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Big Brother And The Holding Company – Cheap Thrills

Sempre admirei grandes cantoras, Billie Holiday, Esperanza Spalding (um nome mais atual), Etta James… Meu único problema foi que comecei com a melhor delas e depois que acabei de escutar sua discografia, me senti órfão de seu talento. Foi então que, completamente desnorteado, tentei vários nomes, porém em vão. Não digo que não me acrescentaram em nada, mas ninguém vai superar o vozeirão chapado, Blueseiro e explosivo de Janis Joplin.

Essa mulher literalmente ”estragou” meu prazer em ouvir grandes cantoras com um microfone em mãos… Foram noites em claro perdidas por uma mulher que eu nem conheci, mas que depois do play me apaixonei. Foi algo muito rápido, assim como sua vida e carreira, intensa, poderosa e melancólica em sua essência.
Seu talento e sua voz profunda eram fortes demais pra ela, suas letras tocaram pessoas do mundo todo de uma maneira poucas vezes vista, era algo muito pessoal, que Janis desde seu início promissor, sentia necessidade de compartilhar, parecia que assim seu martírio era mais suportável. Dentro do palco ela era feliz, estava em casa, nunca vi alguém expressar tanta felicidade e curtir tanto aquela troca de energias com a platéia como a americana, creio que nenhuma voz atingiu este estágio.
A voz de Janis entra em você e fica lá, quem conhece o trabalho dela sabe disso, talvez mais que qualquer outro artista, não dá pra NÃO escutar Janis, é intenso demais. Tão impactante que nem ela suportava, por isso as bebidas e drogas. Vendo filmes daquele tempo e lendo relatos sobre ela, nomes como o do já falecido Bill Graham, por exemplo, declaram que nunca viram nada igual Joplin antes e vão mais além, afirmam que ela estava perdida, no palco se sentia completa, já fora dele, sempre faltava alguma coisa.
Não tinha dinheiro no mundo que mudasse isso, Porches com pintura psicodélica, festas… Nada parecia satisfazer Janis e, mesmo após conquistar o mundo com seu Blues, ela ainda não parecia completa. Por trás daquele sorriso junkie existiam muitas marcas do abusivas, excessos que encurtaram uma carreira que poderia ter sido ainda maior. 4 de outubro de 1970 foi o dia, o dia que o mundo amanheceu menos interessante, essa era a vida sem a voz de Janis: incompleta.
Mesmo com um mundo menos vibrante sempre escuto seu som sem pensar na tristeza de sua morte. Vejo sua obra como algo revigorante para as pessoas, uma coisa única, de valor inestimável, assim como seu segundo trabalho, o clássico ”Cheap Thrills” lançado em 1968, clássico gravado junto com a cozinha lisérgica do Big Brother And The Holding Company.

Line Up:
John Simon (piano)
Peter Albin (baixo/guitarra)
Janis Joplin (vocal)
Sam Andrew (baixo/vocal/guitarra)
James Gurley (baixo/guitarra)
David Getz (bateria/piano)

Track List:
”Combination Of The Two”
”I Need A Man To Love”
”Summertime”
”Piece Of My Heart”
”Turtle Blues”
”Oh, Sweet Mary”
”Ball And Chain”

É meio ”forte” dizer isso, mas pra mim o Big Brother não passava de uma banda de apoio para Janis. Escutei os trabalhos dos caras depois de sua saida e atestei um fato, sem ela faltava magia, a banda era excelente, mas é indiscutível que com ela no palco o som fluia melhor, sua voz dava o tom da Jam.
Na época da gravação deste disco existia um problema que precisava ser superado, não só pelo Big Brother, mas por todas as bandas da região de São Francisco. Os grupos eram ótimos, mas dentro do estúdio não conseguiam passar ao ouvinte aquele clima de Jam, aquelas performances chapadas que bandas como Jefferson Airplane e Grateful Dead faziam como poucos.

Só que depois do debut autointitulado eles aprenderam esta lição, viram que dentro do estúdio a parada não era cativante como num live. A fagulha do momento se perdia naturalmente e no fim a alma das apresentações ao vivo era trocado pelo ar pré fabricado dos estúdios, foi eatamente por isso que gravaram ”Cheap Thrills” ao vivo, e aí sim explodiram como se deve, com um som cavernoso.

Sinta a vibração de ”Combination Of The Two”. As distorções, o clima relaxado dos músicos. É assim que tudo deveria soar, mas chegar aí não era pra qualquer um não (!) Repare no requinte de ”I Need A Man To Love”. É aquela performance que nunca seria captada dentro de uma sala, esse som precisava de ar puro, o Groove precisava condensar na luz do sol, escute o balanço dos vocais, verás que nenhum fone de estúdio chegará a este patamar de Blues.
Sujo na medida certa, com riffs certeiros, Gospel latente, música pulsante com momentos dos mais variados, como no veraneio alaranjado de ”Summertime”. Essa mulher cantava demais para estar presa a uma banda. São momentos como ”Piece Of My Heart” que comprovam: seria impossível prender Janis, uma carreira solo era inevitável, por melhor que ”Turtle Blues” fosse (e ainda é), todos sabiam que era questão de tempo, mesmo com uma Jam deste nível!

Este disco é um marco histórico, marca o fim de algo primoroso e o recomeço de algo que marcaria a história pela segunda vez e o faria com o mesmo pique frenética de ”Oh, Sweet Mary”. Um aperitivo do que seria a saideira, uma das músicas mais lindas de sua vida, a performance visceral de ”Ball And Chain”, um retrato fiel do que foi Janis Joplin.

Ela não saia do palco até sentir que as vísceras do Blues estavam expostas. O som dos campos de algodão tomava uma surra todas as noites, mas ele sempre voltava e jamais deixou a musa. Seu fim foi provocado pelas dúvidas, o problema não era o talento ou o feeling, o que dizimou seus gritos foi a falta de crença em algo que sua música alimentava tão bem e que ainda nos serve como trilha sonora: a vida.

Janis viveu com os mesmos tons quentes que Robert Crumb utilizou para imortalizar essa icônica arte. O problema é que caso as cores quentes acabassem, Crumb conseguia tirar algo de um azul mais morno, já Janis não, seu paradoxo só fazia sentido com os extremos, fervendo como um copo de loucura, num transe demencial que só acaba depois do fim.

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