Vandal Ladrão De Faixas – De Intruh Até Criminologia!

Vandal Ladrão de Faixa, é uma das expressões que mais temos visto nos últimos meses, sempre que algum som com o rapper em questão é lançado!

Vandal dentro do post

 

Ao longo dos últimos anos, consistência talvez seja a palavra que melhor defina a caminhada de Vandal, rapper baiano, dentro da cena musical de Salvador. Encabeçando uma banca fortíssima como a UGangue, junto a Russo Passapusso e o Baiana System, sua trajetória vem colada com o povo, filho verdadeiro da rua. Não é nenhum exagero afirmar que hoje Vandal possui o público mais vidrado da cidade, seja na CBX, na cidade alta ou mesmo no bairro da Graça. 

O ano de 2017 tem sido de muitas conquistas, apresentações marcantes por diversos shows no Brasil, mas também apresentações históricas no Festival de Verão de Salvador e no último Lollapalooza. O mano começou no primeiro dia do ano lançando o pesado clip de “Intruh“, música presente em sua primeira mixtape, que tivemos o prazer de resenhar aqui. E nessa caminhada de primeiro semestre houveram muitas participações, com rappers de Salvador e de São Paulo, fruto do rolê que o mano deu recentemente na terra da Garoa.

Destacando-se com a qualidade lírica, com a verdade prática e a presença de espírito que o seu público cativo já conhece, Vandal tem roubado a cena de suas participações, com uma disposição tirada do poço dos seus esforços. Numa luta imensa pra vencer a barreira do regional que insiste, por diversos motivos, em se fazer intransponível. Numa produtividade ninja, o rapper tem cortado os beats com as dores, confusões e certezas que carrega em sua alma, o mano vem deixando muito explicito que não tá pra brincadeira.

Preparamos aqui um portfólio parcial desses lançamentos feitos nesse primeiro semestre, alguns já noticiados aqui mesmo no Oganpazan. Duas tracks em videoclipes solo e participações que passaram a ser compartilhadas em timelines de facebook com a hashtag #Ladrãodefaixa. 

Vandal começou o ano largando exatamente no seu primeiro dia de 2017, esse clip de uma música que já é um hino em suas apresentações. Quem já teve o prazer de bater cabeça em rodas que se abrem em sua face mais hardcore durante seus shows, sabe muito bem do que estamos falando. No vídeo, churrasco e aquela vodka esperta, rolê de favela, ambiente hostil para quem lá só enxerga suas faces mais degradantes. Vandal com seu trabalho nos traz em suas músicas, uma mistura de sua agressividade e muita experimentação com diversos ritmos. Uma tradução lírica em alta potência, flertando com diversos ritmos e influências, mas sempre falando em nome de um povo. Povo esse porvir, que só será possível através de muita luta e uma eminente tomada de consciência.

Ironia pesada, violência poética, imagens e palavras reais sem antes deixar de avisar em alto em bom som:

Caralho, tava parado vendo vocês produzir, mas agora eu quero o trono, tipo Kayne West e Jay-Z. Olha pra mim eu quero o mundo igual você, mas se eu não conseguir, aviso alguém vai se fuder.

No mês da rainha Iemanjá, o rapper é flagrado nas noites do bairro do Rio Vermelho, palco de muitos dos shows de rap da city, mas também local tradicional da festa em homenagem a rainha do mar. Dessa vez, asfalto e caminhada em homenagem aos que já partiram, mas também em louvor dos que estão junto e fortaleceram nas dificuldades. Lealdade em primeiro lugar, V de vingança em segundo lugar. Dizkordiah é uma música inédita que o mano Vandal lançou esse ano e assim como o clipe de Intruh, a produção das imagens é da Freemode

Percebemos facilmente as influências audiovisuais das cenas do Drill produzido em Chicago e do Grime Londrino, numa tradução e apropriada ao nosso cenário local. Aconselhamos que vocês se escrevam no canal da Freemode para outros vídeos insanos como esse.

Um dos aspectos muito interessantes na escrita do rapper baiano, é a sintaxe que o mano cria, talvez mais importante do que suas rimas seja o modo como o mesmo encadeia as palavras dentro de suas sentenças. Forma e conteúdo vinculados de um modo muito ímpar, utilizando a linguagem cotidiana dos nossos guetos em construções muito singulares. Sem dicionário, sem gramática normativa, autodidata da vida, poeta das ruas, geógrafo das palavras!

O mês de abril chegou rico em participações e começou nesse clipe que abriu os trabalhos audiovisuais pro novo disco do grupo baiano Saca Só. Com produção da grande Camila Mota/João Vieira e dividindo os vocais com o mano Gurih e Big Smoke, Vandal chegou pesado demais nesse feat.

Já resenhamos essa pequena pérola quando do seu lançamento, mas elencamos aqui pra quem se perdeu na correria! Sobre essa produção e seu contexto, saca aqui.

Um dia depois veio a luz o começo das produções feitas pelo Vandal em sua passagem pela terra da Garoa, num feat com o rapper Febem (ZRM), no clipe da música Pega Visão. O clipe que contou com a direção de Bruno Cabral e a produção executiva da CEIA Ent. & da Beatwise Rec. nos chegou comum numa pegada bastante ímpar. 

Num cenário escuro, dentro de uma garagem, os rappers rimam sobre Pegar a visão, num jogo muito interessante e engraçado entre o conteúdo da música e as imagens. Focalizados entre a luz e a sombra versando sobre relações amorosas enganosas onde como Febem rima: “Pique rei no primeiro capítulo, mas calabouço será o fim do livro“.

Vandal utiliza um recurso muito bacana nesse feat, enquanto Febem “narra” o que seria o desenrolar dessa relação do iludido, o rapper baiano, nos lembra o Bezerra Da Silva e suas analogias satíricas sobre homens traídos. Propondo construções muito engraçadas que ora ressaltam a “Madalena desbaratinada” ora o sabichão enganado. Mostrando muita versatilidade na hora de compor e utilizando um recurso pouco visto nas construções poéticas dentro do rap, alternando ainda a primeira e a terceira pessoa nos sujeitos das frases.

“Ele comprava de graça, pedia troco pra ver se colava. Ele falava falava falava, wordplay é jogo de palavras. Várias ideias forjadas, ele matava mas nunca enterrava. Ele roubava mas nunca levava. Ele sonhava mas nunca acordava!”

https://www.youtube.com/watch?v=j_1sakaPZ-g

Outra porrada tamanho família veio a luz nesse single duplo lançado por um dos melhores nomes da nova geração do rap nacional. Mobb chamou seu parceiro do D.D.H.(Direto do Hospício), Baco Exu do Blues, o mano DOISAS e Vandal. E esse é outro lançamento que tivemos o prazer de resenhar na época de seu lançamento, veja aqui.

E nessa sua participação o mais velho desse bando produziu rimas muito pesadas e homicidas, como uma espécie de chefe da matilha que precisa deixar claro pros lobos mais novos qual sua posição no jogo. Um rápida e real descrição de sua formação e de suas ideias estéticas dentro do rap, como o mesmo diz: “Sonho de vida, vida criada.”

Por falar em matilha, o mano Correria aterrissou diretamente de São Paulo em sua cidade natal e convocou um bonde pesadíssimo da cena do rap Ba pra fechar com ele nessa track. Vida Real é um retrato fidedigno da real grandeza do rap baiano, representantes da Back To Back, FME, Oldisgraça e UGangue juntos disparando porrada, tiro e bomba pra tudo que é lado. Makonnen Tafari, Lukas Kintê, Baco Exu du Blues, Correria, Ravi Lobo (Nova Era) e Vandal compõem esse time pesado em rimas insanas, com uma exuberância de técnicas e temáticas que pulam aos olhos e ouvidos da audiência. 

A track que teve produção de Evandro Cesar, masterização de Dj Cia (RZO) e um clipe dirigido por Walter de Abreu, chamou atenção nacional. E é nesse cenário de excelência que mais uma vez Vandal se destacou com uma participação mega agressiva. 

Os temas se repetem sempre diferentes a cada barra composta pelo rapper, se você estiver atento verá que Vandal faz referência ao manos acima citados, da família Estilo Solto. A critica ao sonho mole, sempre em busca de algo que não chega, presente no verso da música com Febem e com Mobb. Ao mesmo tempo que traz novas ideias e brinca com antíteses, prestenção:

“Referência de verdade cê não vivi, nada é, sou Itamar Assumpção, sou Jards Macalé. Foda-se Nietzsche, vim pra quebrar estátuas, eu nunca li um livro, minha vida é autodidata.”

Pra finalizar esse retrato fragmentado do primeiro semestre desse mano, uma peça quentinha saída do forno ontem. Mas um fruto do rolê que Vandal deu em SP, aliás, super produtivo. Lançada pelo canal do Haikaiss, a faixa reúne varias cabeças caras da city cinzenta: Vitinho RB, Big da Godoy, JR RDG, Boy Killa, Vandal & Spinardi, nessa ordem. Colocando desordem nas ideias falsas de rua, montando um quadro potente nessa união DMC, Teey e UGangue.

The Criminologia tem produção de William, mix de André Nine, master de Brendan Duffey e o clipe da faixa conta com a direção de Murilo Guerrero. Um trap pesado com os manos disparando rimas num rolê pela city. Acreditamos que não precisamos nem ressaltar o nível dos presentes na faixa.

E novamente Vandal deixa seu recado com muita competência e originalidade, como falamos acima, utilizando uma sintaxe que brinca com a repetição das palavras e ao mesmo tempo trocando essas mesmas palavras de lugar. Produzindo um sentido forte para ideias já repetidas a exaustão.

“Quem diria verso a verso, Criminologia. Nós na pista todo dia, Criminologia. Tá no laço auto retrato, semelhante minha. Amo a Guerra, minha e sua, sua sua e minha, Cada quebra sua favela se parece a minha. Cada rosto sua família se parece a minha. Defendendo minha cultura sua sua e minha. Bala e Fogo/ Aço e Rima/ Bala Aço e Rima.”

Quem acompanha a caminhada do mano Vandal sabe que esse artista vem construindo sua estrada com muito suor e talento. Desgovernado, experimentador, violento, calado, olhos inquiridores, leal, escorregadio, verdadeiro. É um artista que vem abrindo espaço na marra, com shows incendiários, numa presença de palco ímpar e produções musicais em alto nível técnico. Aqui temos apenas um retrato meio embaçado nas palavras escritas, porém muito claro nas músicas elencadas.

O poeta geógrafo tem bastante consistência e vem passeando seja como Vandal do Capão, seja pela sua primeira opção, nas cidades dentro da Cidade sempre Nova de Salvador. Não importa se a neve de Buenos Aires cai com força. O mano vive a guerra cotidiana das Malvinas em busca do Bairro da Paz, como um arquiteto daqueles que brotam em todas as favelas parecidas desse Brasil. Mas com a força de vontade e o talento pra planejar várias cidades TipoLazVegazH. Aqui temos apenas um cartão postal.

Articles You Might Like

Share This Article