OG Nigga é um dos MC que tem chegado a cena e proosto uma renovação no rap baiano, e paseando por subgêneros muito diferentes entre si!
Quanto mais prospectamos a cultura hip-hop em Salvador, mais percebemos a imensa riqueza de seus atores e atrizes. Em qualquer um dos 5 elementos da cultura, sempre somos colocados de frente com ricas histórias e muita qualidade técnica. A ausência de holofotes que gerem visibilidade não impede que essas pessoas brilhem junto aos seus, junto às suas, por toda a extensão desse estado de proporções continentais.
A complexidade de atravessamentos que operam nesses indivíduos, é muitas vezes de difícil percepção, se tomarmos apenas as obras destes como parâmetro. Após lançadas, as músicas, clipes e discos tendem a entrar no circuito da indústria cultural e a serem esvaziadas como um produto a mais. A história de vida por trás das produções de OG Nigga, MC baiano de muita versatilidade e linhas duras, é certamente um vetor essencial para esse jovem que tem transposto para sua música sua vivência nômade.
Desde a mais tenra infância, OG Nigga desenvolveu um forte amor pela música, algo que foi potencializado pela sua presença dentro da igreja junto aos seus pais. O amor pelo canto e o conhecimento técnico adquirido em corais religiosos fazendo as 4 vozes, encontrou na escola outra dimensão, ao poder desenvolver as letras que já escrevia tendo o rap como motor musical. Inicialmente, OG Nigga começou a escrever levado pela paixão por uma colega de escola, porém já nesse primeiro período adolescente, tendo saído da igreja, o artista passou a buscar sua visão de mundo, e o hip-hop passou a ser um espaço onde suas ideias foram aos poucos sendo desenvolvidas e expressadas através do rap e depois no pixo.
Nascido e criado inicialmente no bairro da Sussuarana, o nomadismo impulsionado pela busca de sustento e oportunidades o levou a morar um tempo na cidade de Gandu, interior da Bahia. Porém, foi na região do subúrbio, tendo morado em praticamente todos os bairros da localidade, que OG Nigga passou a frequentar batalhas de rap, nos encontros de jovens que ocorriam na Barra, mas precisamente em frente ao Farol. Na correria do cash, o poeta encontrou nos “busus” de Salvador um local para tirar o seu sustento, e nesse rolê de recitar, a busca em participar de um SLAM, o fez criar o coletivo CCL (Coletivo Cachorro Louco).
Todo esse rolê é o substrato para os trabalhos que o MC tem colocado em seu canal do youtube desde 2018, músicas – muitas delas – que foram escritas alguns anos antes. Esse movimento é fruto de uma tomada de consciência na busca de profissionalizar o seu trabalho artístico. Por indicação de Dimak entramos em contato com esses trabalhos de mais uma jovem promessa do nosso rap, que chega buscando uma estética e portando uma lírica suja, versátil, realista e muito bem ancorada em suas vivências.
Contando já com dois EP’s na caminhada, Ultra-Passando-Hits trabalhando no Trap com originalidade e ideias que dialogam com essa estética musical e ao mesmo tempo pautando questões políticas como na faixa Democracia, escrita ainda no período em que estava na escola. Um dos destaques do EPzinho é a faixa Camisa de Time e Prata, que ganhou um video clipe gravado no subúrbio ferroviário e teve destaque dentro da cena baiana. ao longo do EP podemos perceber como a mudança da entonação vocal se adequa aos climas que cada faixa propõe. Além disso, o próprio artista muda o tom dentro das faixas, às vezes dando a impressão que é um feat, e variando o flow e o canto. Ouçam e tirem a dúvida!
Na busca por equilibrar a vida – as necessidades materiais – e emplacar seus trabalhos artísticos, OG Nigga vem enfrentando muitas dificuldades ao longo dos anos, e isso causa um efeito interessante em quem entra em contato com os seus trabalhos. Seus lançamentos são retroativos, pois trazem músicas que foram compostas já há algum tempo, é o caso do EP Original 7 (2020). O ouvinte mais atento vai perceber um 2016 ao lado da primeira faixa que remete a data em que foi feita.
Aqui podemos visualizar o momento em que o artista estava imerso no universo do boombap e do trap, naquele período que mencionamos, onde o mano tava presente nas batalhas de rimas; Esse movimento retroativo é muito bacana pois nos mostra como estamos diante de um artista muito versátil, capaz de passear como um bom MC por diferentes estilos de rima, com consciências das distintas métricas e situando sua lírica de acordo. Em Original 7 novamente podemos perceber o apuro vocal como um elemento importante em sua arte. Críticas sociais e introspecção, auto valorização da cena baiana, reivindicando a singularidade nordestina nas produções. Saquem esse trampo…
Último lançamento feito pelo OG Nigga agora em 2021, a faixa 163 Gang é um drill onde o título homenageia a gang de pixação 163, de manos que seguem nas ruas bagaçando sem miseria. Utilizando um tom mais grave do que tinha produzido antes, a faixa demonstra um artista pronto, com uma caminhada que vem das ruas para a internet e não o mood atual de rappers de quarto e internet. A mãe do artista manda um salve na abertura da faixa, Dona Adelaide, abençoando e passando a visão pra geral. O beat da faixa é de Muddy, que fez um drill nervoso onde OG Nigga destila a visão dos seus corres pela quebrada.
O clipe chama atenção por apresentar uma estética muito agressiva e ao mesmo tempo familiar, seja da família da rua, seja dos de sangue. OG Nigga estudou bem e ja faz um tempo para conseguir chegar forte nessa estética, e certamente conseguiu. Resta ao público conhecer o trabalho e segui-lo nas redes sociais para não perder mais nenhum lançamento, faremos o mesmo!
-OG Nigga, uma jovem promessa do rap baiano, do boombap ao drill
Por Danilo Cruz