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16 Beats, Elegante, ancestral e contundente em “Esboço de Ódio”

16 Beats traça o seu “Esboço de Ódio”, o mc baiano chega elegante, ancestral e contundente. Audiovisual apresenta o novo single do artista!

De um certo modo, 2020 apenas reforça o que históricamente o povo negro vive em diaspóra, em meio a uma pandemia mortal nosso povo é obrigado e ou incentivado a ir para as ruas, trabalhar, curtir, sobreviver, se expor a morte. Esse mecanismo do atual fascismo é apenas a exacerbação de uma prática que se faz a séculos e dado o novo contexto “apenas” também, uma nova forma de ceifar vidas negras. 

O MC baiano 16 Beats lança seu novo trabalho: “Esboço de Ódio”, que é uma pedra a mais na solidificação de uma caminhada que tivemos a honra de acompanhar ao longo desses últimos anos. Conhecemos o 1n quando ainda fazia parte do dupla Malaô MC’s, junto ao rapper então conhecido como Malaô e atualmente El Pilako.

Pudemos presenciar algumas das grandes batalhas de rima em que 16 Beats rivalizava de modo sadio com grandes nomes da cena. Depois vimos sua entrada no coletivo Na Calada, participações em cyphers e mais recentemente sua adesão à proposta Pan-Africanista, como visão de mundo ou mesmo cosmovisão.  

O que podemos perceber durante toda essa caminhada aqui brevemente resumida, foi sem dúvida uma trajetória que o levou a ser uma das figuras mais respeitadas no underground do rap baiano. Uma radicalização no discurso e um aprimoramento técnico que o apresenta hoje como uma das figuras mais relevantes do nosso cenário atual. Com alguns trabalhos como a Mixtape É pra Lá Que Vai (2016), C.O.L.Ô.N.I.A. (2018) e o EP lançado do projeto ODU, junto a diversos videoclipe que vem sendo constantemente liberados, 16 Beats é um MC que faz de sua música arma, como ensinou o mestre Fela Kuti. 

Contra algumas idéias e uma certa postura que acredita que o diálogo e a recapitulação diante do sistema democrático burguês da branquitude que se compraz em vitimizar vidas negras, 16 Beats busca na ancestralidade a potência para seguir. E se é bem verdade que não devemos perder a ternura jamais, é igualmente verdadeiro que o ódio é uma força capaz de abrir caminhos, e só o cristianismo como cortina de fumaça é capaz de negar essa força, na mesma medida em que a exerce com requinte e sofisticação, e uma experiência histórica de mais de dois milênios. 

Com um beat introspectivo do Dactes, 16 Beats dá vazão ao Zé Pilintra, Exu, entidade ancestral africana responsável pela abertura de caminhos e pela comunicação. Preenchendo os espaços entre os claps e o bumbo espaçadamente produzidos pelo Dactes, com um clima meio sombrio, com as percepções de uma realidade traumática, uma realidade de guerra que vivemos como algo normal ou ainda como insistentes frutos do acaso (é sempre o corpo negro a receber a bala).

Em 2020 antes da emergência pandêmica perdemos um dos nomes mais importantes do hip hop baiano Scank – citado nas rimas – assim como o mano Surto, mas uma perda fruto de uma sociedade estruturalmente racista. 

Diante da estratégia da branquitude que atua para nos separar dentro de um mercado capitalista e que incita na militância performatividades atuantes adequadas a um padrão aceitável para a indústria cultural: Conciliação produzida de fora, com intenção de ser colocada nas prateleiras deste mesmo mercado que não tolera quem realmente bate de frente, o ódio esboçado aqui é arma verdadeiramente eficaz.

Como se diz aqui nas area, 16 Beats em seu trabalho tem dado “perpétuas” ao seu modo e com isso abrindo caminhos para uma outra construção possível. Sem freio moralizante, politicamente radical, poeticamente contudente e ritmicamente marcado!     

Essa construção está esboçada também nas imagens dirigidas por Astuciosamente e pelo próprio 16 Beats, assim como na excelente escolha do figurino e do local das filmagens feitas totalmente em externas. Aliando assim, beat, rimas e audiovisual numa obra coesa e prenhe de sentidos, a cada vez percebidos em maior grau de complexidade pela sua riqueza. Mas um trabalho bonito, forte e encarnando uma verdade que não tomba e nem lacra, mas antes, abre espaços e busca levantar o seu povo.

Um procedimento que como salientamos acima, o artista não começou agora, porém para quem não conhece ou ainda não entendeu bem em qual situação histórica e sob a quais controles estamos ligados, precisa pega a visão. Tá aqui um “Esboço de Ódio” que precisa ser considerado, urgentemente. 

-“Esboço de Ódio” do MC 16 Beats, Elegante, ancestral e contundente

Por Danilo Cruz 

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