Vulcaniótica, o álbum homônimo da banda que ousa unir música e teatro, remetendo aos primórdios desse gêneros artísticos no Ocidente.
A vida é trágica
Em seu livro “O Nascimento da Tragédia’, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche defende que o pathos da existência é o trágico. A existência é um afirmar-se através da busca por meios de resistir às forças da natureza que atuam sobre nós. Desta interação construímos nossa existência. Viver neste sentido não significa se anestesiar, evitando a dor e o sofrimento, mas entendendo que ambos fazem parte do existir.
Nesse sentido, a tragédia grega, enquanto forma artística, representa a vida em todo seu fulgor. Ao menos era assim que pensava Nietzsche, colocando a tragédia grega como a principal manifestação artística, justamente por ela unir música e o que viriam a ser as artes cênicas. Essa junção seria a forma mais precisa de se ter numa representação artística aquilo que é a essência do existir, qual seja, a irresistível vontade de potência. A disposição alegre para o existir no qual o sofrimento e a dor são visto como parte dela e a afirmação da existência está em buscar meios de superá-las.
Impregnado pela moral cristã, o Ocidente acabou tendo que engolir forçosamente um guia de conduta moral no qual os valores que levam à afirmação da vida através da vontade de potência são valorados negativamente. A moral cristã determina que o virtuoso é aquele que abre mão de viver esta vida como forma de receber a recompensa de uma vida no além, livre de dor e sofrimento.
A dimensão trágica na música da Vulcaniótica
Essa dimensão trágica é resgatada pela música feita pela Vulcaniótica, que a faz a partir da vivência de seus componentes e sua componente dentro do teatro. Por exemplo no clipe da música Beijo, no qual a banda constrói uma performance que integra as pessoas através da entrega aos prazeres da carne. Contraposição forte aos preceitos da moral cristã, que taxa toda experiência sensorial ou material como pecaminosa, portanto, proibida.
A musicalidade da banda é construída a partir dessa concepção instintiva. O processo de criação se dá não a partir da excelência técnica, mas da experiência criativa, na qual o “erro” e a limitação técnica são usados como elementos constitutivos das tessituras sonoras das músicas.
O álbum homônimo lançado no final de novembro de 2021, agrega músicas compostas ao longo da quase 1 década de existência da banda. O lançamento de um álbum cheio só foi concretizado após muitas experimentações, execuções das músicas e alcance de uma solidez referente a cada música.
A Vulcaniótica prima pela criação espontânea, por isso mesmo tem por interesse a performance ao vivo e o ensaio como referencial espacial do processo de criação da banda. Tudo isso é muito bem representado na imagem pulsante da erupção vulcânica presente no nome da banda. Uma imagem de terror e admiração, de destruição e criação, de transformação permanente.
Isso se apresenta em cada faixa do álbum que agrega de forma impressionante diversos elementos de diferentes estilos musicais. Do folclórico ao pop, passando pelo rock, pelo popular, costurando todas essas referências sonoras de modo bastante orgânico.
A banda usa um método de composição abrangente, que desconsidera o erro, na medida que o insere como elemento composicional de suas músicas e performances. Aliás, a questão da performance é crucial para a construção da estética sonora da Vulcaniótica.
Isso porque é durante os momentos que a banda as realiza, que os integrantes vão encontrando sua ligação com a música. Durante os ensaios e as apresentações ocorre a catarse que não serve apenas como meio de mostrar ao público os resultados alcançados pela banda ou aperfeiçoar o que já foi feito.
Há uma constante transformação que vai levando a banda para diferentes direções. Existe um momento no qual a banda se deixa capturar pela música e passa a ser conduzida pela mesma. Isso podemos ver nos clipes da banda, tanto os animados quanto os que que registram a performance da banda.
Por isso mesmo, considero que foi um acerto lançar os clipes das faixas concomitantemente ao lançamento do álbum. Porque a plasticidade visual e a abstração sonora são partes de um todo. Embora seja possível ouvir o álbum separadamente dos clipes, considero que a experiência completa acerca do trabalho da Vulcaniótica só se dá integralmente quando se tem acesso aos clipes.
Bom, essa é uma forma de entender o que foi feito pela banda, recomendo que vocês tirem suas próprias conclusões. Para assistir aos clipes basta acessar o canal da banda no YouTube clicando no link a seguir: Vulcaniótica no YouTube.
Um resumo sobre a trajetória da banda até o lançamento de seu primeiro álbum
Na estrada da música e das artes cênicas há mais de sete anos, a banda curitibana Vulcaniótica é sempre lembrada por seus shows: explosivos, poéticos e imersivos. Formada por atriz e atores (Bagana na voz, sanfona, teclado e sintetizadores, Fuego na bateria, Vilarica no baixo e ErtaAle na guitarra e no vocal), a banda tem como característica marcante a pesquisa da poética teatral na prática do fazer musical, criando uma atmosfera de aventura e magia em todas as suas ações coletivas.
O grupo participou das cinco últimas edições do maior festival multicultural do sul do Brasil – festival Psicodália, além de vários festivais e mostras locais como Virada Cósmica, La Montaña, Terraiz e outros grandes festivais como Forró da Lua Cheia em Altinópolis/SP e mais recentemente foi a banda de abertura oficial do Festival Libélula.
A influência exercida pelo teatro em seu trabalho redimensiona a performance no palco, e na forma como produzem a sua sonoridade. A partir desta experiência constante, a trupe criou uma linguagem musical “vulcânica”, com jeitos próprios de fazer música e tudo o que a envolve. O disco é autoral – são sete faixas gravadas no estúdio Pulsar em Curitiba – produzidas por Carlos Freitas que há mais de 50 anos atua no mercado fonográfico.
A Vulcaniótica trabalha suas ideias artísticas de forma simbólica e enigmática. A cada acontecimento (seja em shows presenciais ou imagens virtuais), carrega em si outras camadas de significação. Com esse passado retumbante, o grupo pensa agora na projeção do seu fazer,e resolveu lançar uma sequência de seis clipes de músicas do disco antes da distribuição oficial nas plataformas de streaming.
Esta sequência foi lançada no dia 23 de outubro, e encontra-se disponível no canal do YouTube da Vulcaniótica. No dia 31, o álbum foilançado nas plataformas musicais.
“A ideia é que as pessoas tenham a experiência de assistir aos vídeos antes do lançamento das músicas, pois existem informações importantes neste conjunto de imagens, escolhidas a dedo pela banda“, diz Bagana.
Os integrantes da banda usam nomes artísticos de vulcões reais e brincam com esta metáfora tanto nas músicas quanto nas cenas teatrais em shows ao vivo.
Para conferir o trabalho do grupo, você pode seguir a banda no instagram: @vulcaniotica ou no facebook.com/vulcaniotica