The Quintet existe por uma série de trapalhadas e arranjos que sem querer se transformou e legou-nos um documento musical grandioso do Bebop
O Bebop nasceu como uma reação dos músicos de jazz americanos a era do Swing e as grandes orquestras que podavam suas intenções criativas. Lá no começo dos anos 40, músicos se reuniam após suas apresentações com as grandes orquestras no mítico Minton’s Playhouse, para longas sessões de improviso em jam’s sessions. Grandes músicos da velha escola e jovens revolucionários se encontravam para criar música e também para disputas ferozes. Músicos como Coleman Hawkins, Mary Lou Williams, Roy Eldridge, Charlie Christian e jovens como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Kenny Clarke foram os responsáveis por essa revolução musical.
A Segunda Grande Guerra legou mais anos de sucesso a era do Swing, amplamente consumida pelos soldados americanos. Ao mesmo tempo, a escassez de goma-laca, impedia a gravação dos novos músicos e a sonoridade Bop ficou durante toda a guerra restrita a iniciados. Somente com o fim da guerra, essa geração e sua revolução musical começaram a ser registradas em vinil.
A sessão registrada em Jazz At Massey Hall é um documento histórico sensacional feito uma década depois do início do Bebop, já em 1953. Um álbum em que Max Roach (bateria), Charles Mingus (baixo), Bud Powell (piano), Dizzy Gillespie (trompete) e Charlie Parker (saxofone), demonstram como alcançar o sublime na execução musical. Num momento em que o movimento já era o mainstream do jazz e já suscitava outras respostas criativas como o Cool Jazz e o Hard Bop.
E certamente essa gravação é um caso raro de sucesso entre uma turma realmente atribulada. Charlie Parker que constantemente caminhava pelo inferno do seu vício em heroína já não tocava com Dizzy Gillespie, seu parceiro criativo e o qual o chamava de: “a outra batida do meu coração.” Bud Powell, o grande pianista estava a altura internado num hospital psiquiátrico, pois sofria de sérios problemas mentais. E foi exatamente a Bud Powell que a turma do New Jazz Society de Toronto no Canadá tentou contactar para uma apresentação de gala. Daí por diante os improvisos que levaram até a apresentação, a gravação e o lançamento do disco são realmente dignos de bebopers!
Sem sucesso em contactar Bud Powell que passava um temporada no Hospital psiquiátrico de Bellevue, tentaram falar com Dizzy Gillespie, também sem sucesso. Finalmente acharam Charles Mingus que reuniu a turma para a apresentação. No dia do embarque mais desacertos, o quinteto contratado tinha se transformado num septeto acrescido do tutor legal de Bud Powell, Oscar Goodstein e da esposa de Mingus, Celia. Gillespie e Parker, ficaram no aeroporto de Nova York, esperando o próximo voo, já que a New Jazz Society só tinha fornecido 5 passagens.
Para o azar da turma na mesma noite da apresentação Rocky Marciano lutava contra Jersey Joe Walcott, o que esvaziou o público, impedindo assim o pagamento que eles receberiam. Então, os contratantes lhes ofereceram as fitas da apresentação como pagamento. Munido das fitas após a apresentação, Charlie Parker tentou vendê-las a Verve que o tinha sob contrato, pedindo a bagatela de 100.000 U$, ao que foi prontamente rejeitado.
Max Roach e Charles Mingus tinham fundado a Debut Records para ter maior controle criativo e de distribuição das suas próprias produções. E então foi a partir da Debut Records que o disco do The Quintet como ficaram conhecidos depois, foi lançado. A qualidade da gravação não é das melhores, o que fez com que o baixo de Mingus ficasse bem longe e que ele tivesse que utilizar overdubs para ressaltar seu som. Charlie Parker que era contratado pela Verve, foi creditado no disco com o nome de Charlie Chan, um junção com o nome de sua esposa. As vendas corresponderam bem, afinal não era sempre que se tinha um time destes capturados ao vivo, em excelente forma. E certamente é um disco histórico tanto pelas histórias, quanto pelo que conseguimos ouvir. Sem ensaios, sem tocar juntos a anos, temos um grupo coeso e brilhante. Afinal, são 5 dos principais arquitetos do gênero, o que chamamos aqui no nosso país de cobras criadas. Parker atuou com um saxofone de plástico já que o seu estava penhorado, como milhares de vezes o gênio o fez, para suprir sua adicção. Porém, Bird mesmo com um instrumento inferior continuava sendo um gênio amplamente reconhecido e junto ao quinteto, detonando nos improvisos.
O repertório do disco reuniu grandes clássicos do Bebop como Salt Penauts, Perdido, Night In Tunisia, a fina flor das composições. Resta a você que admira o jazz pegar essa coisa linda e escutar exaustivamente. E pra você que não conhece bem ainda, aqui esta uma excelente porta de entrada a esse mundo maravilhoso.
https://www.youtube.com/watch?v=H8fnoVgNSvc