Oganpazan
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A quebra dos padrões psicológicos

Imagine que sua vida vive em função de onde seu pai trabalha e você se muda mais que retirante fugindo da seca. Não cria elo com nada, muda de escola, de casa, muda sempre, sempre alheio. Tudo que você faz acaba carregando um clima passageiro, você só espera uma brecha para fugir e largar mãe e irmãos para alcançar a tão sonhado independência, sem que seu próximo passo seja premeditado pelas viagens de seu pai.

Só que enquanto você paga de gênio, tirando notas altíssimas no colégio, impressionando professores com teses filosóficas milhares de anos luz à frente de seu patamar intelectual, sua vida segue queimando as gotas do tempo em meio a pilhas de Nietzsche e bolachas do Elvis.

Por mais estranho que possa parecer, o primeiro parágrafo narra a vida de Jim Morrison, sim ele mesmo, o vocalista do The Doors. Seu pai era militar, logo, ele, sua mãe e seus irmãos, viviam em função da próxima peripécia que ele e o serviço americano aprontaria, mas se mostrando alheio perante tudo isso e excepcionalmente inteligente, Jim acabou rumando para o caminho das artes, mas antes teve que se libertar de seu pais, o que não foi tão complicado, pois tão logo o colégio tinha terminado, ele já estava com seus avós tramando sua ida para a UCLA.

A UCLA era O LUGAR naquele tempo, era lá que Jim pertencia e era lá que seus ídolos da literatura Beat (como Jack Kerouac), perambulavam. Era a vida dos livros psicografada para o mundo real na saudosa Califórnia, e cursar cinema foi o caminho escolhido para o futuro vocalista, que levando a faculdade com médias bem abaixo das quais concluiu seu ensino primário, não teve problemas para se formar.

Mas bem na última etapa do processo, depois de apresentar uma singular produção com seu nome nos créditos, Jim não aguentou as críticas e largou tudo, ele estava praticamente formado, mas nem se deu ao trabalho de buscar o diploma. No dia da entrega ele estava fumando maconha em Venice Bech.

Tentando expandir as portas da mente, elementar meu caro Aldous Huxley. Bastou um encontro com Ray Manzarek (então chefe do Rick And The Ravens), para que Jim fingisse tocar guitarra, que o embrião dos Doors já começou a palpitar. Aliás, segundo o próprio Morrison, este foi o dinheiro mais fácil que ele havia conseguido em toda sua vida. 

Line Up:
Jim Morrison (vocal/percussão)
Ray Manzarek (piano/teclado/vocal)
Robby Krieger (guitarra/vocal)
John Densmore (bateria/vocal)
Larry Knechtel (baixo)
Paul Rothchild (vocal)

Track List:
”Break On Through (To The Other Side)”
”Soul Kitchen”
”Crystal Ship”
”Twentieth Century Fox”
”Alabama Song (Whiskey Bar)” – Kurt Weill/Bertolt Brencht
”Light My Fire”
”Back Door Man” – Willie Dixon/Chester Burnett
”I Looked At You”
”End Of The Night”
”Take It As It Comes”
”The End”

A música do Doors tende a parecer vaga para muitas pessoas por que até hoje não se sabe como Jim morreu, nem se ele de fato não morreu. O vocalista sempre tratou de deixar bem claro que todos eram iguais dentro da banda, inclusive, mesmo compondo a maior parte das músicas, fazia questão de dar crédito coletivo.
Para este que vos digita, Jim viveu intensamente desde o momento de seu nascimento até um pouco antes da conclusão de seu último disco em vida, o fantástico ”L.A. Woman”, LP que marca o começo, a intensificação e o ápice de seus problemas psicológicos. A questão era lidar com sua própria imagem de Rockstar desajustado, reflexo esta que ele odiava e que por meio da poesia e do cinema, tentou, sem sucesso, alterar.
Creio que em certo ponto a expansão das portas tenha ficado em segundo plano, Morrison fez de sua vida um experimento, desde o que escolhia para temperar a química de seu corpo, até o modo como lidava com as pessoas.

Ele fazia delas mais profundas e tirava o pouco que de fato lhe interessava. Sua vida foi intensa e a forma devassa e com clara inspiração poética com a qual guiou seu romance Dionisíaco, deixa isso claro, mas o que nos encantada em relação a sua imagem e seu legado, é o por quê de tudo isso.

Repare que Mr. Mojo era um anti Rockstar completo, aliás para só um cara se equipara nesse estilo com ele, Jerry Garcia do Grateful Dead. Ambos viviam jogados por aí, absolutamente alterados, mas sempre se importando em passar algo válido, e o erro para mim, pelo menos a respeito de Jim, foi viver com uma imagem que ele não poderia alterar. Apesar de possuir todas as ferramentas para poder fazê-lo, ele simplesmente não conseguiu.
No palco nunca ninguém teve uma movimentação similar a do vocalista, ninguém nunca parou uma música e ficou em silêncio por vários minutos para incitar um tumulto, se jogou no palco e por lá ficou, ou até mesmo virou de costas para começar a improvisar longos diálogos. Seu amado cinema e poesia tinham função predominante no show do Doors.
Nenhuma banda na história deste planeta atingiu esse grau de inexplicabilidade. O Doors era uma força da natureza e cada detalhe, desde a batera Jazz de John Densmore, até a guitarra pouco citada, mas de interessantíssimo fraseado do criativo Robby Krieger, culminando na mão esquerda baixista e direita tecladista do grande Manzarek, uniu o todo ácido no ponto cego de nome James Douglas Morrison.
Posso escrever por horas, voltar bêbado, retornar chapado e me entupir seja lá do que for, mas nunca teremos uma fórmula para este som, nem respostas para tudo que o permeou e outrora formou a música dos californianos.

Todos eram diferenciados, intelectuais, artísticos e a procura de um ”algo a mais” que nunca será encontrado, tampouco entendido. Pode ser uma prova teórica (em vinil), para o entendimento de uma tese filosófica inconclusiva sobre o impacto deste fenômeno psicoativo.

Pode ser ao som de ”Break On Through”, as panelas de ”Soul Kitchen”, a tecladeira malhada e nervosa de ”Twentieth Century Fox” ou dos cigarros acesos ao som de ”Light My Fire”… O que melhor explica o Doors é ”The End” e ela continua sem legenda…

Digo apenas que é único, fantástico e fruto de algo que não merece ser torturado até criar algum néctar de informação. Escrever sobre essa banda nunca pode ser algo definitivo, algo sempre fica em aberto e eu prefiro que seja a música. Garanto que Morrison estaria rindo dessa falta de conclusão, mas foi aqui que o dilema começou, com gosto de sangue, alucinógenos, requintes de bruxaria e um Whisky para passar o tempo… Set The Xamã Free!

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