podemos ser mais do que Bahia e Vitória, melhor jogada de toda história.” Drible, mas também: triangulação, espirito de grupo, jogo coletivo.
Redenção na África Diaspórica, que na união de seu povo se vê pleno de potencialidades: “Desembargador de dread ou cabelo crespo, a diretoria de batom e salto, a preta que ordena, epa, fale baixo.” Exaltação da estética negra, do homem e da mulher negra, a música apesar de emanar de um homem negro, luta, milita transversalmente. Buscando o caminho do conhecimento, do desenvolvimento social que é capaz de oportunizar postos de comando e reconhecimento dentro da sociedade.
O single brilha com uma letra contestadora embalada num instrumental dançante, no melhor estilo black music, numa grooveria pra cima. A revolução negra é sempre banhada de alegria. Contando também com a participação do reggaeman Kamaphew Tawá que abrilhanta e da um toque de convocatória a música, fazendo a ponte entre a velha e a nova guarda e do JAPA System, percussionista cria do Candeal e Timbalada. Certamente Cosca, mc reconhecido já em todo território nacional pelo seu trabalho com a Versu2, chega pesado em sua estreia solo. O excesso produzido pela resistência ás dificuldades históricas, característica da raça, mesma substância que criou o Blues, o Jazz, o R&B, o Rock, o Reggae e outras expressões artística na Diaspora, aqui encontra uma reverência sincera. Reverência para ajudar na luta constante que sobrepuja a escassez a base de muito talento e trabalho. Resta agora a revolução.
Escute essa porrada e se prepare para a Mixtracks o Excesso da Escassez: