Como é possível combater todo a gama de conteúdo descartável que é produzido em nosso país a toque de caixa? Como alguém pode criar resistência o suficiente a ponto de remar contra esse tsunami e ainda assim conseguir algo de relevante?
Bom, teoricamente não existe nenhum tipo de ”plano infalível”, mas uma solução próxima a esse fim atende pelo nome de Epicentro Cultural, um espaço que consegue fazer parte desse novo movimento: o pensante, a criação de ideias em teia de relacionamento, fator que que busca a conexão de mentes a ponto de inseri-las dentro de um sistema de pura retroalimentação cultural. Loco não é?
A arte sempre foi um polo que enlouqueceu várias mentes (a tal ponto de fazê-las trabalhar com o mesmo assunto), pois independentemente do gosto do receptor, qualquer manifestação fará justamente o que o Epicentro consegue: elencar um pertencimento sem tamanho, isso fora os novos pontos que sua percepção conhecerá a partir da arte, mas também junto dela.
Muitos assuntos que então te ocupavam não serão mais relevantes, dentro do espaço a arte passa a ser o foco, chega um ponto que você fica em dúvida em relação ao que acreditar. Seria sua vida realidade ou o que acontece dentro do Epicentro Cultural é a realidade de suas rotineiras 24 horas? O maior bem que qualquer espaço como esse consegue agregar é justamente essa liberdade de ir e vir entre ideias, confundir e de se fazer entender e, dentro do que podemos fazer hoje em dia, o leque de opções do espaço, localizado na Vila Madalena, é um dos mais amplos que temos na grade horária.
Criado em 2011, o estopim deste DNA criativo é uma híbrido entre estúdio de gravação, selo, palco, galeria de arte, atelier, oficina, área para eventos, encontros, atividades abertas para o público e uma sinestesia no que se diz respeito à pesquisa de linguagens eletrônicas.
O projeto nasceu da união de 5 artistas que, advindos da música, artes plásticas e eletrônicas, conseguiram encontrar um conceito: disseminar ideias, algo que nem sempre é possível fazer com tanto controle, perícia e pioneirismo. Pioneirismo este que é claramente representado pelo ”AVAV”, termo que se traduz numa performance audiovisual que é feita mensalmente e em tempo real.
O esquema de trabalho funciona dentro da sede dos caras (que fica na R. Paulistânia, 66), mas também pode funcionar além do Q.G. que abriga todo o espaço. Como o próprio nome diz, o Epicentro é o start para vários projetos, que independentemente de acontecerem na casa ou não podem ser arquitetados ali em virtude das amplas possibilidades que a estrutura dos caras permite ou pode servir apenas como base de operações, administrando eventos externos no suporte de atividades interdisciplinares e que consigam essa rara conexão entre imagem, som, música, luzes e novas formas de engajamento.
A parte institucional do local trabalha em cinco linhas de atuação, algo que mesmo parecendo confuso no começo é bastante elementar, justamente por fracionar as etapas que visam deixar a ideia convergente a todos os estímulos que a arte pode nos enviar, isso tudo sem aviso prévio de sinapses claro.
Existe o lado educativo, a energia que clama pela presença das pessoas e consegue mantê-las próxima desse ciclo, se preocupando com todas as formas de arte, o que por sua vez estimula o processo com a clara intenção de estimular a produção autoral. Isso é complementado pelas atividades da galeria e mostra mente aberta em relação a toda sorte de experimentações e debates sobre estudos artísticos.
O Epicentro faz uma ponte imediata com seus músicos, pois ao estimular a veia autoral com o seu belíssimo estúdio de vidro, já o faz garantindo o registro em áudio e vídeo com qualidade profissional, fator que já facilita o processo de veiculação imediata por redes sociais ou qualquer outro sinal de fumaça, podendo transformar o produto no que a casa mais anseia: um bom representante cultural de nossa geração, que de maneira única consegue ser compartilhado com uma qualidade que parece ter se perdido dentro da maneira industrial como a música é produzida hoje em dia.
Aqui a coisa vai além da produção e da criação, o que fica é a formação de uma nova cena, que estimulada por qualquer nacionalidade criativa, consegue fermentar um cenário e destacar várias formas de comunicação, até mesmo ao vivo no caso do AVAV.
É bacana ver que lugares assim estão ganhando espaço, existe muito trabalho por trás de cada exposição e às vezes isso pode confundir as pessoas em relação ao foco de ação da casa, algo que na rede do Epicentro vai além das várias tarefas desempenhadas. O ponto aqui é criar um legado e ser lembrado no futuro, mas dentro de um raio de espaço/tempo não muito distante: A lembrança dos visitantes, algo tão inexplicável como um acorde do Doors.