O poder de provocar sensações sinestésicas é um aspecto da arte que sempre me fascinou.
A capacidade de manipular e misturar os sentidos, nos fazer sentir texturas em cores e em sons, de sugerir cheiros e gostos através de analogias poéticas é uma das ferramentas mais poderosas e intrigantes do fenômeno artístico.
Quem nunca escutou uma música que lhe trouxe de volta sabores de outras épocas, ou mesmo contemplou um quadro cuja composição provocou sensações que vão além do simples ato de ver? Percebemos o mundo através dos cinco sentidos e com frequência eles se misturam nesse espectro maravilhosamente infindável que são os sentimentos humanos.
A nossa linguagem de certa maneira é um indicativo do quão importante é um determinado sentido para a nossa experiência no mundo. É só perceber como temos em nosso vocabulário muito mais palavras para expressar conteúdos relacionados à visão e à audição do que para os outros três sentidos.
É evidente que isso se reflete na dimensão estética, fazendo com que as consideradas grandes artes estejam diretamente ligadas ao ato de enxergar e de ouvir. Ainda assim elas conseguem induzir as tais sensações sinestésicas insinuando os demais sentidos.
Sabemos que existem músicas capazes de colocar a imaginação para funcionar criando atmosferas que remetem a outras experiências estéticas que já vivenciamos. Recentemente surgiram dois vídeos na internet que exploram de maneira fantástica essa faceta da criação musical.
Comecemos pela totalmente improvável mistura entre Joy Division e Teletubbies. Pois é, um cidadão chamado Christopher G. Brown teve a genial ideia de tirar o colorido espalhafatoso do programa infantil e combinar essas imagens com a música Atmosphere da banda de Manchester.
O resultado é digno daqueles pesadelos mais non sense que temos em noites febris. O vídeo bombou na web e já teve mais de dois milhões de visualizações no youtube.
O segundo é mais elaborado, mas vai no mesmo sentido do anterior.
O animador romeno Sebastian Cosor dirigiu um cuta metragem em que combina a mais famosa obra do pintor expressionista norueguês Edvard Munch (O Grito) com a música The Great Gig in the Sky do Pink Floyd – com direito a uma reflexão a respeito da morte.
O vídeo é uma prova de como dois universos estéticos podem dialogar apesar da distância que teoricamente os separa.