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“Vestígios”: um resgaste sonoro dos anos 2000

Siso resgata pérolas dos anos 2000 e 2010 no álbum “Vestígios”. Em seu terceiro disco solo do cantor traz releituras de canções perdidas durante a revolução digital.

Em seu terceiro álbum solo, Siso resgata pérolas dos anos 2000 e 2010. Intitulado “Vestígios”, o disco é quase um trabalho jornalístico de resgate e difusão de obras que ficaram perdidas em catálogos que sumiram durante a transição da tecnologia.

Até o momento, foram apresentadas ao público quatro releituras: “O Homem-Pássaro”, canção original de Paralaxe que ganhou uma versão intensa e explosiva; “Cor de Jasmim”, originalmente gravada pelo projeto mineiro Umrio e agora reinventada com a co-produção de João Victor Santana Campos (Carne Doce); Lanny”, original do duo greco-brasileiro Os Amantes Invisíveis, que contou com Carina Renó (etrusca, Letrux) assinando com Siso a produção da nova versão; e “Nada Além”, da banda acreana Los Porongas, que ganhou produção conjunta de Siso e Patrick Laplan (Duda Beat, Gabriel Ventura, Los Hermanos). 

Capa de Vestígios.

Com a revolução digital saímos da mídia física, como o CD, para o MP3, e mais tarde para o streaming. Nesse contexto houveram várias mudanças de paradigma e ambiente, o consumo de música foi dos blogs de MP3 para Trama Virtual, MySpace, depois para o YouTube, e mais recentemente para Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music e afins.

Muita coisa se perdeu nesse caminho – daí o nome “Vestígios”. “Várias das gravações originais dessas canções ainda não estão presentes nos serviços de streaming como os conhecemos hoje, e as que estão, desempenham de uma maneira que não dá pra ter ideia da relevância delas, o que torna difícil para uma geração posterior entender e resgatar essas obras”, reflete Siso.

O processo de construção se deu a partir desta inquietação do artista, que buscou levar para as releituras a sua estética, fazendo grandes recontextualizações em alguns casos e intervenções menos ríspidas em outros. “A intenção não é ser colonialista. É uma coisa mais no sentido de reconhecer a si no outro, entender que essas pessoas foram parte importante da minha construção pessoal e também elementos notáveis dentro de uma cultura, que podem ser mais valorizados”, explica.

Depois de ter feito um álbum quase que inteiramente sozinho, dentro de seu quarto, no ápice da pandemia, Siso sentiu a necessidade de colaborar e de ter mais gente colocando a mão nos processos. Uma vez com repertório na mão, ele foi consumido pelo projeto e sua realização foi rápida, não à toa logo o álbum foi todo gravado, sem polir muito.

Ao longo de suas oito faixas, “Vestígios” é sobretudo um disco de rock, denso e dançante num constante balanço com a leveza da voz de Siso e a pesquisa eletrônica que acompanha a trajetória do artista. Das sensíveis versões como “Cor de Jasmim” e “Lanny” à tensa e atualíssima interpretação para “Jovem Tirano Príncipe Besta”, do músico maranhense Negro Leo (jovem tirano príncipe besta/ você tá ferrado/ você vai ferrar com tudo/ vai ferrar com o mundo), o álbum é uma fenda que une décadas e tensiona sua música, na proposta de a estender.

Sobre Siso

Ativo na cena indie brasileira desde os anos 2000, à frente de bandas como Spooler e As Horas, o cantor/compositor e produtor Siso lançou-se em carreira solo no início dos anos 2010. Desde 2016, o artista colocou na rua um EP (“Terceiro Molar”) e dois álbuns (“Saturno Casa 4” e “S2”). Também chegou à posição 20 da parada Viral Brasil 50 do Spotify (com a faixa “Homem”), figurou na lista brasileira de Artists to Watch do YouTube em 2017 e colaborou com Letrux, Carne Doce, Julia Branco, cais e Cabezas Flutuantes.

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