As Cigarras fazem uma ode às Desordeiras, figuras femininas necessárias em tempos sombrios para as mulheres, como estes em que vivemos.
O Brasil precisa de Desordeiras
Falar de tempos sombrios para as mulheres pode ser considerado uma tautologia. Isso porque o machismo sempre esteve presente nas entranhas da dita civilização ocidental, imposto pelas nações imperialistas europeias onde quer que tenham colocado suas garras. E qual centímetro desse mundo não sentiu as garras afiadas do imperialismo europeu?
Contudo, podemos considerar que a coisa fica pior quando se tem um governo que faz da misoginia uma política pública. Infelizmente se trata do caso do Brasil atual, experimentando o sabor amargo do fascismo. O governo Broxonaro, recentemente, fez um corte de 90% do orçamento destinado ao combate à violência contra as mulheres. Clique aqui para ler a matéria da Folha de São Paulo sobre a medida.
Sem falar nas inúmeras vezes em que o Excrementíssimo destilou ataques à mulheres em suas falas. Quem assistiu ao debate presidencial na Band teve uma amostra do quão entranhado a misoginia está na personalidade do Bozo. Ele não consegue se conter e seguir a estratégia feita pela sua assessoria de campanha e ataca a jornalista Vera Magalhães e as candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) clique aqui. Esta última eleita Senadora pelo PSL com o slogan A Senadora do Bolsonaro na eleição de 2018.
Porém, o histórico é longo como mostra essa matéria do Brasil de Fato. Leia aqui e veja a ficha corrida de casos explícitos de misoginia em falas do Tchutchuca do Centrão. Não é exagero afirmar que estamos vivendo sob a égide de um governo que tem como meta combater a autonomia feminina.
Cigarras, desordeiras necessárias
Por si só as Cigarras representam o combate ao machismo e a misoginia. Basta ouvir as músicas da banda, suas letras buscam dar vazão às pautas feministas, que fomentam a luta pela conquista de seu espaço na sociedade.
Qualquer garota ou mulher que entra em contato com a obra das Cigarras encontra inúmeras formas de ser mulher e de lutar contra a opressão patriarcal.
A natureza das Cigarras é selvagem! Por isso mesmo, diante da urgência pela luta que nosso tempo exige, as Cigarras vem com um single que é puro tiro, porrada e bomba pra cima da misoginia propagada pelo Genocida Miliciano.
A letra
A letra de Desordeiras descreve mulheres de estilo de vida boêmio, independente, contestador e indiferente às exigências patriarcais. Mulheres unidas pela boêmia, uma das inúmeras posturas políticas de luta contra o aprisionamento na cela da persona da mulher de bem, bela, recatada e do lar.
Aí temos que dar os créditos à Maria Paraguaya e Tais Albuquerque pelo lirismo hedonista presente nos versos desta primeira estrofe:
Mulheres desordeiras,
Companheiras de copo,
De manifestações primitivas,
Arruaceiras de meio fio,
Lama no vestido te da um perdido,
Sempre ligadas no modo avião,
No auge da má reputação,
Indômita ameaça ao estilo cristão,
Maculadas pelo pecado,
Toda trabalhada na beleza do cão .
Aposto que se esses versos caírem no grupo do zapzap da sua família vai rolar um bombardeio moralista pra cima de você. Provavelmente vão rebater com aquela famosa matéria da Veja exaltando as qualidades de Marcela Temer. Leia aqui.
A segunda estrofe dá a letra sobre as características da personalidade dessas Desordeiras: selvagem, caótica e transformadora.
Semitonadas,
Guitarras rasgada,
Blues na garganta,
Meu ódio te encanta.
E aí chegamos ao ponto de articulação artística mais criativa. Os versos abrigam nome de mulheres que marcaram a história por contribuírem para munir as gerações vindouras de mulheres com as armas necessárias para lutar sua luta permanente. E aí entra a sensibilidade criativa das letristas de dar forma à melodia e ao sentido usando os nomes dessas mulheres Desordeiras ancestrais.
Janis já me disse meio século atrás,
Amy, Marielle, Billie Holiday, Gal.
Rosetta Tharpe, Joana D’arc, Nadia Tolokonnikova, Betty Dave, Joan Jett, Anita
Pallenberg, Dercy Gonçalves, Elza Soares, Rita Lee, Tina Turner, Courtney Love, Angela
Ro Ro, Betty Faria, Nina Hagen, Tuíra.
Elke Maravilha, Leila Diniz, Madame Satã, Patti Smith,
As Cigarras seguem levando adiante a luta daquelas Desordeiras que as antecederam. Preparando, através da música, novas Desordeiras para as lutas futuras, até que o termo “desordeira” não tenha mais o significado moralista dos tempos patriarcais.
Ficha técnica
As Cigarras são:
Marya Paraguaya: guitarra base e vocais
Taís D’Albuquerque: guitarra solo e baking vocals
Rúbia Oliveira: baixo e backing vocals
Babi Age: Bateria
Música: Desordeiras
Música: Maria Paraguaya
Letra: Maria Paraguaya e Tais D´Albuquerque
Arranjo: Cigarras
Captação, produção e edição: Renato Ximu/ Old Black Records
Arte: Frederica
Em parceria com o selo Maxilar
DIstribuição: Ditto Music
Abaixo, para você ouvir, o single Desordeiras: