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Aganju & Big Troll lançam uma sujeira inaudita com Masterclass de Rima Vol. 1

Aganju & Big Troll

A dupla do Universo 75 Aganju & Big Troll soltaram o EP Masterclass de Rima Vol. 1 brocando os coletes do público gado e dos MC’s falsos!

Aqui é o Recôncavo, tru, não Pokemón” Pedro Pinhel (Original Pinheiros Style)

Desde 2017 com o seu antigo grupo Us Pior da Turma o MC, beatmaker e produtor musical Aganju Uh Anti Influencer vem construindo uma obra fonográfica muito importante e que vem se constituindo como um corpo de referência para o rap baiano. Através de diversas iniciativas de ação comunitária e de agenciamentos estéticos e musicais, junto a diversos parceiros e parceiras, tem-se expressado em multi plataformas solidificando assim uma ampla produção.  

O Hip-Hop é pensado por Aganju como um território livre de criação, assumindo expressões como a literatura, a teoria, a música, a poesia mas também como ação concreta. Seja com o Baile Pelo Certo, com o Cine do Povo, com o estúdio Ibori, com sua produção teórica e literária, Aganju tem provocado uma série de iniciativas políticas e musicais, que são sempre permeadas por uma visão política pan-africana. 

Fruto de SAJ – Santo Antônio de Jesus – o MC Big Troll é um dos parceiros de Aganju, e parte fundamental do Universo 75, onde já lançou o excelente Boom Classics (2021) onde assumiu a persona do Mestre Bêbado, no ano passado junto a Billy Sujo o disco “Movimente-se”. A lírica de Big Troll e os seus flows são um forte exemplo da grande qualidade e diversidade temática e técnica que o “Universo 75” guarda e a parceria com Aganju neste novo Masterclass de Rima Vol. 1, já tinha recebido um ensaio: 

Uma Aula Magna da sujeira – Masterclass de Rima!

Esse novo lançamento da dupla Aganju & Big Troll trabalha dentro de um registro onde a técnica e a lírica se insinuam como uma contra-efetuação aos MC’s fake que se pretendem grandes criadores mas não passam de velhos adolescentes, rebeldes sem causa ou meramente imbecis. A sujeira presente nas rimas da dupla não encontra parâmetros fáceis, a ambientação e a produção de beats levam ao ouvinte um clima de crueza e visceralidade como poucas vezes nós ouvimos. 

Aganju & Big Troll transportam sob seus próprios critérios inventivos e a partir de suas próprias vivências uma espécie de inspiração em Pedro Juan Gutierrez e a sua clássica trilogia suja de Havana. Porém, aqui o Cachoeira e SAJ são os territórios por onde a dupla extrai sua própria sujeira. Sem nem uma grama de moralismo cristão, o sexo, as drogas e consequentemente a crítica política aqui foge das categorias faceis de apologia, revolução, superação e quaisquer outros termos que fujam do imediatismo e da sujeira das ruas que a realidade impoe.

A hipocrisia neo pentecostal hoje plenamente rendida em grande parte a pautas fascistas, recebem um tratamento adequado já na faixa que abre o trabalho que recebeu o sugestivo título de “Meus Vizinhos é Tudo Crente”. Os prazeres selvagens, mortificantes, a estimulação, a recusa em ser feministo, recebe um beat cadenciado com um baixo pesado, pontuando os espaços entre o bumbo e o hit-hat, enquanto um sample de piano ambienta um conto sujo…

Não há moralismo, nem reconhecimento algum dos valores ocidentais judaico cristãos ou das instituições de um estado supremacista branco, sob a ilusão da esquerda ou da direita. Aqui a rebeldia é sobretudo um produto de uma visão escatológica do presente, não de um futuro por vir, totalmente descrente de um plano monoteísta e de uma cosmologia que busca antes a atualização ancestral de forças capazes de fortalecer a resistência, mas uma vez aqui, sem moralismo. 

A faixa “Barrunfado” afirma a potência de um perfume de ganja e ou de breja, diante de instituições formais do estado ou de seus apoiadores. Lembrando sempre que as exceções dentro desses coletivos são sempre confirmações da regra, e neste sentido a ambientação do beat de tensos efeitos sonoros e tiros sendo disparados, são equivalente musicais do beat para uma lírica que busca dar murro na cara dos reformadores, dos integracionistas e das linhas auxiliares.  

“Bate cabeça, briga de murro, o meu rap é sujo”

Aqui, Aganju & Big Troll assumem a sujeira sem sonhos de superação, de esforço passível de se transformar em meritocracia, de favela venceu, de comunista rico ou de fazer amizade com fracassados mas querer vencer. Não, em “Meu Rap Sujo” o modelo, o aliado é o viciado em crack no lixo, é o homicida, são os párias ou o lumpemproletariado se quiser. O registro aqui é completamente outro, o que os caras chamam de Rap Sujo é a potência extraída das vidas colocadas à margem, das substâncias que vitimam nosso povo e que são recreativamente utilizadas pela branquitude de boas!

As rimas produzidas ou se se quiser cozinhadas, sintetizadas, plantadas, cultivadas e colhidas pela dupla Aganju & Big Troll passam necessariamente pela visão de transformar suas cosmovisões, suas práticas de rua em substâncias fortes o suficiente para chapar. E isso não é força de expressão e muito menos uma metáfora, aja vista os procedimentos utilizados – suas próprias vivências com tantas outras substâncias – que os colocam para além de meros personagens/artistas. 

Uma das coisas mais difíceis dentro do rap nacional é a noção de Vivência, conceito oriundo da filosofia e da psicologia que visa dar conta de algo experienciado e transposto para o campo da criação. Ser capaz de expressar vivências limite, ser capaz de ultrapassar certas fronteiras e conseguir expressá-las não é tarefa fácil, mas a dupla Aganju & Big Troll fazem isso em Masterclass de Rima Vol. 1 (2023) com uma sobriedade que pode levar o ouvinte a achar fácil. 

Obras como essa, não são facilmente construídas pois a consciência artística precisa estar plenamente calibrada para dar conta das vivências, através de técnicas de construção lírica e instrumental, que fujam ao óbvio. É preciso um longo período de experimentação e estudo para alcançar a possibilidade de transpor isso de modo a comunicar a força de um pensamento que não se resume a experiência crua, mas antes, a crueza de uma experiência que é coletiva. Em “Aponta a desgraça da Rima” isso fica bastante evidente. A “Mob da Desgraça” aka 75 área, é aqui mapeada com a força da universalização que a arte requer. 

Não se trata de se projetar dentro de um contexto caótico, mas de extrair daí o que é seu e do outro diferente e igual a si mesmo. A poesia de Aganju & Big Troll nos parece seguir essa toada, mesclando vivências próprias e de outros, em um exercício de alteridade muito ímpar dentro do rap nacional. E ao mesmo tempo, entre a poesia rimada e ritmada, produzem também brevíssimas crônicas sobre o extremo, o limite da vivência negra na diáspora, um quadro muito vívido da Babilônia em que habitamos!

“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus, resolvem se encontrar”

Os desejos inconfessos por trás das máscaras sociais recebem um dos melhores tratamentos da história do rap nacional na música “O Amor da sua Vida”. Aganju & Big Troll, sambam por cima de um beat pesado e cadenciado da melhor safra boombap com um pianinho que serviu muito para as novelas do Manoel Carlos e suas caricaturas da Zona Sul carioca. Não há uma condenação a nenhuma prática sexual nessa faixa, mas sim aos segredinhos sujos, algo muito comum aos cidadãos de bem da branquitude mas não só. 

Sendo o desejo eminentemente algo político, quantos dos nossos atuais cidadãos brasileiros não escondem, não castram seus desejos mais inconfessos em nome de hábitos e costumes bem aceitos pela sociedade? E com esse procedimento temos em geral a latência de um recalque que volta muitas vezes através de um comportamento agressivo e reacionário pela incapacidade do indivíduo de sublimar seus impulsos, ou simplesmente de dar vazão aos mesmos. 

A toada segue na faixa seguinte que possui o sugestivo nome de “Castelano Minha Pica”, inicialmente falando do game, Aganju & Big Troll com participação do mano NeuroNêgo, elaboram uma avançada teoria contra a inveja do falo. A ideia central passa pela noção de reconhecimento e saúde, saúde sexual, ora se vai castelar a pica chupa ou então pede pra botar, talvez seja menos impotente do que a masturbação com dedinho às escondidas. Saúde mental, as rimas como locais de despejo e de trabalho da memória, das experiências e do desejo. 

Dentro de uma mercado racista porque capitalista e vice versa, dialeticamente falando estamos diante de um jogo sujo, de cartas marcadas, onde os produtores de arte dentro da cultura hip-hop estão sempre sendo observados, stalkeados, em favor dos investidores e dos simuladores de rima, dos pseudo MC’s. Sexo, crime, drogas, as experiências limite servem de exemplo aqui para a exemplificação da força poética e artística, sonora onde os caras rimam e se posicionam com força revolucionária!

Escute Masterclass de Rima Vol. 1, Aganju & Big Troll vão dar um nó em sua cabecinha, mas cuidado com a mamãe e o papai para não melar!

-Aganju & Big Troll lançam uma sujeira inaudita com Masterclass de Rima Vol. 1

Por Danilo Cruz 

 

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