O Rap Sergipano tem passado por um processo de renovação muito grande nos últimos anos, se liguem nesses 6 nomes!
Ao contrário do que possa parecer, a cultura hip-hop habita e é praticada nos mais diversos estados da federação, assim como em seus interiores. A percepção média de um público desinformado, a ausência de uma mídia especializada profissional e com um olhar diverso, causa esse grande problema que é a invisibilidade de quem está fora do eixo. E com isso, não estamos aqui meramente falando de sucesso, estamos chamando atenção para a impossibilidade de se construir cenas auto sustentáveis.
Ora, a partir do momento em que se constrói a percepção de que apenas artistas do eixo Rio-São Paulo produzem rap de qualidade, produtores de eventos, público e mídia não valorizam e não ouvem os artistas locais. Principalmente hoje em tempos de internet e da economia da atenção. É um círculo vicioso. As mídias nacionais (do eixo) visibilizam massivamente nomes locais, não pesquisam, o público também não pesquisa e seguem essas mídias e o que viraliza nas redes, os produtores locais obviamente farão festas com artistas de fora, porque é o que dará lucro. Resumidamente é isso… Mas, você pode ler aqui um artigo fundamental sobre essa questão (clique aqui).
O menor estado da federação, Sergipe, possui uma cena rica, que nós do Oganpazan acompanhamos na medida do possível desde 2016 mais ou menos, quando produzimos dois dossiês (aqui e aqui) do que estava rolando por lá (clique aqui). Mas por vezes, com raras exceções a comunicação é difícil pois com a ausência de atenção, a profissionalização tão necessária e cobrada não ocorre. É sempre um processo que termina por produzir exclusão e em muitos casos desistências, como tem sido comum naquela cena e em outras partes do país.
Se tivéssemos uma mídia do rap profissional, com tudo que essa palavra implica, certamente teríamos pesquisa, se houvesse pesquisa, mais artistas dos diversos estados brasileiros teriam seus trabalhos vinculados. E o círculo poderia se quebrar ou pelo menos encontrar outras construções.
Pensando nisso, listamos aqui 6 artistas do rap sergipano que representam uma renovação daquele cenário. São trabalhos que saíram a pouco e que juntos demonstram a força e a qualidade daquela cena. Diversidade musical, de estilos, pautas e gêneros, assim como de temáticas e abordagens nos mostra que falta apenas atenção, conhecimento, pois o hip-hop e o rap em específico estão re-florescendo em Sergipe, e não apenas na capital! Tem rap underground, tem drill, tem disco conceitual e tem trap também, frutos de uma negritude e de atores da cena, produzindo de modo informado e combativo!
Com um disco muito bem acabado lançado em 2020, Madman, preenchido de um trap muito próprio, com uma musicalidade que atrai, Kobay vem construindo uma caminhada na cena local. Em 2021, ele lançou um EPzinho: Foko, apresentando três faixas no melhor molho, com ideias e com o seu sotaque em dias, sem querer parecer mera cópia mal feita do que é feito no sudeste ou em Atlanta!
O MC de Itaporanga D’Ajuda é membro da Exorbit Mob e começou a gravar suas faixas em um Moto G, de lá pra cá, a evolução de seu trabalho é facilmente perceptível e merece que o público preste atenção às suas produções!
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Pardall MC – “PRETO TIPO OURO”
Aqui o foco é no disco Chique É Ser Preto que Pardall lançou no ano passado, e que você certamente, se gosta de rap de alta qualidade, vai querer escutar. Contando com 12 faixas o trabalho é um disco de estreia onde é fácil perceber a força das ideias e a competência lírica e técnica do MC. Cotejando o que se ouve no trabalho com a descrição do Pardall MC no instagram, vemos que a cultura hip-hop não é algo estranho para o mano, que também é poeta e Bboy.
Entendendo que o topo só pode ser alcançado de modo coletivo, em seu álbum de estreia podemos perceber o quanto o artista desfia diversas linhas que tecem a trama cruel do nosso racismo. Denunciando o epistemicídio, o genocídio da juventude negro, nos conta suas vivências em um trabalho que traz uma questão importante hoje: a negritude como um blend a ser vendido pela indústria cultural, no mesmo mercado onde a carne negra é a mais barata. Outro destaque importante de ser mencionado nesse trabalho é a potência e a diversidade musical que vai do trap ao boombap, com uma produção muito bem feita!
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BW – “AJU DRILLER”
Com participações de Dayo, JayPluggz, Vituaf, Stick, $tar, Txkx, kb081 e a pesada CAIANE que na faixa Original Pala simplesmente arregaça em suas linhas. Ajucitydrill é um EPzinho nervoso do inicio ao fim, com ideias de rua e muita linha forte. O EP vem após o disco de estreia do BW, Versátil de 2019 e que também vale muito a pena de ser sacado!
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Nenhuma cena que se preze no século XXI pode se pensar de modo que não seja plenamente inclusiva. Abrigar corpos dissidentes é missão do real hip hop e neste sentido o trabalho pioneiro de Luiz Cinnamon é fundamental para o Rap Sergipano. E não estamos falando de cotas para LGBTQIA+, basta escutar o EP Hda lançado no ano passado, para se perceber que estamos diante de uma arte potente.
Não se trata de pensar apenas em visibilidade, algo importante, mas de destruir os falsos pressupostos desumanizantes imbuídos às pessoas trans. Luiz Cinnamon é um artista trans que está plenamente consciente do seu papel diante do Cis (Tema) e nos entrega um trampo de estreia onde mistura sonoridades eletrônicas de pista, raps de ataque, um visual fechativo, canta e rima com qualidade. Uma figura para se ficar de olho nos próximos ataques!
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Ora, sem o bom e sempre atual boombap nós não estamos bem alimentados, e o nome de Marvin Lima salta nessa lista com o disco Somos Realeza lançado em 2020. Primeiramente, primeiro a mente, o MC sergipano busca nessa premissa a construção de seu trampo, com linhas contra diversas opressões, pautando o feminicídio, a lgbtqia+fóbia e obviamente o racismo. Vindo da zona norte de Ajucity, o hip-hop é a substância primordial de seus versos, que buscam a valorização da cultura, cadenciando-se em ideias fortes!
O disco de estreia de Marvin Lima traz 8 faixas que quebram com o formato de músicas rápidas, se inspirando “escuramente” na tradição dos anos 90, sem parecer datado, mas também sem buscar grandes inovações estéticas. O foco do MC está, pelo menos nesse primeiro disco cheio, na mensagem, sem descuidar-se do flow e com uma boa produção. O disco traz as participações de Manu MC, DBC Jordhan e Letícia Paz. A pedrada que é a música título “Somos Realeza” é o melhor resumo que você pode ter da força da poesia preta de Marvin Lima.
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Na abertura do EP Saída, a primeira faixa homônima já chega naquele modelo nervoso e daí em diante, é só ideia firme e variações de flow e beat. Lançado em 2021 o primeiro trampo maior de Clay MC tem uma urgência nas linhas que grita fácil aos ouvidos atentos. Com um tom de voz rouco, há também um certo tom de melancolia nos seus versos, mas que não se dobra às adversidades que todo MC preto enfrenta na vida cotidiana e certamente na carreira artística!
Trabalho pesado, Clay MC traz dois MC’s em feats muito bons: VG na faixa “Lama & Sangue”, com direito a citação do grande Teagacê pelo participante e o Mago Lírico na música “Consequências”. São seis faixas que apresentam esse novo valor embebido das melhores virtudes da cultura hip-hop, música rap de combate e denúncia. Escutem!
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Abaixo deixamos o quarto episódio do excelente projeto Mente no teto e pé no chão, para vocês flagrarem mais um pouco da riqueza da atual cena do Rap Sergipano!
-6 nomes para conhecer a renovação no Rap Sergipano!
Por Danilo Cruz