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Cigarras enredadas nas teias daqueles Ojos Rojos

As Cigarras estão sempre mantendo o processo de criação em movimento. Mal haviam feito o lançamento do single ‘Ojos Rojos’ e já lançaram seu clipe. Confiram!

O rock está no som, mas também na atitude e na imagem

Não sei vocês, mas há bandas que ouço e sou rapidamente seduzido por elas. Porém, quando vejo alguma foto ou vídeo da banda, imediatamente sou levado a experimentar uma sensação de frustração intensa. Isso porque não basta fazer um som de excelência para ser uma banda foda, é preciso refletir isso visualmente. Mais do que ser, é preciso parecer uma banda foda!

Criar uma estética visual que reflita a personalidade, a natureza, a essência, como queiram chamar, da banda é fundamental. E claro, não quer dizer apenas se vestir de forma apropriada para alcançar este objetivo. Tem a ver com postura, com gestual, com expressividade corporal. Tem a ver com fazer com que tudo isso se mostre com espontaneidade, seja percebido com naturalidade por quem ouve e vê a banda.

As Cigarras articulam todos esses elementos de forma orgânica. Tanto que ouso afirmar ser algo realmente natural para elas, compõe a personalidade de cada integrante, o que acaba refletindo na banda como um todo. Não gosto muito de teses que reforçam qualquer tipo de essencialismo, mas bandas como As Cigarras me levam a adotar a concepção de que algumas pessoas nascem propensas a ser desta ou daquela maneira. 

As Cigarras não saem mal numa foto ou vídeo nem se quiserem

Todas as fotos das Cigarras provam o que estou dizendo. Entrem no perfil da banda no Instagram, caso achem uma única foto ruim, na qual não você olhe e não veja ali refletido uma banda de rock, por favor me envie. Estou certo que você falhará miseravelmente na sua missão.

E porque estou gastando meu “latim” falando a respeito do estilo das Cigarras, sobre como elas se vestem bem e tem uma atitude totalmente cool, rocker etcetera e tal? Porque o último clipe da banda nos enreda numa trama visual extremamente urdida. Que tem nas características visuais inerentes à banda o elemento fundamental.

Claro, muito disso se deve ao toque da genial vocalista da banda, Maria Paraguaya, que tem uma verve pulsante para as artes plásticas. Portanto, um senso estético visual apurado, o que permite o desenvolvimento dos figurinos da banda e mesmo o desenvolvimento cenográfico dos clipes.

A concepção artística Paraguaya do clipe

E é nesse aspecto que eu quero me concentrar aqui. A fotografia do clipe remete diretamente à produção cinematográfica de baixo orçamento dos anos 40, 50 e 60 principalmente. Época em que a criatividade, a inspiração artística, e o conhecimento técnico conseguiam superar as limitações orçamentárias.

O mais interessante é que todo um gênero cinematográfico surgiu daí, saiu das telas de cinema, influenciando a moda, a música, as artes plásticas e por aí vai. O clipe de Ojos Rojos utiliza esse mesmo método. Aliás, método ao qual todo artista independente se vê obrigado a aderir.

Destacam-se aqueles e aquelas que tem sensibilidade e criatividade apuradas, conseguem aplicar suas ideias e moldar som e matéria de forma a passar suas mensagens, seduzir o público e deixar sua marca.

Após esse devaneio momentâneo, voltemos à concepção artística do clipe. Nos créditos do clipe no YouTube, arte, figurino e cenário são atribuídos à fenomenal Maria Paraguaya. Vejam, vamos tratar da paleta de cores que compõem o clipe. Toda ela gira em torno do vermelho, claro, referência direta ao título da música.

Há também o uso do preto como cor central e d do branco que aparece nos detalhes, em particular nas teias que envolvem as integrantes da banda. Não podemos esquecer do jogo de luz e sombra que compõem o efeito visual, mas também a atmosfera do clipe.

O modo como esses elementos foram usados para compor a identidade visual do clipe não nos faz desgrudar os olhos da tela. Porque é algo que envolve nossa percepção visual. Num clipe que trabalha o tempo todo com um plano fixo em uma locação interna, com alguns cortes específicos da banda em uma locação exterior, na qual o preto e o vermelho se fazem presentes mantendo a atmosfera do cenário do estúdio. 

O roteiro

O roteiro é bem simples, o clipe se inicia com um close numa aranha que está se movimentando de uma forma que sugere estar caçando. Depois vemos uma sequencia de cenas em que vemos as integrantes da banda enredadas em teias, que somos levados a inferir, tecidas pela aranha que vimos no início do clipe.

Contudo você só irá entender a metáfora por trás do que você vê nas cenas, se ficar atento à letra da música. Sobre a música especificamente sugiro a leitura desta resenha que publiquei aqui mesmo no Oganpazan quando foi lançado no formato single pelas Cigarras. 

A letra de “Ojos Rojos” aborda a obsessão da paixão. Fala sobre quem não consegue controlar os impulsos obsessivos com relação a quem acredita amar. Acaba sendo levado a sair à caça da pessoa amada, tal qual a aranha que está sempre a procura de suas vítimas para se alimentar.

As teias surgem como os mecanismos psicológicos e sentimentais usados para enredar a pessoa, fazê-la se sentir impotente diante da vontade da pessoa que ama. Sabemos bem que este tipo de arquétipo social é reproduzido por nós homens. Somos nós que queremos limitar nossas parceiras e fazemos do amor a teia que enreda e apazigua as nossas paranoias insanas, com relação ao que a tradição patriarcal nos ensina ser uma relação amorosa.

Felizmente a cada geração que se inicia mulheres mais empoderadas surgem, e tal qual as Cigarras da metade pro final no clipe, conseguem se livrar das teias que as limitam e aprisionam para fazer o que bem entendem. 

É assim que o roteiro conduz a parte final do clipe, as Cigarras livres tocando seus instrumentos, fazendo sua música, dançando interagindo entre si e com a música. A mensagem perfeita de como deve ser a vida, ainda mais num momento em que fascistas tentam controlá-la. 

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