Ao ouvir Victorious, novo álbum da Wolfmother, fica difícil afastar o sentimento de frustração. O lobo hightec está longe de ser aquele animal feroz de 2005.
O que parecia motivo de celebração meses atrás, revelou-se uma grande decepção. O lançamento de Victorious, quarto álbum do Wolfmother, foi anunciado no dia 19 de novembro de 2015 pelo vocalista, líder, compositor, letrista e único membro original ainda na banda, Andrew Stockdale.
Naquele momento o canal oficial da banda no youtube compartilhou duas faixas para promover o álbum. Tratam-se de City Lights e Victorious. Certamente são as duas melhores músicas do álbum o que fez as expectativas acerca da qualidade do registro subirem. Boa jogada de marketing, ajudou a promover o álbum e colher alguns frutos até o seu lançamento oficial.
Tão rápido quanto subiram, as expectativas caíram. O disco mostrou-se aquém dos anteriores, principalmente daquele que colocou a banda no radar de rockers e grandes festivais no mundo todo: Wolfmother (2005). Em sua totalidade conseguimos perceber a verve inicial que permeia as músicas do primeiro álbum adormecida em Victorious. Algo faltou a Stockdale para conseguir despertar a fúria lupina que marcou a sonoridade da banda nos trabalhos anteriores. Os riffs e melodias das músicas são muito semelhantes tornando a experiencia de audição de Victorious monótona, levando-nos ao descaso com relação ao que está tocando.
O começo do álbum promete desvelar no transcorrer das músicas uma Wolfmother revigorada, novamente com sanguenozói. The Love That You Give tem bons riffs, batera agressiva, modulação vocal com efeito psicodélico na medida, ressaltando bem a força da voz de Stockdale. Em seguida vem Victorious, faixa título do álbum, que tem um refrão bastante pegajoso, bem ao estilo comercial dos hits que inundam as rádios Brasil afora. Tirando esse detalhe, temos uma música cuja dinâmica se mostra bem construída alternando momentos de pancadaria e calmaria para chegar no final com um riff claramente elaborado sob influência do que de melhor surgiu no rock dos anos 70.
Quando a banda ganhou seu lugar ao sol em 2005 com o lançamento de Wolfmother, seu primeiro álbum, muito se falou sobre a renovação musical promovida pela banda, pelos novos caminhos que poderia abrir para o rock. A promessa é que a banda se tornasse um dos grandes expoentes do rock´n roll durante o transcorrer da próxima década. Não foi o que aconteceu e a meu ver, considerando a situação atual da banda, que conta com músicos freelancers em sua formação, pouca criatividade e energia quase a zero, não dá pra esperar muita coisa da banda futuramente.
A cosia desanda a partir da terceira faixa, Baroneses. É uma balada que entraria facilmente para uma possível coletânea Love Songs com baladas bregas dos anos 2000. Refrão chato, andamento arrastado com alguns momentos interessantes. Estes aparecem quando a monotonia é quebrada por riffs de guitarra repentinos, iluminando a música como relâmpagos numa noite sem lua. Porém, o momento deprimente do álbum ocorre quando Pretty Peggy começa a tocar. Essa música destoa tanto do que é a sonoridade da Wolfmother, ou de qualquer banda que se considere pertencente ao rock, que poderia facilmente ser confundida com alguma música tocada na coletânea Love Songs original. Passaria facilmente por uma música de qualquer bandinha de metal romântico de curta duração dos anos oitenta.
City Lights e The Simple Life quebram o clima love songs estabelecido pelas duas músicas anteriores e renovam o ambiente apontando para a toca, onde o lobo parece se espreguiçar para ganhar a floresta e faminto sair à caça. Mas o lobo de Victorious é hightec, o impacto causado se limita à esfera visual. Seus olhos são holofotes que iluminam a planície à sua frente. Isso é o que há de melhor em Victorious, a arte visual empregada na divulgação das faixas e promoção do disco.
A artificialidade volta em Best of A Bad Situation, quando Stockdale investe mais uma vez em melodias mais lentas e riffs cadenciados demais, indecisos quanto ao efeito que querem causar. Remetendo a melodias e fórmulas pré fabricadas de bandas de pop rock comercial que costumam inundar as rádios FM. Gypsy Womam merece elogio, chega a se equiparar as músicas que estão entre médio e médio + um tiquinho bom do álbum. Riffs stoner, bateria articulada, linhas de baixo preenchendo e entrecortando toda música. Aliás, Stockdale vem com um leque de excelentes riffs nesta faixa. Solos bem elaborados e usados no lugar certos. Isso dá uma vivacidade interessante à música e te faz acreditar que há esperança para a Wolfmother.
Victorious se encerra com duas músicas que seguem pelos mesmos caminhos, dando cada passo em cima da linha, sem arriscar ir além. Happy Face é uma delas. Começa com baixo distorcido na medida, anunciando uma base instrumental stoner, com pegada forte. A melodia vocal é bem acompanhada pelo instrumental criando a expectativa de um final empolgante. Eye of Beholder fica responsável por apagar a luz antes de sair. É uma mistura extravagante entre balada e pegada stoner. Funciona, acaba por salvar Victorious da falência. Mantêm a reta final dentro de certo equilíbrio, garantindo uma boa média para o disco.
Bom, o novo álbum do Wolfmother é isso, o resultado de uma banda que por algum motivo sobrevive amputada. Sem os dois membros originais a coisa não foi a mesma. Talvez por ter ficado desprovida de sintonia, envolvimento e interesse, que não são os mesmos em músicos freelancers. Stockdale não consegue ser criativo, repete-se demais em riffs e estruturas musicais e quando procura fugir dessa zona de conforto acaba fazendo baladas bregas.
A meu ver Wolfmother existe apenas como uma marca, como banda de rock já acabou e pá de cal sob seu túmulo é o álbum Victorious.
https://www.youtube.com/watch?v=jU8RKsOA99w
Ficha Técnica:
Gravação: 2015 no Henson Recording Studios, Hollywood, California.
Duração: 35 minutos
Selo: UMe
Produção: Brendan O`Brien
Andrew Stockdale – vocals, guitarra, baixo
Ian Peres – orgão
Josh Freese – bateria nas faixas 1, 2, 3, 4, 7, 9 e 10
Joey Waronker – bateria nas faixas 5, 6, 8, 11 e 12
Brendan O´Brien – produção, mixagem, percussão, órgão, piano e guitarra.
Tom Syrowski – engenheiro de som
Kyle Stevens – engenheiro assistente
Jason Galea – arte de capa, design
Piper Ferguson – Fotografia