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Wolfmother – Wolfmother

O ano foi 2005. Era uma manhã de sábado se não me engano. Estava no meu quarto jogando video game quando meu pai entrou e meu deu um CD contendo o Guitar Hero II. Lembro-me que nunca tinha ouvido falar daquele jogo, até por que só gostava de jogar futebol no famigerado Playstation, mas olhei a capa e vi uma guitarra, resultado: troquei o disco e comecei a jogar.

A primeira música que toquei foi ”Woman”. O jogo começou e logo entendi o esquema (afinal não é nada de outro planeta), logo, toquei essa mesma faixa durante umas duas horas. Depois, já meio baqueado, sai da televisão e fui para o Google com uma missão: descobrir quem era esse tal de Wolfmother.

Depois do redirecionamento nas pesquisas, achei uns links para o Youtube e carreguei alguns vídeos da banda na minha gloriosa internet de escada. Depois de assistir alguns clipes, descobri que eles tinham apenas um disco e, depois de deixá-lo baixando durante a madrugada, no Emule, finalmente consegui escutá-lo.

E rapaz, essa foi uma das primeiras vezes que fui impactado por um grande disco produzido na minha geração. Na época, acredito que não tive a real dimensão do que esse trabalho significava, mas esse autointitulado me mostrou que sim, tinha muita coisa boa rolando na minha época e, até hoje, quando escuto a estréia de qualquer banda, gosto de colocar o Wolfmother no play só pra me lembrar desse intenso sentimento de novidade.

Line Up:
Andrew Stockdale (guitarra/vocal)
Dave Sardy (percussão)
Chris Ross (teclado/baixo)
Myles Heskett (bateria)
Lenny Castro (percussão)
Dan Higgins (flauta)

Track List:
”Colossal”
”Woman”
”White Unicorn”
”Pyramid”
”Mind’s Eye”
”Joker And The Thief”
”Dimension”
”Where Eagles Have Been”
”Apple Tree”
”Tales From The Forest Of Gnomes”
”Witchcraft”
”Vagabond”

Duvido muito que o trio que eternizou esse disco soubesse do estrago que estava prestes à fazer quando entrou no Sound City Studios em Los Angeles, Califórnia. Andrew Stockdale, Chris Ross e Myles Heckett, foram esses 3 senhores que consagraram a formação clássica do Wolfmother.

Tudo bem que Chris e Myles largaram o barco em 2008, mas uma coisa é certa: eles deixaram um sonoro eco de surdez por onde passaram. São pouco mais de 51 minutos de som, 12 tracks e seis singles que entraram nas paradas de sucesso com a mesma sutileza de um ataque terrorista.

Com a produção assinada por Dave Sardy, o trio utilizou tudo que, à principio, poderia ter prejudicado o resultado final deste clássico, como combustível para o sucesso. A pouco idade, a vontade de explodir para o mundo e a marretada suja que era essa união… Todos esses elementos conspiraram à favor do vento desta jam e o feeling psicodélico dos caras teve toda a atenção merecida desde o primeiro segundo de ”Colossal”.

Os timbres, os tempos quebrados, os teclados e a realidade nua e crua. Existe muito sentimento nesse som, algo que infelizmente não se ensina na escola de música do bairro. Feeling… Ou você carrega no case da guitarra, ou simplesmente seu som não possuirá alma, algo que definitivamente está presente nessa gravação.

Desde a homérica arte de Frank Frazetta e sua ”The Sea Witch”, o que sai dos fones é algo grandioso. É uma vista panorâmica para um ato caótico que por incrível que pareça, calculou cada bend que saiu na prensagem. No fim das contas é como se, no lugar da bruxa, Stockdale, Ross e Hesckett, estivessem observando o estrago que esse CD causaria.

Um impacto contundente, seja com a radiofônica ”Woman” e seu inesquecível riff ou ao som da inventiva ”White Unicorn”, esse disco possui um quê de perigoso. Aquela fagulha que mesmo dez anos depois, ainda segue descabelando muitos conservadores por ai.

Aliás, aqui se faz necessário um pouco de justiça. Andrew Stockdale, o guitarrista e vocalista que hoje é a cara do Wolfmother, é de fato um músico do mais alto calibre, o único problema é que a memória curta da mídia não costuma citar e elogiar o importantíssimo papel que a bateria de Myles Heckett e o baixo/teclado de Chriss Ross tiveram em temas marcantes, como ”Pyramid” e a sinousamente surpreendente ”Minds Eye”, talvez a melhor balada que o Wolfmother já criou… O tecladinho é de uma prudência ímpar!

E apesar da pouca idade, é notável perceber como existe esmero nessa gravação. Veja ”Joker & The Thief”, por exemplo, a guitarra entra e o dinamismo do trio para providenciar uma abertura grandiosa para o som é bastante cativante.

Só que aí é que está o lance, pegando um ângulo de 360 graus notamos que o todo é de uma sujeira enorme, remonta os anos 70, só que também desmonta a década de ouro do Hard com algo que só os tempos contemporâneos poderiam fazer.

Hoje, dia 31 de outubro de 2015, o relógio marca exatamente 10 anos que esse disco saiu. A primeira versão veio com uma track list diferente e no começo 2006 o CD saiu mundialmente, mas não interessa em que ordem você escute, temas como ”Dimension” ainda trituram seu cérebro.

São faixas como essa que nos mostram que o Rock cerebral é muito bom (obrigado), mas que de vez em quando nossos hábitos mais primitivos precisam ser alimentados. Por isso que existe a real necessidade de formular sons como ”The Apple & The Three”. Registros pungentes, intensos e que além de muita gritaria, liberam doses incontroláveis de glicose para os ouvidos do ouvinte, além de nos mostrarem um tom de guitarra que praticamente faze o instrumento ranger.

Por isso que o interlocutor deste diálogo sonoro, o chamado cidadão-cobaia, se impressiona pela diversidade de influências presentes por aqui. Temos uma prova de que o trio fez sua lição de casa ouvindo os clássicos do Folk com ”Where The Eagles Have Been” e comprovamos a boa lírica letrista com temas que beiram o conceitual, como em ”Tales From The Forest Of Gnomes”.

Guitarra ardida, vocais sem firula, passagens de teclado envolventes e um baixo que mais parece uma guitarra. Essa foi a receita do Wolfmother pra controlar sua mente durante todos esses anos, ou você acha mesmo que o Stockdale não sabe que você deixa ”Withcraft” no repeat só pra se ligar na flauta de Dan Higgins? E a percussão do mestre Lenny Castro?!

Até o produtor do disco entrou na onda e somou no groove com uma dose de percussão. Quando o disco acaba os impactados estão extenuados, jogados em algum canto de vossa respectiva preferência, enquanto apenas concluem o óbvio: ”Vagabond” é uma ótima trilha para fritar enquanto o mundo explode. Discasso, clássico sim, ousadia agora e fuzz como nunca, perpetuado nas platinas dessa cozinha para todo o sempre.

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