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BLT: a larica do Jack Bruce, Bill Lordan e Robin Trower

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B.L.T é o disco fruto do encontro entre o guitarrista Robin Trower, o baterista Bill Lordan e o baixista Jack Bruce.

Sabe quando seu estômago dói e você pensa que é um desconforto puramente passageiro? Creio que todo ser humano já tenha sentido isso. Não é uma sensação agradável, muito pelo contrário, parece uma mistura de pressão baixa com embrulho estomacal, também conhecida como fome. Pior que isso, só mascar chiclete de estômago vazio na hora do almoço e depois dropar um marlboro vermelho. Nossa senhora.

Mas enfim, voltando para a fome. Não existe nada pior do que sentir fome. Às vezes temos dores de cabeça, em outras oportunidades sentimos tontura, fraqueza. Falta combustível. A comida nos deixa mais ligados e menos indignados… Não seria exagero de minha parte salientar que uma boa larica pode salvar uma vida.

Foi justamente quando este terror se abateu sob meu corpo que fiz uma de minhas melhores arquiteturas comestíveis. Montei um sanduba de respeito, o famoso B.L.T. 

Anotem o manuscrito sigiloso que carrega o passo a passo para esta apetitosa iguaria, que além de ser um prato tradicional, já virou até capa de disco, ilustrando o raro encontro entre o B.L.T. groove, Bruce, Lordan e Trower.

Line Up:
Jack Bruce (vocal/baixo/teclado/guitarra)
Bill Lordan (bateria)
Robin Trower (guitarra)

Track List:
”Into Money”
”What It Is”
”Won’t Let You Down”
”No Island Lost”
”It’s Too Late”
”Life On Earth”
”Once The Bird Has Flown”
”Carmen”
”Feel The Heat”
”End Game”

 

Jack Bruce, Bill Lordan e Robin Trower

A personificação do groove comestível não foi um dos meus melhores momentos se tratando de devaneios verborrágicos, mas acredito que no final das contas essa bolacha valerá a pena, afinal de contas temos aqui um power trio de respeito. Esqueça da trinca de atacantes alface-bacon-tomate e cumprimente o mestre do groove, Jack Bruce, seu comparsa das Fender’s, Robin Trower e seu companheiro de kit’s com baqueta: Bill Lordan.

Dos três grandes nomes presentes, Bill foi o único que apareceu apenas uma vez nessa união. Vale lembrar que Robin Trower ainda possui 4 (ótimos) discos com Jack Bruce, alimentando uma química que depois do Cream, West, Bruce & Laing e desse disco, o baixista não teve com mais nenhum guitarrista.

Lista de discos do Jack Bruce com o Robin Trower:

Acredito que o maior defeito desse disco seja o tempo, o vinil só gira por 37 minutos e alguns quebrados, mas a música é de altíssima qualidade e a capa possui o seu charme, cumprindo a função de deixar o ouvinte no mínimo curioso. Fazendo uma relação com a capa, pensei na entrevista que o guitarrista Steve Vai fez para entrar na banda de Frank Zappa. Reza a lenda que em dado momento da audição, Frank disse que o timbre do Steve Vai “parecia um sanduíche de presunto”, mas enfim, vamos voltar ao B.L.T. Depois que você lavar a louça, aperte o play.

A seara estética comum a todos nesse disco é o Blues-Rock, com um detalhe importante e que valoriza bastante a experiência de escuta queé a questão do groove. Jack Bruce, Robin Trower e Bill Lordan estão acostumados a tocar com swing e esse elemento em comum é o que dá o tom no toque da cozinha e na cadência das interações de cada proposta apresentada.

O Bruce e o Robin tocam com aquele entrosamento quase telepático. Lordan, por sua vez, também possui uma troca fina com Trower, justamente em função de sua experiência tocando na banda do guitarrista.

Nesse contexto, o disco se desenrola como uma jam session franca, onde existe um script para cada composição, mas com momentos de improviso, apesar das faixas serem compactas.

Com uma sessão rítmica swingada o Robin Trower faz miséria e apesar desse trabalho não ser muito comentado, a performance da banda é bastante sólida e entrega bastante conteúdo para os fones dos ouvintes.

Em ”Into Game”, tema que abre o projeto, a combinação da Fender com as distorções parece alimentar a chama do baixo e o pulso da bateria. Logo na abertura já fica clara a notória capacidade do Trower para compor riffs envolventes. ”What It Is”, exemplifica muito bem o clima desse play, enquanto Jack destila competentes vocais, sempre mantendo a pressão do power trio. O trio toca fácil, fácil até demais alguns diriam.

É um daqueles discos redondinhos, com tudo no lugar, sem exagero. ”Won’t Let You Down” é uma balada para ninguém botar defeito, com ecos de Folk, relembrando as poéticas composições que Bruce concretizou ao lado do Poeta Pete Brown. O trabalho de mix e master trouxe um blend equilibrado entre a densidade do baixo e a bateria sincopada, sem deixar nada muito alto ou baixo. A guitarra do Robin sobrevoa as faixas e brilha, particularmente na horas dos solos.

O Bill Lordan é de longe o nome menos celebrada nessa gravação, mas o tempo impecável do baterista merece uma menção especial. Os anos tocando ao lado do Sly & The Family Stone fizeram muito bem para o americano de estilo econômico. Ele não só mantém o groove, como também impõe linhas mais pesadas, quando Jack e Robin aumentam as timbragens, como acontece em “No Island Lost”. O solo do Robin Trower comprova que britânico foi muitíssimo influenciado pelo Hendrix.

Os temas mais leves tem uma mão do Jack Bruce, principalmente nas composições. Seu trabalho nos vocais merece destaque, principalmente em “It’s Too Late”, tema que mais uma vez evoca a poética translúcida dos anos 60 e 70. Repare como o Robin preenche o groove com riffs sempre na medida e solos milimétricos.

Novamente falando sobre o Bill Lordan, em ”Life On Earth”, por exemplo, é possível perceber a sua importância para o sucesso desse projeto. Nessa faixa o baterista promove um acompanhamento exato, trazendo nada mais nada menos do que a música pede, e o resultado é uma base casada no baixo de Bruce, oferecendo um tear ascendente perfeito para Trower eternizar um solo no ápice do tema mais radiofônico do play.

A forma como temas como  ”Once The Bird Has Flown” nivelam o disco é bem interessante. O grupo mostra que possui vigor em diversas passagens, mas são nos temas mais lentos que o sentimento e o groove do trio se destaca. Nesse pilar, o Bill acaba sendo elementar novamente. Além de ser o ponto focal para dar dinamismo para a dupla baixo e bateria, muito do trabalho do baterista nesse disco é firmar trocas pungentes com Bruce, enquanto Trower brinca no melhor emprego do mundo, com uma posição de solista invejável.

Não é um disco genial, mas reúne 3 experientes músicos, dois deles ingleses e um norte americano, entregando um registro singular e bem feito, dentro do que almeja entregar.  O Robin Trower fez muito bem para a carreira do Jack Bruce e vice versa. É impressionante como o baixista consegue construir visões luxuriosas com suas letras. Em “Carmen”, por exemplo, o caminhar do baixo fretless do hitmaker é hipnotizante e a Fender do Robin Trower aparece com garbo e elegância sempre que requisitada.

É interessante como o disco como um todo é bastante compacto, as faixas apostam no tiro curto, mas muitos riffs e grooves desse trabalho de estúdio poderiam ser tocados por horas a fio, como acontece com o groove de “Feel The Heat” e no slow blues de “End Game”.

Quero ver você ouvir esse disco e não simpatizar com seu repertório de swing irresistível.

E antes que eu me esqueça, para fazer o B.L.T. você vai precisar dos seguintes ingredientes:

Para fazer essa larica – bastante tradicional nos EUA – é só tostar o bacon na frigideira. Enquanto isso, corte os tomates e o alface (em pedaços grandes). Depois que o bacon der aquela caramelizada, reserve o suíno e coloque os pães pra tostar na gordura do bacon. Valorize o porquinho. 

Depois, é só montar o sanduíche, coloque o alface, tomate e o bacon. Se tiver uma maionese ai já é papo de barão. Bata sua larica e não se esqueça de apertar play.

 

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