Yissy Garcia é uma jovem baterista e band leader cubana, que com sua Bandancha traz uma excelente amostra da força do jovem jazz cubano!!!!!
A música popular cubana possui uma força imensa e o começo de sua colaboração com o jazz americano data dos anos 30 do século passado. Ainda nos anos 40, se dá o encontro entre o grande mestre da música cubana Chano Pozo e Dizzy Gillespie, dessa junção entre a cara metade do BeBop, e um dos grandes reis do ritmo cubano, gerou-se todo um outro sub gênero que ficou conhecido como Cuban Jazz.
Ainda nos anos 40, se seguiram=se colaborações entre Benny Goodman e Machito, Chico O’Farril e Charlie Parker, nesses primeiros passos no processo de aproximação que começara pouco antes. Os anos 50 e 60 do século XX viram a consolidação do Cuban Jazz com nomes como Mongo Santamaria, Cal Tjader e o grande mestre Tito Puente, fazendo um enorme sucesso mundial e desenvolvendo o cuban jazz de modo avassalador.
A década de 70 viu surgir uma grande banda de Jazz na ilha de cuba, uma reunião de astros geniais e que conseguiram rapidamente projeção mundial. O Irakere reuniu num mesmo grupo a fina flor desse desenvolvimento que mencionamos acima, e que alcançou talvez o ápice da genialidade dentro do jazz cubano. Paquito D’Rivera, Chucho Valdez, Arturo Sandoval, Carlos del Puerto, Carlos Emilio Morales, Carlos Averhoff entre outros grandes fizeram desse grupo que trazia junto ao jazz, em sua bagagem influências do funk, do rock, tudo misturado às suas origens musicais e que os transformaram num dos grupos mais interessantes e influentes do Fusion mundial.
Seria bobagem dizer que o Buena Vista Social Club (1999) ressuscitou a música cubana, afinal essa é expressão firme e alegre do seu povo, no entanto o filme jogou novamente os olhos do mundo para essa riquíssima ilha. E para quem mirou para lá os seus ouvidos, viu além dos grandes mestres reunidos no filme e no disco que depois virou turnê mundial, uma cultura musical diversa. Na pequena ilha, expressões da muito forte música popular é presença constituinte, mas também pode-se encontrar muito rap, rock e como não poderia deixar de ser: jazz, da melhor qualidade.
Agora em pleno século XXI, toda uma nova geração cubana de jazzistas tem sido aos poucos descobertos e Yissy Garcia (que é filha do baterista do Irakere, Bernardo Garcia) é uma das figuras que mais vem se destacando. Trazendo em suas baquetas a inquietude das mulheres fortes, misturando diversas linguagens ao seu jazz. Com isso, Yissy é irresistível e vem conquistando espaço na cena internacional, com turnês pela America Latina e EUA.
Baterista e band leader, Yissy Garcia é a primeira mulher a liderar um grupo de jazz como instrumentista na ilha e uma das poucas do mundo, dentro da história do jazz. Um protagonismo conquistado com muita fibra e sobretudo com um talento que se apresenta em muitas de suas composições. Retirando a força de suas execuções no kit da bateria, de um mix de suavidade e suingue, uma batida docemente forte, cadenciada por uma técnica apurada e bastante criatividade.
Com um disco lançado, o excelente Última Noticia (2017) junto a sua Bandancha, Yissy Garcia não tem medo de arriscar e traz no bojo de sua música, fortes diálogos com a música rap, com o funk e o soul, e obviamente com a força da música da sua terra natal. Batemos um papo com ela, falando um pouco sobre sua formação musical, suas influências, esse novo jazz cubano e outras milongas, acompanhem:
Oganpazan – Yissy, nos conte um pouco sobre sua infância e qual a primeira recordação mais forte da música que você tem?
Yissy Garcia – Nasci em Havana, no Cayo Huevo, um dos bairros do centro de Havana. Desde pequena sempre fui muito interessada em esportes. Gostava de participar das competições que fazíamos na escola. Eu gostava muito de jogar bola, correr, patinar, mas sempre esteve clara a minha paixão pela música.
Uma das minhas primeiras recordações na música foi minha participação como percussionista em uma pequena banda da escola, eu tinha apenas seis anos de idade quando me dispus a tocar, sem nenhum conhecimento, um pequeno tambor artesanal. Também recordo que quando ia a festas religiosas sempre ficava perto dos músicos olhando e repetindo os ritmos que eles faziam.
Oganpazan – Como foi crescer sendo filha de um dos grandes nomes do jazz cubano e como isso afetou suas escolhas e formação musical?
Yissy Garcia – Na minha casa sempre houve um ambiente musical. Minha mãe se reunia como os amigos para escutar músicas e assistir vídeos. Vivi todos esses momentos e, embora muito pequena, sentia certo interesse no que escutava. Cresci com a influência do meu pai, com seus conselhos…Quando decidi ser percussionista sabia que teria um grande desafio pela frente. Nunca me apoiei em seu nome para vencer as minhas metas. Algumas vezes toquei com músicos de sua geração que não sabiam que eu era a sua filha, até que coincidentemente durante alguma conversa descobrem. Uma das coisas que o agradeço muito é que ele nunca me pressionou, nem nunca me obrigou a tomar nenhum rumo que eu não quisesse. Sempre me disse que se eu quero ser boa, tenho que ser por meu próprio esforço.
Oganpazan – Escolheu tocar bateria e jazz desde o princípio? Quais foram seus primeiros trabalhos?
Yissy Garcia – Desde o início escolhi a bateria e o jazz chegou um tempo depois. E foi por acaso. Estudando em um conservatório de música, uns amigos formaram uma banda e precisavam de um baterista. Me fizeram a proposta e eu que sou ousada, ainda sem saber tocar o gênero, disse que sim. Foi nesse momento que comecei a gostar de jazz. Esse foi um dos meus primeiros trabalhos como baterista: nesse grupo escolar que se chamava Pentajazz. Também fiz algumas colaborações com uma banda chamada Canela e depois comecei a tocar oficialmente com a Orquestra Feminina Anacaona.
Oganpazan – Sua música coteja com diversas influências não só da música cubana, como outros ritmos urbanos de origem norte-americana, como o soul e o funk, correto? Como você faz para calibrar essa gama de estilos na sua música?
Yissy Garcia – Eu gosto de escutar quase todo tipo de música. Eu amo o jazz, o funk, o R&B, a música brasileira, a música cubana e muito mais gêneros. Daí vem a mescla que faço com a minha música. Não quero decidir por um estilo só, porque sentiria que não sou só. Minhas composições são baseadas em todas essas culturas que eu adoro.
Oganpazan – Sobre a nova geração do jazz cubano: Nos chegam aqui poucas informações no Brasil. Descobri seu trabalho, do Yasek Manzano e da Daymé Arocena por acaso. Existe alguma característica comum nessa geração? A quais outros nomes devemos estar atentos e quais são os melhores canais cubanos de informação para que acompanhemos os lançamentos?
Yissy Garcia – Eu penso que existem muitos elementos em comum: somos jovens defensores do jazz cubano, amantes da evolução musical e com vontade de mostrar ao mundo como sonham estas novas gerações em Cuba. Cuba conta com um grande catálogo de jovens jazzistas. Mencionarei apenas alguns: Zule Guerra, Alberto Lescay Jr, Eduardo Sandoval e Héctor Quintana. Pouco a pouco os artistas cubanos estão inserindo-se nos circuitos de promoção internacional, e cada vez mais aprendemos o uso de ferramentas como Facebook, Instagran, Youtube.. para manter-lhes informados… Pode seguir o Bônus Track, uma plataforma que está fazendo um grande trabalho na promoção e visibilidade do trabalho de muitos jovens e artistas cubanos.
Oganpazan – Como você tem visto a recepção da crítica ao seu disco de estréia Última Notícia (2017), e como tem sido a recepção do público por onde você tem tocado, dentro e fora de Cuba?
Yissy Garcia – Última Notícia (2017) é o nosso primeiro álbum e graças a Deus temos desfrutado de muito boa crítica, e também de vários prêmios nacionais. É um disco ao qual dediquei muito tempo e energia. Estou satisfeita com o resultado final. O acolhimento do público tem sido genial. Aproveitam muito do que se trata, dos temas desse disco. Quando temos apresentações fora da ilha, quase sempre vou um pouco inquieta, curiosa. Sempre me pergunto como será a reação do público com a nossa música, e para a nossa felicidade nesse momento tem sido muito positiva. Saio do palco me sentindo bem, fazendo o que eu gosto, transmitindo boa energia. Todos esses elementos fazem com que o público se identifique com o repertório da Bandancha.
Oganpazan – Sobre a música brasileira: O que você conhece? Existe algum nome que te inspira? Da música atual ou mais antiga?
Yissy Garcia – Fico encantada com a música do Brasil: suas harmonias, melodias e a percussão nem se fala…para mim é uma das riquezas do mundo. Desfruto muito de Gal Costa, Tom Jobim, Djavan, Banda Revolução, Elis Regina.
Oganpazan – Tem pensado em vir a Bahia? Conhece algo particular sobre a nossa música? Quando podemos esperá-la aqui?
Yissy Garcia – Tenho pensado muito, muitas vezes, em visitar o Brasil. eu gostaria muito de tocar minha música em seus palcos e fazer trocas com músicos daí. Espero que esse sonho se torne realidade logo.
Conheçam a música de Yissy Garcia e se liguem num Universo onde as misturas se dão no encontro e na busca ativa de criação do novo. Das novas possibilidades musicais que ganham vida na música dessa jovem artista muito talentosa e que é uma excelente porta de entrada para a nova música cubana como um todo, e para o novo jazz cubano em particular.
Inscrevam-se no canal da artista no Youtube