A biografia do Slayer conta bem mais que a história de uma banda, mostra a origem e o desenvolvimento do trash metal.
Nos últimos cinco anos, talvez um pouco mais, o mercado editorial mundial foi invadido por um tsunami de biografais de bandas e astros do rock.O mercado editorial brasileiro neste mesmo período vem recebendo os efeitos dese fenômeno, que se não me engano, teve início com a publicação de Eu Sou Ozzy!, autobiografia do Príncipe das Trevas que vendeu horrores por aqui. Desde então as traduções e lançamentos de livros dessa natureza ganham edições brasileiras e conquistam espaço nas pratilheiras em livrarias de todo país.
No meio de tantos títulos, certamente existem trabalhos caça níquel. O aquecimento desse mercado não passou desapercebido por editoras, biógrafos e músicos. Devemos estar atentos, pois algumas obras parecem apenas atender o interesse de editoras em amealhar alguma grana desse mercado e de artistas e bandas em se promoverem. Quem sabe ter seu nome novamente ventilado no mundo da música por essa via rende alguns shows, convites, turnês.
“O Reino Sangrento do Slayer” não faz parte desse tipo de trapaça. Joel McIver merece aplausos pelo excelente trabalho feito nesta biografia. Mais do que contar a gênese e desenvolvimento de uma banda, ele conta-nos sobre o surgimento de um novo gênero musical o Trash Metal.
A cena rocker da California no o final dos anos 70 e início dos 80 caracterizava-se pela presença marcante do Hardcore e do chamado Classic Heavy Metal, representado pelas bandas de metal britânicas. Esse ambiente musical ofereceu a matéria prima para o surgimento de novas bandas que acabaram por fundir as características de um estilo e outro. Essa parte referente ao contexto histórico da Califonia entre décadas de 70 e 80, em particular na faixa territorial entre Los Angeles e São Francisco, responsável pelo surgimento do Trash Metal é analisada minuciosamente por Joel McIver. O autor mostra como foi a participação do Slayer em sua construção e vice versa.
Outra banda importante dava seus passos ao mesmo tempo que o Slayer, era o Metallica. McIver se preocupa em analisar o papel do Metallica na constituição da cena e como o lançamento de seu primeiro álbum meses antes do primeiro álbum do Slayer, colocou o quarteto de Los Angeles entre os principais nomes do rock mundial. O autor explora bem a disputa entre Metallica e Slayer para estar à frente no que diz respeito a determinar os rumos dessa nova trilha do rock pesado.
Por ter conseguido se organizar profissionalmente com maior rapidez e eficiência o Mettalica saiu na frente. O Slayer permaneceu na dinâmica do tentativa e erro do amadorismo durante muito tempo. Claro, estar à margem levou a banda a desenvolver sua identidade agressiva, mórbida e suja, desligando-se por completo do que o Mettalica vinha fazendo. Essa disputa entre as bandas foi extremamente benéfica à disseminação e desenvolvimento do trash, levando ao surgimento de muitas outras bandas dentro deste gênero do rock.
A biografia se destaca pela participação ativa dos membros da banda, produtores, amigos e todos que tiveram participação direta ou indireta na trajetória da banda. Os depoimentos e trechos de entrevista usados ajudam a entender o ponto de vista da banda sobre sua própria história, as vezes conflitantes com a visão dos fans e do próprio autor. As nuances e tensões originadas desse confronto de perspectivas permitem uma visão mais crítica e detalhada sobre o que é o Slayer.
Essa dinâmica utilizada por McIver para contar a história do Slayer ajuda a compreender todo contexto de criação dos álbuns da banda. São feitas análises cuidadosas do autor sobre cada álbum, buscando compreender a importância de cada um para a discografia da banda e para a história do rock pesado. Os músicos e produtores são convidados a falar sobre os motivos que levaram a compor aquelas músicas, escolher aquela sonoridade, capa, etc. A visão que tinham na época durante gravação e depois sobre o resultado final com o lançamento são colocadas na mesa, inclusive problemas internos que geraram feridas profundas por parte de alguns membros da banda.
O Reino Sangrento do Slayer é um registro cuidadoso, sério, que pode ser considerado fonte de pesquisa para estudiosos da história do rock, para quem quer se aprofundar sobre na história do Slayer ou simplesmente conhecer um pouco melhor a história de uma das mais importantes bandas da história do rock. Embora exista rigor quanto a elaboração desse material, não é difícil compreendê-lo, pois o autor opta por um estilo de escrita mais direto, que não tem problemas em recorrer a simplicidade da escrita.
Ficha Técnica:
Titulo: O Reino Sangrento do Slayer
ISBN: 978-85-62885-06-8
Ano: 2013
Idioma: Português
Páginas: 368
Fotos: Sim (raras do começo da banda aos dias de hoje)
Tamanho: 16cm x 23cm
Acabamento: Capa Dura
Tradução: Marcelo Viegas
Autor: Joel McIver
Título Original: The Bloody Reign Of Slayer
Editora: Edições Ideal