Yuri Loppo é poucazidea numa Salvador de pouco amor!

Yuri Loppo em seu recente disco, Sou como me ver, nos oferece um mosaico envolvente e pesado de suas pocazideias com muito ritmo e postura!!

 

 

Equipe Coro de Rato

Uma década e meia de rua, nas correrias do rap em particular, mas com a experiência musical de quem trabalha na artesania dos estúdios e é cria de músicos. Produtor musical, beatmaker, skatista e rapper, Yuri Loppo é um daqueles artistas que me deixaram torcendo pra que um lançamento seu viesse a tona. Já tendo acompanhado alguns shows e participações do mano, além de acompanhar sua página no facebook, o que eu percebia era promissor e eis que finalmente a espera acabou.

 

Esse Est Percipi ( Ser é ser Percebido) – “O real sentido esta além da sua percepção”

Sou Como Me Ver é um jogo entre percebermos o artista e entendermos como ele percebe a música rap, as ruas de Salvador e o seu tempo. E é neste jogo entre perceber e ser percebido que o rap se faz e se transforma na arma letal e no critério contra a falsidade. Falsidade nas posturas, sejam elas estéticas ou éticas. Yuri Loppo apresenta-nos um disco coeso, ritmicamente muito bem elaborado, sem altos e baixos. Abrindo seu arsenal de letras ácidas e diretas ele consegue equilibrar sua poética com letras mais longas e ao mesmo tempo, consegue compor refrões pegajosos e fortes de um inegável apelo pop muito forte. Transformando expressões populares em ganchudos refrões, com aquela capacidade de agenciar o gueto a se reconhecer facilmente. A abordagem é bastante lúcida e criativa, passeando por vertentes do rap sem produzir falsas distinções e nem acirrar divisões estúpidas. Antes se preocupando em alcançar o máximo em cada uma das vertentes em que passeia.

Um artista maduro é o que este disco nos apresenta, deixando claro que apesar de ser o seu primeiro disco solo, a estrada percorrida pelo rapper possibilitou um trabalho de excelência. E a mensagem que o mano nos envia, nos chega sempre num flow seguro e versátil, sem estripulias poéticas, nos fazendo perceber esse amadurecimento em suas letras e na sonoridade do disco. O papo é reto e certeiro, a conversa é uma só. Humildade, trabalho, a verdadeira malandragem e a busca por fazer o bem que no rap consiste em levar mensagens que fortaleçam os seus, em suma: progresso.

Contra isso, contra essa postura é poucazideia.

“Se somos o que somos, acertos e tombos, subidas e descidas, seguindo o que eu amo, se um gesto fala mais do que mil acusações, sempre vai ficar clara as suas intenções.”

E o gesto de Yuri é o da generosidade e versatilidade diante do material que agora nos é apresentado. Diante de tantos falsos problemas diante de subgêneros dentro do rap, o Loppo se coloca a frente da matilha. Demonstrando coragem suficiente para criar na chave do Trap ou do Rap mais clássico com a mesma potência. E mais ainda, nos traps que nos são apresentados, a pegada não é de ostentação ou de festinha, ele consegue imprimir suas singularidades. 

Músicas como Real, Nunca é Demais, Pensando em Mim, Salvador Pouco Amor e Tô na Pista, flertam mais ou menos com o Trap, mas demonstram toda a singularidade do artista. Sua contemporaneidade e diferencial estar em conseguir subverter alguns andamentos, inserir timbres diferentes dos que costumamos ouvir, fugindo dos lugares comuns. Buscando pensar outras possibilidades para sua música, ao invés de simplesmente se filiar a algum ritmo de sucesso.

E é isso o que caracteriza a grandeza de um artista, a capacidade que o mesmo tem de se apropriar daquilo que o seu tempo lhe apresenta. E em se tratando desse subgênero (Trap) o divisor de águas esta justamente em conseguir fazer algo diferente do comum, que se repete inclusive na gringa. Yuri consegue nos propor outros recortes, como já dito, seja nos beats, mas também na poesia que ele imprime. Nas letras percebemos uma pegada mais gangueira nessas músicas falando com propriedade da vida undergound das ruas de Salvador. Indo do corre individual até aos problemas que atingem a todos no coletivo. Sem perder ao mesmo tempo a capacidade de atravessar esse contexto com criticas fortes ao sistema.

Umas das músicas mais icônicas desse disco, a muito forte Nas mãos de Deus, conta com as participações especias do mc carioca Gutierrez e da cantora Ângela Lopo (mãe do artista). Nela percebemos uma construção muito interessante, os mc’s rasgam em flows pesados e rápidos. Enquanto encontramos a bela e experiente voz de Ângela Lopo fazendo um belo contraponto com um gostinho do sagrado. Mais um exemplo da excelência estética onde o canto dos rappers Yuri Loppo e Gutierrez declamam ferozmente ideias de atitudes éticas de respeito e superação, e a vocalização da cantora cria o clima adequado. 

Outro excelente exemplo da versatilidade musical é a própria música de abertura do disco, Sem Convites ou Tramas. Onde o rapper rima em cima de um beat próprio com um pegada muito bacana de R&B. Para em seguida vir com a pesada e que deu-nos o título desta resenha. Poucas Ideias é daquelas músicas que parecem sozinhas dar sentido a um disco inteiro. Não por sua qualidade superior às outras músicas, mas talvez por conseguir plasmar toda a essência do trabalho. Com esse disco – assim como na música – Yuri Loppo chega muito forte, fincando seu nome com muita qualidade num cenário que esta se renovando com propostas diversas. Onde todos estão em busca de espaço e buscando se colocar no jogo, o rapper deixa um recado muito claro do que é o seu trabalho. 

Sou Como Me Ver é lançado neste momento de indecisão e diversidade na cena baiana e chega metendo as caras como uma proposta muito bem definida. Um disco de rap, musicalmente muito rico, com as ideias de rua em dias, muito trampo e humildade. Esmero artístico que já é percebido na excelente capa feita pelo artista visual Elton Melicio Dias. Um verdadeira lição ás novas gerações, do que é possível fazer quando se tem plena consciência do que se quer e quando o conhecimento é subvertido numa real postura de Pocazideia.

“Isso aqui não é disputa é Vida, e a passagem que se tem é só de ida, o caminho é uma paisagem distorcida, onde muitos se perdem e são muitos que se perdem no conceito de amizade e família” 

O disco fisico já esta na pista e se você não ficar moscando vai entrar em contato aqui ou vai dar um rolê na loja do Afreeka e adquirir já a sua cópia. Enquanto o disco não sai virtualmente, curta abaixo um webclipe de Pequenas Coisas.

Nota: logo3_nota  logo3_nota  logo3_nota  logo3_nota  logo3_nota_pb

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