Acid King lançou “Beyond Vision”, seu último álbum de estúdio, em março de 2023. Chegamos na reta final de dezembro e finalmente entregaremos a resenha desta pérola do stoner-doom.
Ufá! Deu tempo!
Na boa, eu não poderia deixar este ano insano de 2023 se encerrar sem lançar a resenha de “Beyond Vision”, álbum de estúdio da Acid King.
E vou ser sincero, a resenha demorou pra sair por pura procrastinação aleatória e non sense de minha parte. Porque eu ouvi esse disco o ano inteiro. Táqui o arrombado do spotify e sua retrospectiva algorítmica que não me deixa mentir.
Talvez por isso eu goste tanto da dobradinha stoner-doom!! Pra cutir lombra, preguiça, brisa, relaxar aditivado ou de cara, não tem coisa melhor!
E a Acid King vai é nessa vagareza mesmo, nessa lezeira prazerosa, na contramão da vida insana em que vivemos para acumular grana pra um bando de arrombado.
O último álbum de estúdio da banda, Middle of Nowhere, Center of Everywhere, havia saído em 2015. Portanto, são 8 anos separando estes dois álbuns. Tempo suficiente pra usarem as jam sesssions insanas feitas pela banda nesse período como oficina pra prepararem o que viria a ser Beyond Visions.
Um álbum denso e psicodélico
A sonoridade neste novo álbum é mais expansiva. Possui menos riffs carregados de sequencias com muitas notas. Usam andamentos ainda mais lentos e arrastados, privilegiando camadas sonoras envolventes, levando o ouvinte a um transe.
Trata-se de um álbum com músicas longas, temperadas com muito fuzz, que seguem se desdobrando num ritmo tranquilo e até afável. Inevitável não se deixar enebriar pela atmosfera gerada.
A formação da banda teve mudanças ao longo desses oito anos. Apenas a guitarrista Lori S., pedra fundamental da banda, permanece do álbum anterior para este. Na verdade Lori fundou e permanece à frente da Acid king desde sua fundação em 1993.
Lori com sua guitarra psicodélica e seu vocal onírico é acompanhada desta vez pelo baterista Bil Bowman e pelo baixista Rafael Martinez, que retorna à banda. O power trio nos brinda com faixas focadas no instrumental e econômicas nas linhas vocais.
Músicas longas, lentas e psicodélicas
As música são longas viagens sonoras, exceção da faixa “Destination Psych” com seus cerca de 1:36 minutos. Abre o álbum “One Light Second Away”, música com na qual a Acid King testa a capacidade do ouvinte de se deixar levar pela interposição de texturas ambientes acompanhadas por zumbidos insistentes antes de dar início de fato à música.
Parece que a intenção é gerar incômodo no ouvinte antes de oferecer o prazer. Estabelecendo assim um contraste que captura o ouvinte.
Uma vez capturado pelas vibrações relaxantes da Acid King, o transe é estabelecido e daí em diante é só deixar a brisa seguir seu caminho natural.
É uma peça instrumental eficaz, espacial com atmosfera pesada e solos legais. Talvez pudessem ter maneirado na fritação da introdução.
Poderia ser um tiquinho assim mais curta. Contudo, podemos ser mais compreensivos e considerar se tratar de uma forma de estabelecer uma base sólida para o desenrolar da música.
“Mind’s Eye” também se desenvolve lentamente; entretanto, o ritmo é acelerado, e os riffs e as linhas de baixo possuem densidade. Encaixam perfeitamente às melodias vocais cuidadosamente integradas ao instrumental por Lori.
Os trechos instrumentais são cativantes! São o ponto forte do álbum! A música possui o peso característico da banda e o trabalho de guitarra é matador. “Beyond Vision” desencadeia, como não poderia ser diferente, mais daquelas clássicas vibrações da Acid King, em toda sua potência revestida de fuzz, maliciosamente cativante.
Sem surpresas, mas com a velha pegada de sempre
“Beyond Vision” é um álbum para se perder durante sua audição, embora nem sempre da maneira que você gostaria. Dá-lhe jams lentas e envolventes, aumentos graduais e passagens instrumentais estendidas marcam presença sempre.
Os riffs distorcidos, leads exploratórios e os vocais etéreos de Lori flutuando dentro e fora do delírio febril psicodélico podem alternar entre agradavelmente envolventes, cativantes ou um tanto vagos em sua natureza.
Sessões de jams lentas e longas são marcas registradas da banda. Entretanto, a “quilometragem” varia ocasionalmente quando o objetivo da música se torna um pouco turvo demais e surge o desejo por ganchos mais definidos, além de um pouco mais de ação vocal de Lori.
No geral podemos dizer que o álbum não exagera no excesso das jams ou nos elos fracos entre as partes das músicas e entre as próprias faixas. Mesmo que uma faixa como “Electro Magnetic” de oito minutos e meio teste a paciência e não vá a lugar algum rapidamente durante sua execução. .
Portanto, meus amigos e minhas amigas fans da união entre doom e stoner, “Beyond Vision” é um retorno a ser celebrado de uma banda confiável com um histórico sólido e comprovado.
A Acid King cumpre sua missão novamente. Mesmo que seja um álbum desprovido de surpresas. Para quem aqueles fãs de longa data, certamente se sentiram satisfeitos ao terminar a audição de “Beyond Visions”.
Certamente não terão muitos amantes da Acid King elegendo “Beyond Visions” como um dos melhores álbuns da banda. Mas o álbum tem a sonoridade muito bem articulada e vai valer a audição.