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VANDAL – VARONILH (2018) IZTOH NAOH EH UMH RELEAZEH

VANDAL – VARONILH (2018) IZTOH NAOH EH UMH RELEAZEH, EH UMAH ANALIZEH SOBRE AS COORDENADAS TENEBROSAS QUE ESSE DISCO MIÚDO ATRAVESSAH

 

VANDAL NA ERA DA FAKE NEWS…PELO CORRETO…

BY Papuko

Game Life. Uma vida de jogos e batalhas engendradas em meio à turbulenta e desastrosa catástrofe mundial integrada. VANDAL nos traz o EP: VARONILH diante das políticas de morte, do esgotamento, do desmoronamento do socius inscritor (deserto social) dos fantasmas estatais em curso, da crescente quantidade de reacionários que transitam às soltas, aqui e algures, e mesmo de uma decadência do ocidente que se arrasta feito cagado à passos lentos

Alguma coisa, ao menos, com singularidade, para afastar os falsos boatos de que tudo acabou, que é tudo cópia ruim, que tudo chegou ao fim. Demoníaco como poucos nessa estadia coletivizada no inferno, Vanda(lismo) canta a rua nada agasalhadora do soluço e do espanto… “O sangue do Brasil derramado comigo..”

Os becos e vielas apinhados de solidão e miséria, as rugas se debatendo neurastênicas, o aplauso dos medíocres, vira peça (Pegue suas peças!) e ferramenta de expressão, muito além de um romantismo enfadonho de uma cidade aramada em Fake News

Após diversos Singles lançados, emerge com uma obra seminal que alimenta a música de trincheira, frente às falsificações e modelos tediosos que inundam o charco da internet…e lança um bardo contra todos e contra ninguém… “Gourmetizaram o rap, gourmetizaram o pagode…O rap é mentiroso, o rap é fictícioVandal rima com os infelizes, com os miseráveis da arte, com as alamedas nada acolhedoras, com sua escrita e voz sui generis, com o perfil de uma cidade em colapso; com as populações aflitas, um terreno de mancha carmim, donde…“A cor do sangue é tão vermelho, que chega as vistas dói”

Travessas, ruelas, da Cidade-nova ao desejo em rios de vermelho, do crime ao medo e delírio, muito aquém de Las Vegas, e, também, metamorfosea da língua (gagueira na linguagem!), trilhos de uma argamassa de calçamento sangrento, em todos os terrenos, inimigos imperceptíveis que são combatidos, arquitetado na proliferação da sociedade imperial de controle…“a minha crise é motivacional”

Em três e mil linhas: VARONILH, VULTUREH e NOVAH SALVADORH PARTH II, uma potência e peculiaridade que se fazem ver na campanha gráfica, diferentemente da campanha política que colou nos muros muito mais desgraça que amor…na contracorrente, de verdade, larga o flow… “Eu ganhei mais amor que desgraça”

Vandal criador de micronarrativas, como essas que pululam dos lambes que o pluriartista cola por toda cidade no freestyle, liberto das amarras do palco, cartazes com a sua imagem rivalizando com as outras de cartazes dos políticos partidos; rostidade zero, mãos na boca – como se aquilo que querem calar, é justo o aquilo mesmo que fala mais alto, pelos quatro cantos da $alcity…

Um pós-rapper emergindo das entranhas citadinas, forte e arruinado; confiante e nunca esquecido; tranquilo e inseguro quanto aos pés sanguinolentos, e que apesar dos afetos tristes, de ter que atravessar uma geopolítica da fome, os golpes duros e quase certeiros, sabe muito bem que deve conquistar em cada encruzilhada uma grande saúde, uma vida (cri)ativa, com intensa atividade espiritual  Rhythm and Poetry…Eis o que pode um uma canção de “muita verdade e pouca emoção”, longe de um lamento diáfano, em uníssono e desinteressante – um descolamento de quadril, de fronteiras, um corpo-cérebro em plena atividade pela pista, e que em nada se compara com a grandiosidade de inventar regiões falidas, lamúrias, gritinhos roucos e segredinhos encardidos…

Após n Singles que sobrenadam na lama urbana, uma obrapráxis como causa sui (causa de si mesmo), que (re)alimenta as praças com a energia de um megafone de barricada. Um contorno de olhar e falas estereotipadas, vadiação instável, descontínua, indefinida, entre as multidões e restos de vidas anônimas, zignow no discurso das identidades forjadas, da brasilidade abjeta; da esmola dos trópicos, do decalque que deu a esse lugar um desenho sinistro…“E eu guerreando pra morrer mais tarde”

Seu disco miúdo é um ganhei-perdi frente aos graúdos que se encontram na profundidade da urbes, atolados até o pescoço em repetições trágicas e farsantes, no engodo de uma invenção recente, tão afundados e em altura quanto o céu dos céus e o oco da terra…

Vagabundo sim! – “Só quero o que é meu nessa fauna”  – em busca de uma superfície suave para deslizar, com uma face voltada para as coisas (os acontecimentos propriamente ditos) e outra para o sentido das coisas, no intermezzo, surfa com prudência em lugar do medo, entre a vadiagem de corpos anômalos e as esquinas esquisitas. Um cuidado ativo… “Pra não ser morto…reaja!”…Por isso mesmo todos os olhos atentos nesse grunhido contra a gleba tradicionalista, celebrativa e triunfalista…Um estrangeiro em seu próprio canto…Vandal é Roof Top, tartamudez nessa governamentabilidade abjeta, canta e grafita no alto das torres, os que sofrem com uma tal ingente fascinação – “bala e fogo” – se esfolando, atravessesando o deserto, encontrando maltas numa vastidão depauperada, inclusive e, sobretudo, vazando dos desavisados que clamam por bestialidades…

Nessas coisas e palavras, ao invés de atualizar um lugarejo…transpiração, trabalho, atenção, insistência. Quase anônimo (figura underground), cola em qualquer quebrada, no acidente da parede branca, no frame da discórdia, do disparate, os espinhos que tangem todas as flores murchas do mundo, todas as vida em comum, um consenso de roseiral… “Cada buquê de rosa é uma mentira e eu joguei no lixo.”

Um som atordoante que sai da alma do osso da multidãocongestão nos cretinos após o almoço nuSua arte é de lobo faminto…como um ‘cinemavivo’ que luta para fugir do insosso écran dos mesquinhos – panorama de meios codificados – e que se faz, pouco a pouco, conspiração de grupelho frente aos catalogados inatuais no trajeto nômade, esse saco de conjuntos não homogêneos…

Recado aos defensores do decoro e das forças reativas de conservação, encarnamos bandos, um enxame, uma matilha, uma multidão tremeluzente…Vida/obra de arte, pequena e múltipla, toque de densidade e textura, como quem diz do alto da Torre Eiffel: La mutiplicité il faut le faire – A multiplicidade é algo que devemos fazer… e os que fazem funcionar juntos, qualquer coisa… já fazem.

Você (quem quer que seja) se não gostou…parta!, só não se atreva a falar em nome de um protocolo de experimentação, sobretudo, enquanto não tiver feito isto ou aquilo, se não tiver atravessado feito barco bêbado um oceano de inverdades, com a superfície da sua própria pele queimando, enquanto não tiver visto isto ou aquilo com um fagulha de loucura, não tiver montado uma máquina de corte intensiva contra tudo aquilo que embrutece a vida… “Não existe porta abertaa guerra ainda não acabou”

Uma canção de amor sim… justo porque canta o desejo de que os derrotados possam atravessar esse longuinário de horror, superar o colapso da anti-modernização, e quiçá, ultrapassem o capricho dos culturetes, microfascistas extremistas (quem quer o que seja) com a força de um murmúrio… Uma Hermenêutica do sujeito – – experimentação da própria vida enquanto arte – e porque não, diante do imponderável, ser mais um vulcão? A expressão de conteúdo desértica de seus versos corre com funções de provisão, de deslocamento, de evasão e de ruptura…um iconoclasta quebrador das vacilações ecumênicas absolutamente locais…

Vandal canta como escrevinha Maurice Blanchot: “A coragem é aceitar fugir, em vez de viver sossegada e hipocritamente em falsos refúgios.” …por isso, poucos há que não ame sem odiar a um só tempo – essa flor espinhosa nascida nas sarjetas, sonho perpétuo de riso e lágrima, poesia latina tatuada no peito…alma encantadora do anima das ruas… Video meliora provoque sequor deteriora…Vejo o melhor e aprovo, mas faço sempre o pior…

Esse pequeno EP faz-se chá de quebra-pedra nos quartzos indigestos que roncam na barriga coletiva dessa Baía sem H., atravessa o escamoteado, escondido, invisibilizado das coisas; os efeitos mesmo de práticas terrificantes. Virando, a cada curva, o gatilho contra a inércia; máquina de guerra e vento de viração, segue um barco desgovernado em direção à uma nova maneira de sentir, produzir, exibir e distribuir a ars polytica… Suas afetações ativas lembram algo como aquela criança de Heráclito, que entre a força plasmadora do universo e o headshot, prefere o tiro do desmanche…assentar pedras aqui e ali, construir montes de areia e voltar a derrubá-los em outro instante qualquer…

A música-pensamento quando posta em conexão com o devir-escritor – é sim – torna-se um real modo de resistência e revide, certamente um inventário de diferenças frente ao bom senso e senso comum – es – trata-se de uma viagem imóvel, fuga sem sair do lugar…

E para que não pareça, tudo-nada disso, um “pagar pau”, já cortamos qualquer tronco edipianizado… falha na garganta…trocamos o… O que se quer com isso? para um… Como isso funciona? Funciona! Sabemos, alguns, que é só aliança e contágio que estão em jogo, sem familiarismos, somente atenção à agonistíca de alta tecnologia que emerge da perifa…Só existe a conquista do fora…“Levanta e anda minha nova salvador, levanta e anda que a favela ainda não conquistou!…Abre-se uma janela de (im)possibilidades para outros perceptos, como acertadamente intuiu o anárquico, atual e virtual Bakunin, “(…)a paixão por destruir é também uma paixão criativa!”…O desejo, ali e cá, de um povo ambulante, de revezadores… em lugar de uma cambiante de cidade-modelo-modinha…

As faixas seguem rumo no mapa que se abre, e consiste em acompanhar os processos que compõem o desejo político no campo social: heterogeneidade; efemeridade; multiplicidade, encruzilhadas, e um caráter processual da arte de fronteira – arte híbrida –  dando visibilidade a uma série de questões que se encontram dispersas entre a estranheza cadavérica e os circuitos eletrônicos, fazendo circular dados ainda não anotados, provocando situações de incomunicabilidade nos planos da “música de gabinete”

Isso não é rap! Do que estamos falando? Trata-se de um ronco na cidade, um tilintar de paisagem existencial para a cena projetada e colada nos postes… Talvez um pequeno traçado de um monde renversé (mundo às avessas) – Esperamos que isso chegue das Antilhas à Antiga França! – onde as coisas estão invertidas, ou simplesmente funcionando sob lógica nenhuma. Segue com essas cenas, acontecimentos, furores, e as forças que atravessam e constituem o presente com os discursos da/sobre/com a cidade em sua (i)materialidade, atento para a micro, macro e necropolítica…

“A minha experimentação é viva… Não ouço boatos!”… justo aquela/esta que contém no plano de composição, a essência de uma guerra sem inimigos íntimos, sem rosto, uma linha de ferro e fogo no sistema, como se as balas da arma/microfone estivessem já disparadas, e todos os alvos pré-abatidos…

Há um “eu sinto” nos bits… O que falta é um povo!… De resto, não há nada mais a falar nesse despovoado que cresce em notas dissonantes!”… talvez ir em busca do sol da meia noite… “O gangue frontline, terra prometida…eu tô voando com meu povo…”

Isto não é um release!…é algo a mais e a menos – justamente porque somamos com os que pegam a visão e subtraímos qualquer resquício de poderzinho dos sem visão – “Os donos do mundo não dormem no escuro da noite!” – entoa um inominável em meio a tantos bipolarismos, joga conosco um bardo esquizoide na cidade-lama, e alimenta a nossa escritura, canto para os bandos e matilhas, energia/apetite em movimento caosmótico, esta nova maneira de produzir e pensar outros modos de confecção…voz/escuta pensante… VANDAL, pelo correto, tal como um ‘experimento vivo de vadiação’ está no limiar ótimo de potência… sua voz vagabunda enche de lágrimas os olhos dos mais frios, pois ele sabe que o sol enganador, o falso calor por essas plagas só produz suor… é muito mais frio que a calorenta patagônia… A antiga atividade vence o frio e inatividade o calor… de resto… tudo morno… Fecho lá!

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