Os Gray’s estão entre nós

‘My Friend Is A Gray’ lançou recentemente ‘Jassom’, EP que conta o primeiro arco da saga cósmica de ‘Tasca’. 

Ficção Científica, literatura fantástica + sludge, stoner e doom

 Se você acha que o nome da banda, My Friend Is A Gray, é uma homenagem ao amante canastrão daquela franquia literária agridoce e cinematográfica Cinquenta Tons de Cinza, você errou. Mas se você acha que o nome se deve ao fato dos caras serem fans alucinados de Grey´s Anatomy, isso mesmo, aquela série que aborda os enlaces amorosos de profissionais da saúde de algum centro médico da high society estadunidense, tipo novela do Manoel, você errou mais feio ainda.

Os integrantes da banda curtem é ficção científica, uma literatura fantástica, terror misturado com ficção científica, naquela pegada Lovecraft, Edgar Allan Poe, literatura Pulp, esses malucos diatópicos que misturam ficção científica, com realidades alternativas, viagem no tempo e todo tipo de doidera alucinada tipo Isaac Asimov, Arthur C. Clark, Philip K. Dick, essa galera que curte uma distopia, que levando em consideração a atual condição socioeconômica do Brasil já dá pra chamar de realismo fantástico.

É desse emaranhado de referências literárias, mais o universo do cinema que gira em torno dessas temáticas, mais teorias da conspiração alienígena, na pegada agente Mulder, juntando as sonoridades do sludge metal, doom metal e stoner rock, mais um efeito noiseante tirado daquie e ali, que a My Friend Is A Gray extrai a matéria prima de suas composições. 

Nem Grey´s Anatomy nem Christian Grey

A gente já eliminou as referências que pareciam obvias pra inspirar a criação do nome da banda. Diante das pistas do que move o gosto estético dos caras, talvez você ainda queira arriscar mais um chute e meter um Dorian Gray, protagonista de O Retrato de Dorian Gray, romance cheio de viagens escrito por Oscar Wilde.

Embora esse chute faça sentido, passa bem longe do gol. Na verdade a inspiração vem daquela teoria conspiratória que inspirou filmes e mais filmes. Tou falando da suposta aterrissagem de um disco voador na cidade de Roswell no Novo México no final dos anos 40. Aí você já associa até à lendária Área 51 e declarações pipocando desde então de pessoas que juram terem sido abduzidas. Ces sabem que a cidade é a Varginha estadunidense né? Tem referencia a ET pra todo lado, mas que não tem nada como o ponto de ônibus em formato de disco voador da cidade do sul de MG.

O lance é que os Et´s ficaram conhecidos com grays, afinal você já assistiu o filme do Spieslberg e lá o Et é cinza, prova de que o apelido é procedente. O nome da banda vem daí e se você conseguiu ser passar de ano em inglês na escola você sabe muito bem que a tradução é Meu Amigo é um Cinzento. Quer dizer, alguém na banda tem um amigo Et, talvez um dos caras da banda seja um Et. Mas fica difícil saber qual deles, já que todos são amigos um do outro, o que pra nós fica difícil determinar qual deles é o Gray.

Cara, até eu me perdi aqui. Vamos falar sobre o Ep antes que essa brisa passe!

“Jasoom”, o primeiro arco de uma viagem interplanetária interdimensional

Gray
Capa do EP Jassom

Esses amigos do Gray são cheios de ousadia! O negócio dos caras é que esse EP, o Jassom, é o arco inicial de uma história que os caras vão contar ao longo de 4 EPs, que como partes de um poderoso Megazord, juntam-se pra formar a saga Kaballah. Então meus caros e minhas caras, vocês tão diante da primeira parte dessa saga.

Opa, outra coisa, não se trata apenas do Ep sonoro, tem a parte visual, inclusive tá lá no início da matéria e você não assistiu. Vai lá assistir antes de continuar.

O EP, Jassom, om, om, om 

Os caras meteram um EP visual, cuja letra das músicas são o roteiro. A primeira faixa recebe o nome do personagem principal, Tasca. Bom, mas isso é o Ep, no vídeo rola uma introdução e vemos o Tasca com aquela cara de quem acordou numa ressaca fudida e não consegue lembrar do que rolou na noite anterior, sabe comé? Ele vai andando no meio de uns escombros dentro de um prédio. Você tem a ideia da real condição do mundo através do buraco de ventilação, que tem um ventilador todo zoado, rodando aos trancos e barrancos, mostrando um céu avermelhado, naquele jeitinho Mad Max de ser.

Vem um corredor todo detonado, sujo pra caraio e o Tasca vai lá com a cara de quem tá tentando se achar na vida, seguindo pelo corredor. A câmera dá um giro e pega o Tasca subindo uma escada e saindo por uma abertura que o coloca numa espécie de anfiteatro todo regaçado. Aí começa a música que leva o nome do personagem, bem calminha com um vocal suave, um pianinho martelado com suavidade ao fundo, linha de baixo redondinha, a camera volta na cara de quem não entendeu o que aconteceu mas que já ta quase lá do Tasca.

Aí neném, o mundo cai! A banda entra e o vocal suave vira um gutural intenso, com aquela paredinha sonora reverberante de fundo, que é quando a realidade avacalhada do mundo Mad Max se bota todinha pro Tasca.

Tokusatsu, abudução e Lula 2022

Ow, na música 02, “Daikaiju”, vem outra referência dos caras, que é uma das referências da minha infância, que são os tokusatsu, aquelas séries japonesas ali dos anos 80 e 90, que traziam super heróis referenciados na cultura japonesa. OS daikajus eram personagens recorrentes nessas séries bicho. Quem não se lembra do Satan Goss ou Gyodai, transformando os malucos nos daikajus chapados pra cair de pau no Gigante Guerreiro Daileon e no Change Robô?

Sem falar que os daikajus fazem parte do cinema de ficção científica do Japão né? O mais famoso é o Godzila, mas os filmes com essas criaturas vem desde os anos 50. Trazendo, inclusive, uma pá de daikajus inimigos do Godzila, ou Gojira. Segue a fila aí: Rodan (1954)Mothra (1961), Gammera (1965). Dentre uma pá de outros filmes que eu não vou colocar aqui pra não estender essa sessão nerdológica da cultura japonesa.

Porém, essas referências são importantes, a prova é que a capa do EP, que tem essa arte maravilhosa, tem um Daikaju. Uma LULA gigante vinda do sertão nordestino pra esmagar uma criatura sebosa e insana, opa, essa é outro LULA … Mas a Lula espacial gigante da capa é o Daikaju da música,  que nos revela que o Tasca tá é num outro planeta. O maluco foi abduzido pela Lulona e tá nos escombros de uma civilização alienígena. Bom, ou nos escombros de uma civilização de outra dimensão. 

Não dá pra deixar de elogiar a arte dessa capa né? Puta que pariu! Que coisa maravilhosa! Espero que os caras prensem umas bolachas desse Ep, nem que seja pra eu jogar na parede de casa já que eu não tem toca disco.

My Friend is a Gray
My Friend Is A Gray.

Segue daí Outer Gods, aliás, o single lançado pra promover o Jassom. Suponho eu que Outer Gods, seja algo como ‘outros deuses’, como diria o Senor Abravanel, “Suponho eu, eu não sei de nada”. Só sei que faz todo sentido, eu se tivesse sido levado pruma outra dimensão ou planeta por um bicho daquele eu ia fundar uma seita e chamar a Lula de deus.

O negócio é que o Tasca não tem alternativa ali, afinal, naquela altura ele já saiu da fase da negação e já ta é aceitando que o bagulho agora é louco, é em outra dimensão ou planeta, e que ali ele é o lado mais frágil da corda existencial.

Fecha o Ep a faixa “Dota Sojat”, que é o nome de um guerreiro marciano que protagoniza umas historias do Edgar Rice Burroughs, isso, aquele autor que ficou famosão por ter criado o Tarzan. Num sei se os caras pegam o nome do guerreiro pra tentar dar ao Tasca uma motivação pra tentar sair daquela situação, mas pra mim faz sentido. Porque, amigo, tem mais 3 Eps pra vir aí e acho bom o Tasca dar um jeito de lidar com essa porra toda aí. 

Mudanças entre 18 e 22

Quem conhece minimamente o trampo da My Friend Is A Gray, caso não tenha reconhecido o nome Tasca, ao menos ficou com aquela leve impressão de familiaridade com o nome. E não é a toa, este é o nome do álbum de estreia da banda, lançado em 2018. Naquele álbum já temos as referências da cultura pop que atraem os caras.

A faixa Mcfly, referência ao personagem vivido por Michael J. Fox na trilogia De Volta Para o Futuro, ou a faixa Swam Thing, clara referência ao personagem das hq´s da Vertigo, que ganhou projeção com a as reformulações feitas pelo mago Alan Moore. Daimien que já remete ao capeta em forma de guri do clássico A Profecia (1976).

Isso aí foi até onde meu folego neológico permitiu ir. As pretensões da banda com essa obra em quatro atos que é Kaballah, mostra pretensões artísticas mais ousadas da banda, o que levou a galera a estabelecer mudanças. Ou sei lá, talvez as pretensões e a ousadia tenham vindo da necessidade de transformar a sonoridade da banda.

O fato é que os caras mudaram a abordagem, buscaram uma nova linguagem ao fazer um Ep visual e incorporaram mais peso à banda ao deixar o stoner metal, predominante no álbum de 2018, e incorporar elementos do Sludge e do doom. O resultado, a meu ver, é uma identidade sonora mais evidente. Acho que o fato das faixas terem uma ligação direta entre si para contar uma história, contribuiu para a constituição de um fluxo ininterrupto da primeira à última faixa de Jassom.

Eu já tou esperando ansiosamente o próximo EP e não espero nada menos do que ouvi em Jassom.

 

FICHA TÉCNICA BANDA:

Guitarra e Vocais – Marcos Cupertino

Guitarra – André Gallo

Baixo – Tomaz Loureiro

Bateria – Derlei Magalhães

Sintetizadores e Programação – Rafael Muñoz

ARRANJO: Marcos Cupertino André Gallo Tomaz Loureiro Derlei Magalhães Rafael Muñoz

MIX E MASTER Vicente Fonseca

PRODUÇÃO MUSICAL Marcos Cupertino

PRODUÇÃO VISUAL Coringa Art

DIREÇÃO Nelson Aguiar e Marcos Cupertino

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA E EDIÇÃO Nelson Aguiar

ASSISTENTES Rafael Muñoz Kleyman Rodrigues Fábio Sacramento

DESIGNER Derlei Magalhães

CONVIDADO ESPECIAL – Isaac Fiterman como Tasca

LOCAÇÕES Cine – Teatro Jandaia Vale Encantado

 

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