Não existem estilos ou abordagens: o Thundercat só faz música

A Cena de Jazz contemporânea aglutina nomes que devem enlouquecer a vida de quem classifica as bandas por estilo no Spotify. Um movimento encabeçado por artistas profundos e multilaterais, esse levante contempla nomes – que vão desde o baixista americano, Thundercat, até o trompete do seu compatriota, Ambrose Akinmusire – com uma liberdade criativa exuberante.

O Thundercat – Stephen Bruner pra quem quiser separar o homem do conceito criativo – consegue ir do Jazz, passando até mesmo pelo Trash, Funk e Hip-Hop, tudo sem que o ouvinte muitas vezes perceba a grande versatilidade de seu fraseado.

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Foto: Emanuel Coutinho

Em 2018 o baixista passou pelo Brasil pela segunda vez em sua carreira. Depois de assombrar o público de São Paulo com um show telepático – como parte da grade do Festival Jazz na Fábrica em 2017 – o baixista retornou para um novo show em trio no Cine Jóia, já em 2018.

O resultado foi um espetáculo coeso, mas que teve sua potência tolida devido a fraca acústica da casa, que fica localizada no bairro da Liberdade, tradicional reduto oriental da cidade de São Paulo.

Foi durante a semana mesmo, na quarta-feira do dia 09 de maio, bem ao lado dos grooves inventivos de Dennis Hamm (teclados/sintetizadores) e do swing técnico, porém bastante agressivo de Justin Brown, que o baixista subiu ao palco sem cerimônia, de chinelo mesmo e tocou por quase duas horas.

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Foto: Emanuel Coutinho

Desde os temas de seu disco mais recente (“Drunk”, terceiro disco de estúdio lançado em 2017) até sons do EP “The Beyond/Where The Gians Roam” (2015), passando por temas do Flying Lotus “Cosmogramma” (lançado em 2010), o que se viu foi um músico completamento liberto e que é obstinado pelo novo.

Seja eles em carreira solo, via colaborações com o Michael McDonald & Kenny Loggins ou fazendo beats com o Kendrick Lamar, o que baixista busca é criar e continuar confundindo a cabeça de quem ainda acha que é necessário rotular o que ele faz.

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Foto: Emanuel Coutinho

É um posicionamento denso, uma filosofia lírica muito desafiadora, talvez até mais do que os intrincados movimentos que o trio destilou sob o palco com a naturalidade de um aposentado que vai pegar água na cozinha de madrugada.

Só que tudo isso é real e eu precisava falar com o meliante pra tentar entender e captar um pouco mais sobre todo esse infinito particular que é a música que sai do seu Ibanez.

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Arte: Rafael Panegalli

Antes de debulhar a entrevista, é válido relembrar que esse relato é de 2018. Portanto, não considera o play “It Is What It Is”, lançado em 2020 – novamente via Brainfeeder Records. Esse disco ganhou um grammy na categoria de melhor disco de R&B Progressivo (vai entender o que é isso) e consolidou o status do artista como um “dos caras” do cenário contemporâneo, ao lado de figuras como Robert Glasper, por exemplo. 

Entrevista:

1) Desde a época do grupo “Young Jazz Giants” (2004), um quarteto formado por você, seu irmão Ronald, Kamasi Washington e Cameron Graves, vejo sua música evoluir e absorver novas referências. Desde 2004 até agora, você tocou com o Suicidal Tendencies, foi rumo a carreira solo e gravou outros discos muito interessantes ao lado do próprio Kamasi e do Kendrick Lamar, fora várias colaborações com a Erykah Badu e o Flying Lotus, por exemplo. Como que foi tudo isso, como essa experiência funcionou pra você em termos musicais?

Como tudo isso aconteceu comigo? A maior parte do tempo eu acho que é tudo uma questão de influências e da quantidade de tempo que você passa junto com um instrumento.

É tudo muito similar, sabe? A música, em todos os aspectos e lugares funciona como uma linguagem e eu acho que se você conseguir ver isso, é algo muito diferente, mas ao mesmo tempo a questão de gênero musical funciona como a ideia de música no sentido literal da palavra, então se você quer tentar e seguir novos rumos criativos você pode. Não é loucura! (risos).

2) Qual é a sua opinião sobre essa nova cena de Jazz que está surgindo. Existem grandes instrumentistas como, Yussef Dayes Nubya Garcia, você… Todas essas grandes bandas e sons da Inglaterra, Estados Unidos. Como você avalia esse movimento?

Eu acho ótimo, realmente muito bom. Observar a música sendo criada é sempre uma coisa muito boa, sabe? Às vezes as pessoas fazem música de lugares malucos, mas ao mesmo tempo eu sempre penso no sentimento que é ouvir boa música sendo feita e eu gosto bastante de assistir todos esses caras criando e lançando coisas.

São vários novas ideias sendo formadas o tempo todo… Toda essa excitação, sabe? Eu acho que esse é um fator fundamental para o “agora” da música e explica um pouco sobre a produção prolífica dessa nova geração de artistas.

Um dos meus artistas favoritas hoje em dia, um dos meus maiores amigos nesse mundo é o Donald Glover, o Childish Gambino. Ele acabou de lançar um vídeo (“This Is America” e o conteúdo é uma verdadeira declaração.

É um sinal dos tempos que vai do Jazz até literalmente… A cultura popular. Em resumo, tudo o que quero dizer é: que trata-se de um ótimo momento pra se fazer música.

3) E sobre o Brasil, você conhece algo sobre música brasileira?

Claro! Por onde eu começo? Milton Nascimento é claro, Egberto Gismonti, Gal Costa, Marcos Valle, Arthur Verocai e por aí vai.

4) Tem um músico em particular chamado Michael Pipoquinha, um grande baixista brasileiro. Tem vídeo dele tocando até com o Jacob Collier. Você o conhece? Acho que se dariam muito bem!

Ele tocou com o Jacob Collier? Eu não conheço hahaha Conheço o Jacob, mas eu definitivamente vou sacar o som dele. De fato não o conheço por nome.

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Arte: Rafael Panegalli

5) Tentando pensar num registro desse atual momento, como você pensa que esse som será visto pensando à longo prazo?

Eu realmente tento não pensar tão a frente assim. Eu estou bastante focado no agora, em fazer música nesse momento. Existe uma cena ótimo, com muitas coisas surgindo, mas é difícil colocar isso em perspectiva por que você não sabe o que vai acontecer daqui a alguns anos, sabe? Eu só estou tocando. Tem muita música rolando, muito coisa diferente no ar.

6) Como um grande fã de Zappa eu preciso perguntar como a música dele impactou o seu som.

O Zappa criou muita coisa. A música dele transcendeu estilos e eu sempre penso o que ele acharia da música atual. O que ele estaria fazendo hoje em dia, sabe? Quais técnicas, projetos, músicos… Como ele faria música.

Eu acho que ele iria curtir o trabalho do Donald Glover, o Childish Gambino, o Kendrick Lamar, Robert Glasper.

Ele estava à frente do seu tempo.

Completamente  e se você ouvir sua música hoje em dia ainda soa novo, carrega um frescor e todos deveriam ouví-lo. Ele definitivamente significa muito para a música.

Para conferir o set de fotos completo, basta clicar aqui.

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