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Bidu lança DMPM Vol. 2 – O ano do Gabiru (2022), várias Tretxas desse fi do cabrunco!

Bidu soltou o segundo volume do seu DMPM, depois do Início das Lendas, agora é O Ano do Gabiru, o disco mais importante do hip-hop sergipano!

O mangue beat é um estado de espírito, nunca uma estética, é uma conduta!

Já no seu primeiro disco solo DMPM DMPM- O Início das Lendas (2017), Bidu apresentou uma faixa que dizia: “Escolhi viver de escolhas e não de chances”. O que poderia ser tomado como um exemplo de meritocracia disfarçada de escolha ética, se ilumina melhor e mais expansivamente agora com o lançamento de Do Mangue pro Mundo, Do Mundo Pro Mangue, Vol.2 – O Ano do Gabiru (2022). 

O fato é que além de MC, artista plástico, ativista do movimento hip-hop e da cultura de rua, Luís Claúdio também pega onda, e sabe que não é possível esperar uma chance para pegar boas no outside. No surf é fundamental saber escolher qual onda dropar, e esse conhecimento não é fácil, se faz necessário muito treino e persistência, que nos leva a conhecer os point breaks, reef breaks ou beach breaks e seus funcionamentos. 

Curiosamente, dentro do ecossistema do rap nacional, Bidu nasceu em um estado que é sempre feito de beach breaks, o que demanda um conhecimento mais afiado do estado móvel de onde as ondas vão estar melhores. Sendo assim, ele não se vinculou a uma estética única para fazer sua arte. Antes, entendeu que é da lama do mangue que deveria tirar o seu princípio epistemológico para produzir, assim como seria necessário perceber a inconstância das “ondas” para que suas produções não necessitassem de um ponto fixo. Por isso mesmo, lança um disco de rap que transita por diversas sonoridades sempre guiadas pela sua singularidade.

Não se atrapalhem, isso não é uma metáfora, quando nada é uma prospecção da metodologia utilizada para a produção de um artista, que em seus dois discos, produziu as obras mais “sergipanas” quando se trata de rap. Mas também não é uma eleição feita atoa, para dizer que o artista é o “melhor” da história do rap sergipano, senão a percepção de que o seu trabalho é dos poucos que carrega a história do seu bairro, da sua cidade e do seu estado, como base primordial não apenas para as suas rimas, mas inclusive em sua sonoridade. 

Principalmente através da conjunção com Douglas de Paula, Bidu sampleou a cultura sergipana e transformou isso de modo original em rap, seja através da inclusão de dona Nadir da Mussuca, uma das rainhas pretas da cultura ou mesmo pela incorporação do seu bairro: o Bairro Industrial, na zona norte da cidade. Assumindo o sotaque de sua cidade com um orgulho que se incorpora de certo modo na própria sintaxe de sua arte!

“Amo mais, amo muito, simples ato cabrunco, quem me traz leva junto, retorno de Saturno”

Neste novo trabalho, já na introdução a inserção dos áudios mostram os apoios, as vivências, as alianças, as tiradas, humor, confiança, distrações, confirmações. E essa incursão por diversas falas servem para nos preparar para a diversidade de temas e sonoridades que serão tratados ao longo do disco. Que fique escuro, não existiu esse ano, e nem na história do rap nacional nenhum disco parecido com o que é apresentado aqui, percebam não estou afirmando que o que é apresentado nas 18 faixas em 53 minutos, trazidas neste trabalho são melhores do que o que já foi feito. Mas é preciso notar, que essa construção presente em DMPM DMPM Vol.2 – O ano do Gabiru (2022) é única, não existe par, assim como do seu disco anterior. 

Ao seu modo único, Bidu consegue fazer um disco – de novo – e desta vez de modo acentuado, onde a falta de visibilidade às produções do menor estado do Brasil, se faz não em um manifesto, mas como uma forma singular onde a reivindicação por espaço é feita na própria construção do espaço musical e do seu preenchimento poético. Sergipe possui uma “pequena” tradição de coisas únicas: Lacertae, Snooze, The Baggios, no rock são bandas de excelência totalmente originais, que surgiram lá. É a essa tradição que Bidu se liga. 

A sua admiração pela música percussiva baiana se evidencia em diversos momentos, em “Denzel” ele faz um drill que poderia ser confundida com o axé music. Em “Total 90” com a participação do mano Leo SMP, o MC cita o Cidrak como skatista que precisava de incentivo, ora, estamos falando de um estado que gerou nada menos que Cara de Sapo (Fabrizio Santos), Alberto Gama – um dos maiores bodyboarders que esse país já viu, entre outros excelentes nomes. E é nessas potências, no reconhecimento da necessidade de se expressar com excelência, de manter os aspectos contra culturais do rap, do surf e do skate, que Bidu firma seu trabalho, se inspirando no movimento mangue beat.

Musicalmente, Bidu segue como Zé Peixe indicando direções para que o rap sergipano não seja uma mera cópia do que é feito no eixo do país. Como um prático que através da intuição e do conhecimento do mar da música que desemboca na orlinha do bairro Industrial, o artista desenvolve-se se nutrindo da lama daquilo que lhe é mais próprio. O surf e o skate, a cultura de rua e o hip-hop, são territórios e práticas transformadas em rap. 

Ele se coloca em conjunção com nomes de Salvador como Graffi MC e Jader Beats, associando seu bairro em um trap com a quebrada do Calebetão, não se trata de hype. A onda que começa no outside e vem até a beira chama o Felipe Expresso, em “Rua e Praia”. São diversos os temas abordados nas faixas, desde o lifestyle que quebra com o sistema novaiorquino tabaréu, até temas importantes que mostram a necessidade de inclusão das minas e das monas do game. 

Ele discorre sobre amor, sexo, política, visibilidade, a cartografia da “Violência e Gatilho” que afeta todas as nossas quebradas. Traz Marvin Lima – nome importante da renovação do rap sergipano – e traz também o bruxo Darthayan – que fez parte do icônico Alquimia Solar. Clama por iluminação em “Fiat Lux (feat Song Trapstar)” uma produção do grande DJ Feroz, citando o coletivo Boca Seca, importante para cena também.  

Uma track que merece ser conferida de modo solto é a “Maré de Março” que já tinha sido lançada como videoclipe, com uma produção muito bem feita, flagra, pra entender o que é o Ano do Gabiru, rataria sergipana e ou nordestina:

O disco é construído com diversos beatmakers: Cajutronic e ou aka Douglas de Paula, Jader Beats, petros, hiata/lsd produções, SB no Beat, Zé Castelan, Studio Plagio, um time que foi bem selecionado. A música “Movimento” traz a real bitch de Sergipe: Volúpia, que em confluência às rimas de Bidu sobre surfar Mavericks ou Nazaré, mostra as dificuldades do corre no dia a dia na pista, onde vários obstáculos se interpõem entre o artista e a profissionalização. Boicotes, tretxas por conta de inveja, dificuldades de produção… Ou seja é preciso estar atento não apenas de onde dropar e como dropar e manobrar, mas sobretudo dos obstáculos que se colocam antes da performace.  

A última faixa que Bidu apresenta, é uma obra prima, sem intenção de militância de boca, apenas ouça, pois esse simples ato, cabrunco, nos deixa felizes em perceber a força do rap sergipano, aqui incorporado e expressado através de um disco excelente!

-Bidu lança DMPM Vol. 2 – O ano do Gabiru (2022), várias Tretxas desse fi do cabrunco!

Por Danilo Cruz 

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