Black Pantera, expandindo fronteiras

Black Pantera lança Griô, primeiro álbum da banda com todas as faixas cantadas em inglês. Lançamento acontece em meio a agenda de shows da banda no exterior. 

Os griôs da Black Pantera

Black Pantera
Arte de capa de Griô.

A Black Pantera aproveitou o ensejo do novembro negro para lançar mais um trampo autoral. Desse modo veio à luz o EP Griô.

O termo “griot” se refere, na tradição de alguns povos africanos, àquelas pessoas responsáveis por transmitir o conhecimento de um povo para as novas gerações.

Ou seja, trata-se das pessoas cuja função consiste em ajudar a preservar viva a memória da sua comunidade, do seu povo.

Nesse sentido, a Black Pantera se apresenta como “griô” no contexto sociocultural em que vivemos. Isso porque a banda, através de sua música, busca colaborar para o despertar da consciência política, racial e cultural na comunidade negra brasileira.

Apenas dotados dessa consciência crítica poderemos reconhecer o passado de opressão, bem como sua implicação em nossa condição social atual. Mas principalmente, permitirá reconhecer a tradição de luta e resistência do povo negro brasileiro ao longo de sua história.

Marcando presença num território embranquecido

E o Black Pantera é essa banda que chamou para si a responsa de usar sua música para combater o racismo. Todas as músicas da banda discutem as diferentes formas do racismo violentar as pessoas negras no Brasil.

Black Pantera
Black Pantera em foto promocional.

O nicho de metal extremo, do ponto de vista racial, é hegemonicamente branco. Além disso, do ponto de vista político, coloca-se numa posição isenta, que pode muito bem ser representada por aquele juízo “somos contra tudo isso que está aí”. Apresenta-se numa postura antipolítica, que sabemos muito bem por quais caminhos pode nos conduzir.

Desse modo, a Black Pantera surge dentro do segmento de metal extremo como banda antagônica a esta configuração consolidada há décadas na bolha do metal. Muito disso vem de uma postura punk da banda. Historicamente são as bandas punks que tratam das questões sociais e politicas de uma forma direta e assumindo um posicionamento claro e combativo.

Furando a bolha do underground

Neste sentido a banda aponta para um novo caminho dentro do metal extremo brasileiro. Sabemos bem haver bandas pretas no underground brasileiro. Bandas de death, trash, doom, crossover, hardcore e por aí vai, porém, que não conseguem se projetar para além do underground.

Black Pantera
Black Pantera no palco do Rock In Rio 2022.

Portanto, a Black Pantera, por conseguir furar a bolha do underground, após mais de uma década na “correria”, e se inserir no circuito dos grandes eventos, passando a ter alguma relevância comercial, coloca em relevo pautas até então evitadas nessa esfera do show business.

O sucesso da banda pode ser constatado na sua presença em festivais de grande porte comercial como o Rock in Rio, o Lollapalooza, Afropunk Bahia e o Knotfest. A escalada da banda no ranking de relevância comercial apresenta novas demandas à banda para continuar sua ascensão dentro do segmento. 

Por isso mesmo a banda busca expandir ainda mais seu raio de alcance. O lançamento de Griô evidencia a intensão de adentrar o mercado internacional e atingir um público mais amplo. Essa afirmação é feita com base no fato da banda ter feito esse Ep com músicas compostas em inglês.

Segundo dito pela banda em entrevista ao jornalista André Barcinski e divulgado em seu blog (confira aqui), a expectativa é que Griô possibilite a entrada da banda no mercado internacional. Um novo álbum está sendo trabalhado para ser lançado em 2024, embora não tenham dito se tratar de mais um trabalho totalmente em inglês, acredito que no mínimo terão faixas no idioma do mercado. 

A sonoridade Griô

Uma das particularidades da sonoridade da Black Pantera está na variedade de referências sonoras usadas na composições das músicas. Assim, a banda consegue se destacar na cena, evitando cair na fórmula homogênea comum na elaboração de músicas dos subgêneros do metal extremo.
Isso se deve ao fato da banda ter suas raízes na música negra. Em Griô podemos, portanto, ver essas referências musicais ancestrais perpassarem cada uma das faixas que o compõem. 

Faixa a Faixa 

O set começa com o baixo de Chaene groovando forte, com slaps intensos, imprimindo uma pegada funkeada no melhor estilo Infectius Gooves. Essa é a tônica de Dreadpool, que segue com a “cozinha” mantendo o groove enquanto a guitarra acrescenta as camadas de distorção dando o contraste que enche a música de sabor. 
Black Pantera
Os Black Pantera fazendo pose de foto de banda.

Se em Dreadpool temos a junção do funk com o metal extremo, em R.I.S.E, segunda faixa de Griô, os caras da Black Pantera partem pra unir o trash metal com a música jamaicana.

A música começa em ritmo alucinante. Um breve riff de guitarra desencadeia a cadência vertical do trashmetal, lançando o ouvinte numa espiral estonteante.
Interrompida, contudo, por uma espécie de interlúdio, quando a banda ameniza a intensidade da viagem com a levada cadenciada do reggae.
Aí a coisa ganha uma brisa mais suave, permitindo até um certo relaxamento. Entretanto, quando mesmo se espera, retornamos ao ritmo acelerada e vertical da primeira parte da música.
Em Burnout nós ouvintes somos mantidos numa frequência acelerada. Isso porque a intenção da banda é transmitir a sensação causada por essa doença psicoemocional. A sensação de sufocamento, ansiedade extrema gerada pelo ritmo de trabalho intenso, executado em condições precárias e exaustiva, traduz-se nos arranjos dessa faixa.
A quarta faixa do Ep é Shut Up N´ Fuck Off. Esta música tem arranjos que optam por estruturá-la alternando dinâmicas rítmicas. Movimento interessante este, pois leva o ouvinte a experimentar diferentes sensações ao longo da faixa.
Ela começa com a guitarra executando um riff que simula o som de um berimbau, contudo eletrificado. Conjugado a este riff, vem a bateria produzindo seus sons na lateral da caixa, simulando a batida da vareta na cabaça do berimbau.
Batidas intensas dão início ao trash metal desenfreado, que se converte em funk metal para dar swing ao canto dos versos do refrão. Depois recaí num andamento em marcha lenta, ganhando uma dramaticidade própria do Black Metal e terminar o trash metal finalizando com a repetição do verso que dá título à música.
Desejamos ao Black Pantera sucesso nessa empreitada de expansão de suas fronteiras. E esperamos ansiosamente pelo lançamento do novo álbum da banda!

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