O artista visual André Sirotto e o duo Bufo Borealis, lançam – com exclusividade pelo Oganpazan – a animação do clipe de lagos, uma das faixas do debutante do grupo, o excelente pupilas horizontais.
Um elemento presente em diversas fases da carreira de Frank Zappa, as animações desempenharam um papel complementar em alguns dos trabalhos que ilustram o apogeu criativo do compositor, como é o caso do DVD “Baby Snakes”, lançado em 1979, por exemplo. A filmagem retrata o show que o guitarrista fez na noite de Helloween, no icônico Palladium.
Esses registros, todos criados ao lado do americano Bruce Bickford, são de suma importância, pois dialogam com algumas das principais propostas surrealistas que Zappa desenvolveu ao longo da vida, como é o caso do musical “200 hundred Motels”, lançado em 1971.
O segredo para o sucesso das homogêneas e improváveis animações? A precisão da técnica de Bruce Bickdord e seu visionário Stop Motion. Como resultado, o audiovisual cumpre a difícil tarefa de tangibilizar a lírica Zappeana.
Mas por que o Frank Zappa e o Bruce Bickford estão envolvidos no meio da Jam Punk-Jazz do Bufo Borealis? Numa collab surpreendente entre o groove gorduroso do Bufo e André Siroto – artista visual responsável por criar o primeiro clipe do projeto formado por Juninho Sangiorgio (baixo) e Rodrigo Saldanha (bateria) – o duo concretiza mais um importante projeto audacioso e o resultado você confere com exclusividade aqui no Oganpazan.
A faixa escolhida para embasar as visões do André Siroto foi “Lagos”, um dos temas instrumentais mais fortes do debutante do grupo, o arrojado “Pupilas Horizontais” – que saiu em vinil via Zenyatta Records – e conta com as participações luxuosas de Fernanda Lira, Rodrigo Carneiro, Edgard Scandurra & grande elenco.
Pensando nas conexões promovidas, a relação do som com a imagem é contundente e bem roteirizada. A abordagem do André, principalmente para trabalhar as camadas, noção de profundidade e o volume – construindo um verdadeiro ecossistema de ambientação – é muito interessante. A maneira como o trabalho da sessão rítmica ganha ares cinematográficos com o aporto visual é outro pilar que merece menção.
A entrada de outros elementos (como os metais), por exemplo anuncia a insurgências de luxuriosas visões, trabalhadas quadro a quadro por André Siroto, num trabalho minucioso e que enalteceu – até os mínimos detalhes – de uma faixa e disco singular.
O video amplifica o impacto da música, dialoga com a passagem de tempo de maneira hora sincronizada, hora letárgica. Ambas as representações (pensando no vídeo e na faixa como corpos independentes) orbitam o mesmo espaço e coexistem harmonicamente.
E o fato da música contar com duas partes bastante contrastantes, valoriza a suave transição de André Sirotto para manter a unidade do filme apesar das voláteis mudanças. É uma onda fortíssima e o André contou pra gente como que foi o processo!
Entrevista:
1) André, queria que você contasse um pouco sobre o processo, até por que o stop motion requer um volume de fotos muito grande e é um trabalho bastante cansativo e elaborado, conforme a complexidade de cada projeto, e esse vídeo é bastante sinuoso. Como foi bolar isso quadro a quadro?
Importante deixar claro que apesar de ter um tema como norte, ela foi se moldando durante o processo de construção. Costumo começar do inicio da música, partindo de partes A/B e Refrão. Com isso, consigo construir dinâmicas dentro da rítmica.
Em muitas partes, fui elaborando de acordo com o desenrolar do processo, e isso faz parte do estilo stop motion, que permite mudar e construir a partir de 1 micro segundo. Esse fator é a grande chave para chegar ao resultado da ideia inicial, somando o inusitado que a própria música sugere em sua estrutura.
2) Quando você começou a mexer com stop motion? Teve influência do Bruce Bickford?
Sempre fui admirador, inclusive já havia feito experimentos no anos 00, mas como minha arte principal e profissional, estou focado nisso desde 2020.
Mr Bickford apesar de desconhecido por muitos do meio, chama atenção pelo seu estilo único e eu bebi muito das fontes de trabalhos dele – claro que incorporando esse elementos dentro da minha própria estética – e esse referência surgiu para esse vídeo especificamente, primeiro pela admiração mútua que eu e a banda temos pelo trabalho dele, além do desafio de fazer algo nesse caminho.
3) Como você lidou com o desafio de tangibilizar uma música tão abstrata por meio do vídeo?
A melhor saída para trabalhar com ela foi identificar partes estruturais e, à partir disso, enxergar o começo, meio e fim. Em muitas das dinâmicas de cena, fiz questão de usar o pulso da musica para ditar o ritmo da animação, criando assim um fluxo mais próximo da imagem com o som.
4) Como foi o processo de roteirização com o Juninho e o Rodrigo?
Foi muito leve e sem amarras, por conta de já termos trabalhados juntos em outros meios e outros tempos. Já nos conhecemos de uma maneira que facilita o processo de saber o que sugerir, ou o que trazer de ideias.
Tanto da minha parte, quanto da parte deles deles, fluiu dessa maneira, totalmente estilo Jam audiovisual, com liberdade e essa foi nossa grande sacada para criar algo a distância em tempos de pandemia.
Acima de tudo, nós somos amigos e isso faz toda diferença na criação de um trabalho desse nível.
5) Como você aborda a questão da sinestesia, pensando nas sensações que o seu vídeo quer ou deve causar?
Acho importante usufruir desse tema sinestésico, pois o vídeo clipe parte do principio de criar alguma amarra entre som e imagem. Pra mim, a maneira de chegar próximo disso, é usar a dinâmica da música do projeto, ouvir e entender o que ela passa aos ouvidos.
Dessa forma, tenho mais embasamento para enxergar como seria a cena para determinada parte, quebra ou breque da própria faixa. É como se fosse um processo de fazer música de fato, porém usando as imagens como instrumentos.
6) Pra fechar André, muito obrigado pela oportunidade! Queria que você falasse um pouco sobre a sua carreira pra galera poder sacar outros projetos seus.
Obrigado você pelo espaço e atenção. Obrigado também aos 70 apoiadores que tornaram possível a realização desse vídeo, totalmente financiado ao longo dos 2 últimos meses pelo Catarse.
Gostaria de convidar a todos para conhecer meu site. Lá eu tenho algumas obras que já criei, e estou criando. Grande abraço e até a próxima.
Se liga no Clipe!