Pivete Nobre lançou sua primeira mixtape solo. Há quase uma década de carreira no cena baiana confirma o que todos aqui sabem: um mc de peso
Há quase 10 anos atrás ele começava a se fazer conhecer como Felipe Gurih e soltava o videoclipe acima, uma música premonitoria, onde o mc então afirmava não saber o que encontraria no futuro mas que esperava encontrar amor, paz e felicidade. Há oito anos e uns quebrados atrás, o mano lançava a faixa O Que Ela Tem (2011), o primeiro grande hit do rap baiano na era do youtube. Ao imenso sucesso da lovesong, se seguiu outra: Nada (2011), e mais quase uma dúzia de outros singles solos que o firmaram como uma realidade.
Junto ao seu grupo Saca Só, Gurih participou de um dos melhores EP’s (tem toda cara de disco) Se Eles Não Faz Noz Faz (2013). Numa aliança com os parceiros DJ Berlota, Span e Big Smokeman o grupo de Cajazeiras riscou e fixou seu nome em Salcity. A caminhada coletiva trouxe em 2016 a fundação da firma/banca Estilo Solto, na visão de profissionalizar e fortalecer mais ainda a correria!
Pivete Nobre (Gurih) vem de uma longa caminhada no cenário do rap baiano como acima fica bastante evidente. Uma década e um bocadinho de tempo depois o mano, soltou uma mixtape que precisa ser escutada, seus múltiplos talentos são nesse trabalho demonstrado com uma força e uma diversidade que impresiona. Um talento como Pivete Nobre não é algo raro na cena de Salvador, o que é raro por aqui é o público valorizar quem é de verdade, o que é bastante raro aqui é uma visão mais ampla das histórias, individuais e coletiva que compõem a cena.
A primeira mixtape do Pivete Nobre (2019), traz 8 faixas e mostra-nos o Mc navegando por sonoridades diversas, com a lírica que o mesmo desenvolveu pelas ruas, com aquela percepção ácida e realista que já conhecemos de longa data. Variando nos beats, no flow e sempre numa sujeira daquele modelo: real gueto, Pivete Nobre segue denunciando as diversas agruras que assaltam nossas periferias. A mixtape abre os trabalhos com “Preto”, uma afirmação pesada contra a apropriação cultural da qual o rap vem sendo vítima, num beat muito bom do Zaac Beats.
Desde o começo de sua caminhada Pivete Nobre também produz suas batidas, e é o caso de “Skivah”, segunda faixa, um Trap real gangsta que como o próprio título já nos chama atenção. Esquivando das armadilhas que as ruas apresentam aos zilhões para jovens negros, e que é o alvo de “RipBruno”, outro trap pesado de sua propria lavra. A versatilidade a que chamávamos atenção é um dos traços mais fortes do trampo, onde o mc soteropolitano consegue migrar com tranquilidade de uma técnica a outra com a mesma qualidade.
O boom bap pesado de “Pra Nunca Mais Chorar” é outra cortesia de Zaac Beats, e aqui Pivete Nobre encontra Trampo Mc, rimando ambos crônisticamente sobre a realidade das nossas malocas. Dupla de mcs do Saca Só, Span & Pivete Nobre, lombrando tudo em outro boom bap gangsta, com um daqueles refrões que marcam e que concerteza será cm coro nos bate cabeça da cidade. O beat utiliza um sample dos geniais Tincõas, onde o trio vocal é recortado em coro, e inserido em loop durante todo o beat, criando um excelente contraponto musical à letra que narra a violência das ruas!
A mixtape possui um clima muito pesado, sujo, de denúncia, de crônica das ruas, dos problemas do gueto, mas também comunica com tradições distintas e complementares do rap atual. Apesar de transitar entre o Trap e o Boom bap, o mc baiano, consegue algo um tanto quanto raro, conseguindo utilizar com muita qualidade as técnicas distintas para cada estilo de batida. As divisões métricas, os ad libs, as punch lines, a caixa de ferramentas do mano é rica. Ao mesmo tempo não dilui nada fazendo tudo do mais puro, do mais nobre, e a lombra é certeira melando tudo.
“Pa Onda” chega com participação de @gremxtrash e beat do @ederxdj, fazendo aquele trap pesado, que certamente não fará a cabeça da maioria dos adolescentes que hoje são boa parte do público do trap nacional. “Não Vale Nada” tem a participação de Lokal Lost e o beat do próprio Pivete Nobre, que juntos fazem mais uma estilo Atlanta, quer dizer, estilo Cajazeiras, pois é perceptível como o mc não copia nada, apenas emulando com suas próprias singularidades o estilo americano. Fechando a mixtape a tocante Até a Ilha, uma de amor que foge e destoa de todas as outras do disco, mas que não do talento desse Pivete Nobre. Esperamos em breve um show Saca Só/Estilo Solto/Pivete Nobre solo, seria realmente excelente…
Escutem essa pedrada: